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Sexualidade

A pílula do homem | Artigo

Os remédios contra impotência melhoraram a vida de muitos homens para melhor. Mas será que todos podem fazer uso do medicamento?
Publicado em 18/04/2011
Revisado em 29/03/2021

Os remédios contra impotência melhoraram a vida de muitos homens para melhor. Mas será que todos podem fazer uso do medicamento?

 

Nada assusta um homem como a fatalidade da impotência.

O medo de falhar no momento crucial paira sobre nossas cabeças como espada de Dâmocles, da primeira à última relação sexual que manteremos na vida.

Para haver ereção, é preciso ativar neurônios em várias estações cerebrais. Cada estação controla uma função específica no tráfego de informações: estímulos visuais, cheiro, paladar, sons, emoção, coordenação motora, reconhecimento do olhar, tomada de decisão e uma infinidade de sensações captadas pelo sistema de sintonia fina cerebral.

Como consequência da ação integrada desses centros, quando um homem se aproxima da pessoa objeto de seu desejo, são liberados mediadores químicos que caem na circulação e chegam ao pênis. Mais precisamente, aos corpos cavernosos.

Os corpos cavernosos são duas estruturas cilíndricas que percorrem o órgão de ponta a ponta. Seu interior é constituído por um emaranhado de pequenos vasos sanguíneos, que lhes conferem a consistência de esponja. Quando se enchem, o pênis endurece; caso contrário, fica mole. O pênis é um órgão vascular.

Para encher de sangue os corpos cavernosos, esses pequenos vasos precisam aumentar de calibre. Para fazê-lo, relaxam a musculatura de suas paredes. Um mediador químico essencial nesse momento é o óxido nítrico. Sem ele, não há esperança.

Nos anos 1990, pesquisadores que trabalhavam com drogas vasodilatadoras para o coração, descobriram que uma delas, o sildenafil, curiosamente melhorava o desempenho sexual dos que a ingeriam.

Para obter os direitos de comercialização, foram estudados mais de três mil homens com dificuldade de ereção por causas orgânicas (diabete, paralisia medular, cirurgia de próstata), psicogênicas (depressão) ou ambas. Os autores compararam o número de ereções obtidas, o grau de rigidez peniana, orgasmo e satisfação sexual entre os que tomavam sildenafil e os que recebiam placebo (pílula inerte, idêntica à outra).

Dos 268 diabéticos, apresentaram ereções mais convincentes 10% dos que receberam placebo – contra 57% no grupo tratado. Entre 178 portadores de lesões na medula espinhal, esse número aumentou de 12% no grupo-placebo para 83% nos tratados. Nos 151 casos de depressão, de 18% para 76%.

A medicação apresentou efeitos colaterais discretos e limitados ao tempo de ação farmacológica da dose ingerida. Em 3700 usuários que tomaram doses de 25mg a 100 mg, surgiram os seguintes sintomas: dor de cabeça (16%), rubor facial (10%), desconforto digestivo (7%), congestão nasal (4%), alteração visual na percepção de cor e aumento de sensibilidade à luz em 3% dos casos.

É evidente que um medicamento com essa relação custo-benefício teria sucesso comercial. Sucesso merecido! Trata-se da primeira de uma geração futura de drogas que libertará os homens do fantasma da ereção. Seu impacto na sexualidade masculina será comparável ao da pílula anticoncepcional, que livrou as mulheres da preocupação constante com a gravidez.

Com a revogação da obrigatoriedade de receita médica, as vendas de sildenafil explodiram nas farmácias brasileiras.

Do senhor de idade em busca da virilidade perdida ao menino de dezoito anos que faz uso recreacional, cada vez mais gente toma a droga. Diante dessa realidade, é questão de saúde pública conhecer as virtudes e pecados do sildenafil.

Vamos começar pelas mortes. De março a novembro de 1988, foram aviadas seis milhões de receitas de sildenafil nos Estados Unidos. Nesse período, foi possível identificar 136 mortes por ataque cardíaco possivelmente associadas à droga.

A maior parte desses homens sofria do coração. É estimado que o risco entre pessoas saudáveis seja de uma morte para cada milhão de usuários. Talvez menor do que o risco de atravessar uma rua movimentada.

Portadores de doenças na retina precisam tomar cuidados adicionais: exames periódicos da visão. A droga age numa enzima presente na retina. Mas, não há casos descritos de alterações visuais permanentes.

Há dezesseis relatos de hipotensão e morte em pacientes que fizeram uso concomitante de sildenafil e nitratos para o coração.

Os nitratos são utilizados em diversas pastilhas para colocar embaixo da língua nas crises de dor no peito.

Na falta de recomendações brasileiras, os cardíacos interessados em tomar sildenafil devem seguir os conselhos da Associação Americana de Cardiologia:

1) Está absolutamente contra-indicado o uso em homens que tomaram nitratos de curta ou longa duração. Todos devem estar cientes dos riscos cardíacos assumidos ao tomar sildenafil 24 horas antes ou depois do nitrato;

2) Nos casos de doença cardíaca estável, consultar o cardiologista é a primeira medida a ser tomada. Teste de esteira é recomendado para todo cardíaco antes de iniciar o sildenafil para avaliar o risco de isquemia coronariana durante o esforço do ato sexual;

3) Os cardíacos que apresentam pressão arterial no limite da normalidade e os pacientes submetidos a esquemas complicados para controlar hipertensão devem medir a pressão arterial antes e uma hora depois de ingerir o comprimido de sildenafil.

Até onde se sabe, os demais podem tomar com boa margem de segurança doses que variam de 25mg a 100 mg, de acordo com a qualidade da ereção obtida e a intensidade dos efeitos colaterais. A absorção se dá melhor com o estômago vazio, e o pico de concentração no sangue é atingido em 30 a 120 minutos – em média, 60 minutos. O efeito dura cerca de quatro horas.

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