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Psiquiatria

Esgotamento mental nem sempre é burnout

mulher sentada à mesa da cozinha, com mão nas têmporas, em sinal de esgotamento mental e burnout
Publicado em 02/09/2022
Revisado em 08/09/2022

Síndrome relacionada ao esgotamento no trabalho se tornou popular nos últimos anos, mas a sensação de desgaste físico e emocional nem sempre tem a ver com a atividade laboral. Saiba como reconhecer a diferença entre esgotamento mental e burnout.

 

Os dois anos da pandemia têm cobrado o seu preço das mais diferentes maneiras, seja através das sequelas físicas, seja através das sequelas emocionais causadas pelo estresse geral de uma crise global que ainda custa a se despedir. Dessa forma, o esgotamento se tornou uma constante em nossa vida, como destaca o dr. David Paliari Zuin, endocrinologista e nutrólogo no Hospital São Francisco, em Mogi Guaçu (SP). 

“O isolamento social, a convivência intensa com o núcleo familiar, a privação das oportunidades de lazer e as mudanças de rotina provocadas pela pandemia da covid-19 intensificaram os quadros de ansiedade, estresse e depressão; bem como as pressões no ambiente laboral, familiar e social. E um dos problemas é que muitos desses hábitos se perpetuaram após a pandemia, o que serve de alerta para toda comunidade que lida com a saúde.”

        Veja também: Estafa mental | Fernando Gomes

 

Burnout X Exaustão

Sentir-se esgotado se tornou algo tão frequente que, muitas vezes, acaba sendo confundido com outra condição ligada ao estresse excessivo, a síndrome de burnout. 

Mas dá para saber o que é burnout e o que é o esgotamento “comum”? Sim, e essa diferenciação é importante tanto para a compreensão da origem do estresse e da exaustão quanto para o tratamento em questão. 

A principal delas é que a síndrome de burnout está sempre relacionada ao contexto de trabalho. Ou seja, é um estresse crônico que tem sua origem em um ambiente de trabalho mal gerenciado, que acaba se tornando nocivo para os colaboradores. Os sintomas podem ser semelhantes:

  • Agressividade;
  • Isolamento;
  • Mudanças bruscas de humor;
  • Irritabilidade;
  • Dificuldade de concentração;
  • Lapsos de memória;
  • Ansiedade;
  • Depressão;
  • Pessimismo;
  • Baixa autoestima;
  • Ausências no trabalho.

Outro ponto de distinção é que, na síndrome de burnout, alguns sintomas também podem se manifestar especificamente diante de situações ligadas ao trabalho, como o aumento do distanciamento mental do serviço, o negativismo relacionado com o trabalho de alguém, a redução da eficiência profissional, crises de ansiedade em horários que antecedem o expediente etc. 

É o que diz o dr. Zuin. “A síndrome de burnout é o resultado direto do acúmulo excessivo de estresse, de tensão emocional e de trabalho, e é bastante comum em profissionais que trabalham sob pressão constante, como professores, profissionais de saúde e agentes de segurança. Quando o fator estressor é outro – que não o laboral –, estamos diante de outro tipo de exaustão física e mental.”

        Veja também: Burnout: Como reconhecer os sintomas? | Animação #40

 

Como saber se estou exausto?

É impossível viver uma vida sem estresse. Dessa forma, como saber quando os níveis de tensão começam a passar do limite, tornando-se algo que pode ser prejudicial para a saúde? 

“O conceito de exaustão está, intimamente, ligado ao conceito de estresse. O estresse é dividido em três níveis, chamados de alerta, reestruturação e, por fim, exaustão, que corresponde à fase em que o indivíduo já apresenta pensamentos negativos, falta de vontade de fazer as coisas, perda de sono, ansiedade acentuada, irritabilidade, entre outras características físicas como alergias, gastrites e enxaqueca”, explica o especialista. 

Como mencionamos acima, os sintomas são semelhantes ao da síndrome de burnout, e podem ser divididos entre dois grupos principais, de manifestações físicas ou mentais. 

Sintomas da exaustão mental:

  • Cansaço persistente;
  • Dificuldade de concentração;
  • Falha de memória;
  • Insônia ou excesso de sono;
  • Perda de habilidades que antes eram naturais;
  • Ansiedade;
  • Suor frio;
  • Irritabilidade e choro fácil;
  • Desânimo e falta de prazer;
  • Tristeza e angústia;
  • Redução do desejo sexual.

Sintomas da exaustão física:

  • Dores musculares por todo o corpo;
  • Apatia;
  • Desmotivação e desânimo;
  • Gripes e resfriados constantes causados pela baixa resistência imunológica;
  • Palpitações cardíacas;
  • Problemas estomacais;
  • Diminuição do desejo sexual;
  • Distensão muscular;
  • Cansaço persistente;
  • Sono não reparador.

 

Tratamento para o estresse

De acordo com um artigo publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), altos níveis de estresse afetam diretamente o nosso sistema imunológico, como esclarece o dr. David.

“O estresse está relacionado a mudanças nos números de linfócitos presentes na corrente sanguínea, células que fazem parte do sistema imunológico e que são responsáveis pela destruição de micro-organismos invasores, como bactérias e vírus. Nesse sentido, o estresse constante favorece o surgimento de diversas doenças.”

Ao perceber os sinais do corpo, o ideal é procurar um médico para entender melhor o que está por trás do abatimento físico e mental. Outro ponto fundamental é estar consciente de que a melhor forma de diminuir o estresse não é através do uso de medicamentos, mas sim de mudanças efetivas no estilo de vida.  

“Para além do tratamento medicamentoso puro e simples, uma rede de apoio que inclua amigos, familiares e colegas de trabalho fazem um trabalho importante, ajudando o paciente a entender que pode precisar de ajuda para superar suas dificuldades. Um psicólogo ou psiquiatra consegue realizar o diagnóstico preciso de exaustão física e mental, síndrome de burnout, depressão e/ou ansiedade por meio de diálogo, que envolve a análise do histórico e do relato do paciente, sua relação com o trabalho e a realização profissional”, completa o médico. 

        Ouça: DrauzioCast #152 | Memória e excesso de estímulos

 

Prevenção

Mais eficaz do que tratar o estresse é estar atento para que ele não ultrapasse os limites aceitáveis. Alguns hábitos podem ajudar, como:

  • Ter uma alimentação equilibrada;
  • Incluir atividades físicas regulares na rotina, como, por ex., preferir escadas a elevadores;
  • Praticar uma correta higiene do sono;
  • Quando possível, reservar um tempo para o lazer e o descanso;
  • Evitar descontar o estresse no consumo de álcool, drogas e estimulantes;

Até mesmo ouvir aquele conselho de um amigo ou familiar que lhe diz para desacelerar pode ser benéfico. 

“Muitas vezes, pessoas com exaustão sequer percebem que estão indo além da conta. Procure ajuda profissional mesmo se achar que seus sintomas não são tão graves. O médico fará uma avaliação individualizada e pormenorizada, assim poderá orientá-lo para que o quadro não evolua até um cenário de burnout, ansiedade ou depressão de fato, onde será preciso ainda mais cuidado e tratamento para recuperação”, orienta o dr. Zuin. 

        Veja também: Por que o trabalho remoto causa tanto cansaço mental?

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