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DrauzioCast #166 | Dengue e arboviroses

A pandemia de covid-19 monopolizou o sistema de saúde no Brasil e os cuidados com a dengue acabaram sendo deixados de lado. Saiba o que você pode fazer para se proteger.
Publicado em 19/11/2021
Revisado em 26/11/2021

A pandemia de covid-19 monopolizou o sistema de saúde no Brasil e os cuidados com a dengue e outras arboviroses acabaram sendo deixados de lado. Saiba o que você pode fazer para se proteger.

 

A dengue já é considerada uma endemia no Brasil há muitos anos. Em 2020, foram quase 1 milhão de casos confirmados da doença e, com a chegada da covid-19 no país, a prevenção contra o mosquito Aedes aegypti e as arboviroses transmitidas por ele ficou em segundo plano.

Em 2021, a suspeita é de subnotificação de casos, já que muitas pessoas deixaram de ir aos hospitais com medo do Sars-CoV-2. Com o verão chegando, a preocupação aumenta ainda mais. Por isso, o dr. Drauzio recebe a dra. Melissa Barreto Falcão, infectologista da Vigilância Epidemiológica de Feira de Santana/Bahia e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), para falar sobre a atual situação da dengue no Brasil e as formas de se proteger contra o mosquito.

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A dengue afeta a população brasileira há muitos anos. Inclusive, ela é considerada endêmica, que é quando uma doença se torna tão recorrente que as pessoas passam a conviver com ela. Em 2020, o aumento da dengue no nosso país foi tão expressivo, que em um único ano chegou a um milhão de casos confirmados da doença.

Mas por causa da situação pandêmica da Covid-19, o combate a dengue ficou em segundo plano, e muitas pessoas relaxaram os cuidados de prevenção. Sem o esforço de conscientização dos agentes comunitários, por conta das medidas de isolamento, o cenário ficou ainda pior.

Apesar de no primeiro semestre deste ano os números de casos terem caído pela metade, em relação à 2020, a preocupação continua. A suspeita é de subnotificação, já que grande parte da população evitou a ira aos hospitais, por medo da contaminação pela Covid-19.

Mesmo em queda, as taxas da doença continuam altas; em algumas regiões do país, como o Centro-oeste, são quase 500 casos para cada 100 mil habitantes. A situação está longe de ser controlada, ainda mais agora com o verão chegando — justamente a época em que a doença costuma se espalhar.

 

Por isso, pra falar sobre a importância da prevenção completa contra o mosquito da dengue, vamos conversar com a doutora Melissa Barreto Falcão, que é médica infectologista da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde de Feira de Santana, na Bahia, e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia. É um prazer estar aqui com você, Melissa. 

Melissa Barreto Falcão É um prazer estar com você, Doutor Drauzio, e principalmente falar sobre um tema de tanta relevância, como a dengue e as arboviroses no nosso país.

 

A dengue chegou a desaparecer do Brasil porque nós, numa determinada fase, conseguimos acabar com Aedes aegypti, que é o mosquito transmissor. E infelizmente a doença retornou, e agora parece que é impossível a gente acabar com a dengue, porque nós temos que acabar com o mosquito transmissor, não é, Melissa? 

E essa não é uma tarefa fácil nas grandes cidades que nós temos, com esse… com essa ocupação urbana completamente desorganizada, como aconteceu no Brasil, com grande migração das zonas rurais para as cidades — e aí nós temos o reaparecimento da doença e há muitos anos esse número incrível de casos, como o que eu citei no início.

Vamos começar discutindo, Melissa, os tipos de dengue. A dengue não é uma doença única, causada da mesma forma pelo mesmo subtipo de vírus, né?

É, nós temos quatro subtipos de dengue — o dengue 1, dengue 2, dengue 3 e dengue 4 —, isso significa que as pessoas podem pegar dengue até quatro vezes durante a vida, e cada vez que tem uma nova infecção pela dengue, o risco de ter um quadro grave aumenta. 

Então, diferente da zika, diferente da chikungunya, outros arbovírus, você pega uma vez e não pega nunca mais; já a dengue, cada vez que você pega um vírus você fica imune pra esse vírus, mas ainda tem aí outros pra poder se infectar. Então, pode ter dengue até quatro vezes durante a vida. 

 

Independentemente dos quatro tipos diferentes de dengue, a transmissão é a mesma, não é? É pelo Aedes aegypti, não é? Melissa, explica pra nós por que que só o mosquito fêmea — o aedes aegypti fêmea —  transmite a doença — o macho não —?

Isso, a dengue é transmitida pela picada de inseto, no caso o Aedes, e só a fêmea se alimenta com sangue. Tanto o macho como a fêmea se alimentam com a seiva da planta, e quando a fêmea copula, ela precisa do sangue humano pra poder desenvolver os seus ovos. 

