DrauzioCast #019 | Fome e evolução

Convivemos com dores crônicas, mas quando o assunto é aguentar a fome…

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Publicado em: 21 de agosto de 2018

Revisado em: 16 de março de 2021

Convivemos com dores crônicas, mas quando o assunto é aguentar a fome…

 

 

 

É mais fácil suportar dores crônicas do que a fome. 40 anos de clínica me ensinaram que geralmente somos patifes para dores agudas de forte intensidade. Vi doentes rolar no chão e suplicar a Deus que se lembrasse deles no auge de uma cólica renal.  Em compensação, muita gente convive com dores crônicas na coluna, cólicas abdominais, episódios repetitivos de enxaqueca sem lamentar a sorte. A persistência do quadro doloroso mobiliza reações incríveis nos organismos que sofrem dele; já com a fome, não é assim.

Quando a fome aperta, o prazer de estar vivo desaparece. A baixa resistência à fome, quando comparada a capacidade de enfrentar a dor, tem raízes evolucionistas. No melhor estilo darwiniano, num mundo de predadores, quem não consegue caçar é predado precocemente e tem menos chances de deixar descendentes.

Como a história da humanidade é uma longa sucessão de epidemias de fome, nossos ancestrais acabaram desenvolvendo alguns recursos para fazer frente às épocas das vacas magras. Dois destes mecanismos de adaptação constituem o grande suplício dos que pretendem perder peso num mundo com oferta abundante de alimentos como o nosso.

Veja também: Buscar prazer na comida é normal; o problema é sentir culpa depois

O primeiro é o retardo da ativação dos circuitos de neurônios que convergem para uma área cerebral considerada o centro da saciedade. Para manter o peso, o ideal seria que esse centro fosse acionado ao ingerirmos a última caloria necessária para cobrir as necessidades energéticas diárias do organismo, e o apetite desaparecesse imediatamente até o dia seguinte — mas isso não acontece. O centro da saciedade demora para ser ativado, e aí nós conseguimos comer o terceiro prato de feijoada.

A segunda armadilha é que a quantidade de energia gasta em repouso varia de um corpo para o outro. Há pessoas que consomem muita energia em repouso; outras, consomem pouco. As primeiras, por esbanjarem calorias, terão mais dificuldade de engordar. As outras, por serem econômicas no consumo, ganharão peso com mais facilidade.

Além de maldizermos nossos pais pelo legado que nos deixaram, aparentemente nada pode ser feito para modificar essa característica genética do equilíbrio energético individual.

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