Cuidador, quem cuida da sua saúde mental?

Ao se dedicar a outra pessoa, o cuidador também precisa olhar com atenção para o próprio equilíbrio psicológico e emocional. Veja dicas.

Atentar-se para a própria saúde mental é o primeiro passo antes de se responsabilizar pelo outro. Veja dicas para garantir o bem-estar emocional dos cuidadores.

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Publicado em: 5 de abril de 2022

Revisado em: 5 de abril de 2022

Atentar-se para a própria saúde mental é o primeiro passo antes de se responsabilizar pelo outro. Veja dicas para garantir o bem-estar emocional dos cuidadores.

 

Levar no médico, dar banho, preparar a comida, levantar durante a noite para ver se está tudo bem… Essas tarefas podem parecer comuns quando se trata de um bebê, mas a situação muda de figura quando o foco do cuidado é o pai, a mãe ou algum parente próximo.

No Brasil, existem três tipos de cuidadores: os familiares que tomam para si a responsabilidade de cuidar daqueles que amam; os trabalhadores que assumem esse papel para tentar driblar o desemprego; e os cuidadores profissionais capacitados para o cuidado. Nos três casos, a sobrecarga é uma constante.

Noites maldormidas, estresse e medo são algumas das principais queixas de quem cuida. Na pandemia, o cenário se agravou: uma pesquisa global da Embracing Carers envolvendo 755 cuidadores não remunerados no Brasil mostrou que, em 2020, os brasileiros passaram 25,1 horas por semana prestando cuidados, quase duas horas a mais do que a média do restante do mundo. 

Entre as principais responsabilidades, enfrentadas pela primeira vez por 22% dos entrevistados, estão a de gerenciar medicamentos e consultas médicas e fornecer apoio emocional ao paciente. Por outro lado, quem garante a saúde mental dos cuidadores?

“A sociedade, de uma maneira geral, tem na cabeça que cuidar do outro é só auxiliar nas atividades da vida diária: dar banho, dar comida e trocar fralda. Mas o cuidado vai muito além disso. Envolve dimensões sociais, emocionais, familiares e espirituais”, detalha Gleice Vellozo, psicóloga, gerontóloga e membro da Comissão Permanente de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa na Câmara Municipal de Juiz de Fora, em Minas Gerais.  

Não por coincidência, a concentração de tantos papéis em uma única pessoa leva a um esgotamento sem precedentes. Com a pandemia, 57% dos cuidadores brasileiros relataram piora no bem-estar físico, 68% se mostraram preocupados com a questão financeira e 70% mencionaram prejuízos na saúde mental.

Como o cuidador pode cuidar de si mesmo?

Até 2050, a expectativa da Organização Mundial da Saúde é que a quantidade de brasileiros com 60 anos chegue a 90 milhões. “A sociedade está vivenciando uma grande mudança, porque a longevidade está vindo como um tsunami com todas as questões sociais, emocionais e de saúde. Por outro lado, nós não estamos preparados para cuidar nem para sermos cuidados”, aponta. 

A responsabilidade de cuidar do outro, por mais bem intencionada que seja, pode ser um fardo grande demais se não houver o cuidado consigo mesmo. E esse cuidado pode vir de pequenas mudanças na rotina:

 

Busque informações

“Conhecimento é indispensável para a qualidade de vida, tanto do paciente quanto do seu responsável”, destaca a especialista. Para ela, a primeira coisa que o cuidador deve fazer é procurar informações a respeito da condição daquele que cuida, conversando com o médico para entender qual é a perspectiva a curto, médio e longo prazo.

A ideia é estar preparado para o que está por vir, já que situações inesperadas, como um mal-estar ou uma urgência, podem ser bastante estressantes. 

Atualmente, existem também diversos cursos voltados para cuidadores. Compostos por equipes multidisciplinares, eles oferecem orientações sobre todas as dimensões do cuidado, garantindo o bem-estar e a segurança dos envolvidos. 

Veja também: Como cuidar de parentes idosos: dicas para cuidadores

 

Participe de grupos de apoio

Outra iniciativa voltada para essas pessoas são os grupos de apoio aos cuidadores e familiares de pacientes idosos, acamados, com alguma doença, deficiência física ou condição cognitiva/mental de longo prazo. Geralmente, eles são organizados por associações voltadas para a condição específica, sendo facilmente encontrados em pesquisas pela internet ou conversando com quem passa pela mesma situação.