Então, cerca de dois dias depois da cópula, ela vai sugar, pra poder desenvolver a seus ovos e acabar pondo, e que vai dar origem às larvas e assim por diante. Então, essa etapa de sugar o sangue é essencial para o desenvolvimento dos ovos do Aedes. 

 

E quando a fêmea não está grávida, de que que ela se alimenta?

Ela se alimenta da mesma coisa que o homem: da seiva de plantas, de coisas doces, de frutas, então ela não se alimenta de sangue humano, são as coisas mais do ambiente mesmo; e a larva se alimenta de dejetos – se alimentam de matérias orgânicas, coisas que estão diluídas na água enquanto estava em desenvolvimento —, e os adultos, as partes da planta e partes da natureza.

 

Melissa, seguramente o mosquito é o animal mais perigoso. Eu fiz uma vez uma matéria no Fantástico que eu perguntava pras pessoas “qual é o animal mais perigoso?” e um falava “é a cobra”, outro dizia “é a onça” e o mais perigoso é um mosquito, né. E é por esse capricho da natureza, né? Pelo fato da fêmea precisar de sangue humano pra poder, pra poder desenvolver, vamos chamar de gravidez, assim, até o final, né? E é aí que os mosquitos transmitem uma série enorme de doenças, né? E no caso da dengue, em que períodos do ano a transmissão é mais comum, Melissa? 

Eu aprendi muito a respeitar e entender esse mosquito aí ao longo da minha vida, como uma infectologista, e agora vamos começar o período do verão, que é o período do ano que tem o maior risco, a maior incidência de todas arboviroses, todas as doenças transmitidas por mosquito, porque o mosquito gosta de água e gosta de calor. 

A gente aqui, como a maior parte do clima sendo tropical no país, praticamente no ano inteiro a gente pode ter a incidência e casos de dengue presente, mas principalmente agora no verão, que aí tem muita água depositada na rua; com o calor, o sol forte faz com que o desenvolvimento dos mosquitos aconteça de uma maneira mais rápida, então acaba tendo o ambiente favorável e a temperatura que vai fazer com que esse desenvolvimento seja acelerado. Então, muitas vezes, o mosquito se desenvolve até o adulto por um período menor do que se fosse no período mais frio ou outra época do ano.

 

E cada mosquito, na verdade, tem determinados hábitos, não é? Por exemplo, o mosquito da malária, transmissor da malária, costuma picar mais no final da tarde. E no caso é do Aedes aegypti, quais são os horários preferenciais? 

É, o Aedes tem o hábito principalmente diurno, ele pica mais durante o início da manhã ou o final da tarde, e essa foi uma grande preocupação agora com a epidemia de Covid, muita gente ficou trabalhando dentro do seu domicílio, dentro de sua casa, em home office, e acabava se descuidando desses cuidados principalmente no período do dia.

Então, temos que usar os repelentes, usar as medidas preventivas já desde o início da manhã, não deve deixar pra noite, pra quando o horário que, como principalmente o culex, né, a muriçoca comum, pica. Mas isso não quer dizer que, por ele ser principalmente com hábitos diurnos, ele não vá picar à noite; caso ele tenha a necessidade, não tenha se alimentado durante o dia, pode acontecer de à noite ele picar também, e sempre em alturas baixas, então, ele costuma voar baixo, até a altura da cintura; então principalmente nos pés, nas pernas, a gente deve ter um cuidado maior.

 

É, aí vamos lembrar também que ele é um mosquito que gosta de viver perto das casas, não é?! É aí que ele garante a sobrevivência dele, né? Não é um mosquito que se afaste muito do ambiente, né, em que ele foi gerado, né? E uma coisa que a gente insiste sempre em dizer “olha, não deixe pneu no quintal juntando água, garrafas vazias com água ou vasinho de planta acumulando água no pratinho…”, acho que todo mundo já ouviu falar nisso, né, Melissa? E, no entanto, é difícil as pessoas tomarem esses cuidados necessários. A que você atribui essa falta de consciência, vamos dizer assim?

Eu acho que é mais uma falta de memória da população brasileira, a gente se preocupa muito com a coisa enquanto ela está ativa, então acontece epidemia de dengue, epidemia de chikungunya, todo mundo procura se preocupar mais — você vê a quantidade de repelente que vende nas farmácias aumenta, quando tem as epidemia e os casos de morte, como aconteceu com a zika — e com o passar do tempo as pessoas vão esquecendo, e isso não deve acontecer.