A Gleice, por exemplo, é membro do grupo de Apoio Social e Emocional aos Familiares das Pessoas com Doença de Alzheimer (ABRAZ/MG). Além de psicólogos como ela, a rede conta com médicos, nutricionistas, fonoaudiólogos e diversos familiares e cuidadores que se ajudam através do WhatsApp e de reuniões mensais. Os assuntos variam: vão desde dicas relacionadas ao dia a dia dos pacientes até desabafos individuais de seus responsáveis.

 

Converse com a família

Muitas vezes, tanto estresse e ansiedade por parte dos cuidadores vem da concentração de responsabilidades em uma única pessoa. Seja porque a família é pequena, porque não há condições financeiras de contratar um cuidador profissional ou mesmo por relutância do familiar, tudo acaba recaindo sobre uma pessoa só.

“Isso causa muito estresse a curto, médio e longo prazo. Todas as atividades sociais serão suprimidas por conta da responsabilidade com o outro. Vai chegar um momento em que o indivíduo não vai dar conta desse cuidado”, alerta a especialista.

Quando a questão é familiar, é preciso haver planejamento e diálogo. Reúna a família e converse, chamando a responsabilidade de todos os envolvidos. Aceite e requisite ajuda para os deveres diários, como realizar as compras ou fazer companhia para o paciente.

Já se o problema for financeiro, é possível acionar a Promotoria do Idoso. “Se, entre vários filhos, apenas um assume o cuidado do idoso, mas não tem recursos para custear todas as despesas, a Promotoria pode acionar o restante da família e solicitar apoio financeiro dentro da possibilidade de cada um”, explica Gleice.

 

Procure seus direitos

Falando nisso, existem vários direitos sociais relacionados ao cuidador que muitos nem conhecem. Segundo o Estatuto do Idoso, por exemplo, cabe aos filhos a responsabilidade de prover a subsistência dos pais quando dependentes. Mas, se o idoso e sua família não tiverem as condições de sustento necessárias, essa função fica a cargo do poder público, que deve assegurar o benefício mensal de 1 salário mínimo. 

Outros gastos em relação ao cuidado, como medicamentos, fraldas, cadeira de rodas e cadeira de banho, também podem ser amenizados através de um processo administrativo. Em caso de dúvidas, busque a Promotoria de Justiça da sua região.

Veja também: Saúde Sem Tabu #13 | Virei cuidador, e agora?

 

Separe um tempo para si mesmo

“Não tem condição de cuidar de alguém 24 horas por dia, sete dias na semana. Você não dá aquilo que não tem”, lembra a psicóloga. Uma das dicas mais importantes para que o cuidador mantenha a saúde física e mental em dia é ter o próprio tempo de lazer.

Atividades sociais, como ver os amigos, passear e conversar sobre outros assuntos que não estejam relacionados ao paciente, são imprescindíveis para equilibrar a mente. A alimentação balanceada, a prática rotineira de exercícios físicos e a manutenção das próprias crenças e espiritualidade também ajudam a encarar a situação de uma forma mais leve.

Estresse do cuidador: como reconhecer?

“O estresse do cuidador ou síndrome de burnout é um estado de exaustão, apatia e desinteresse prolongado, causado pelo excesso de esforço dedicado ao outro. A síndrome está muito ligada aos profissionais de saúde, às pessoas que prestam assistência a outras, e mais recentemente temos visto ligada também aos cuidadores”, explica a psicóloga.

Os principais sintomas são:

  • Tristeza;
  • Vontade constante de chorar;
  • Desinteresse pela vida;
  • Falta de vontade para realizar atividades do dia a dia;
  • Reações de estresse agudo;
  • Agressividade;
  • Consumo abusivo de álcool ou outras substâncias;
  • Episódios depressivos ou de ansiedade;
  • Medo generalizado;
  • Problemas na hora de dormir;
  • Alterações na alimentação;
  • Pensamentos suicidas;
  • Comprometimento das relações sociais.

De acordo com a especialista, ao perceber que esse sofrimento perdura de forma forte e prolongada, o cuidador deve buscar ajuda psicológica imediatamente. “Não deixe para depois. Quanto mais tempo passar, mais difícil vai ser reverter a situação”, alerta.

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Veja também: Burnout: como reconhecer os sinais? | Animação #40

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