O mosquito e essas doenças transmitidas por ele estão presentes em todos os estados do país, não temos locais em que não tenha doenças associadas ao Aedes, e os cuidados têm que ser mantidos em todos os períodos do ano e o combate principal tem que ser um mosquito; a gente conseguindo combater o Aedes, a gente combate todas as doenças transmitidas por ele.

Então, isso vai não só do cuidado pessoal como do cuidado coletivo. Quando a gente cuida da nossa própria casa, a gente está cuidando também de toda nossa vizinhança e da comunidade próxima. 

Então, pelo menos uma vez na semana a gente sabe que tem que vistoriar a nossa casa — olhar os vasos de planta, colocar terra nos vasinhos de planta, olhar a caixa d’água, se está fechada, a calha de água, o reservatório do ar-condicionado e da geladeira; e isso uma vez na semana —, porque a gente vai impedir que o mosquito se torne adulto.

É uma média de 10 dias o ciclo de vida do mosquito, então, a gente conseguindo limpar esses ambientes antes disso, a gente consegue evitar que ele se torne adulto e que vá proliferar e causar doença aí em muitas pessoas.

 

É, vamos lembrar que a fêmea bota esses ovos e os ovos a aderem firmemente à superfície. Então, você deixou um pneu no quintal onde teve água dentro, ela botou os ovos, e esses ovos ficam grudados no pneu mesmo que a água seque e pode sobreviver muito tempo, não é?! Podem esperar a chuva do verão seguinte pra eclodirem as larvas. Quantos ovos uma fêmea é capaz de colocar ao longo da vida, Melissa?

Uma única fêmea, que vive em média 30 dias, ela consegue botar até 1500 ovos durante a vida. Então, a gente imagina uma fêmea dessa que está no nosso domicilio,, elas ficam, né, no nosso ambiente de casa, colocar até 1500 ovos… Então, são 1500 Aedes dentro de casa para a gente poder combater. Então, se a gente consegue combater isso antes do mosquito ficar adulto, é muito mais fácil. 

Então, depois que, como você falou aí muito bem, depois que ele coloca o ovo no seu ambiente com água, normalmente na bordinha, mesmo que a gente tire aquela água, se a gente não passar uma bucha pra poder tirar aquele ovo que está ressecado e aderido na superfície, daqui a um ano se a gente colocar uma água naquele mesmo ambiente ou chover e molhar, o vírus rapidamente se hidrata e vai continuar sua fase evolutiva. Então, até 450 dias, mais de um ano, ele pode ficar lá, paradinho, aguardando a oportunidade de se desenvolver. 

 

Quer dizer, se você tem quatro fêmeas que botam esses ovos numa determinada superfície — então, exemplo… estou usando o exemplo do pneu, mas pode ser qualquer outro —, quer dizer que essas quatro fêmeas vão botar no total seis mil ovos, que poderão formar umas seis mil… um verdadeiro enxame de mosquitos, né? 

Isso. E além disso, existe uma transmissão vertical. Ou seja, uma fêmea infectada pelo mosquito, a gente sabe que nem todos os mosquitos são transmissores, ele tem que estar contaminado com o vírus da dengue pra poder transmitir a dengue, e uma vez que fêmea está contaminada, ela pode transmitir pra todas as suas filhas.

Então, as fêmeas do mosquito que nascerem dessa mãe já podem nascer contaminadas com vírus e contaminar outras pessoas. Então, a gente lembra que na fase da viremia, a fase [em] que seus primeiros 8 dias e de que o vírus está circulando no nosso sangue, é essencial que mesmo em casa nós usemos repelente, porque se o Aedes picar uma pessoa contaminada nessa fase, vai se contaminar e transmitir a doença pra outras pessoas em casa e na própria rua onde a pessoa reside.

 

E quais são as populações que são mais atingidas pela dengue no Brasil, e aí, em Feira de Santana em particular? 

É, nós temos a dengue em todos os bairros da cidade praticamente, mas nas regiões onde tiver um saneamento básico menor, normalmente tem uma incidência maior do mosquito e acaba tendo um risco maior de adoecer por dengue — mas, ninguém tá livre desse adoecimento, todas as pessoas, de todas as classes sociais e o vírus não discrimina nada de cor, dinheiro, nada em relação a isso, e qualquer pessoa pode se contaminar.

Então, todos têm que tomar cuidado e durante todo o período do ano. Não adianta se preocupar só quando a gente começa a falar mais em relação a essas doenças, e sim a preocupação tem que estar diária com nós, com nossos filhos, com uso o repelente e precaução em todo domicílio. 

 

Olha, a dengue começa sempre de forma abrupta, não é, de um momento pro outro; a pessoa está bem, de repente, vem um febrão, dor de cabeça, dores no corpo, náusea, dor nos olhos, gera uma dor atrás dos olhos, e muitas vezes a Covid-19 tem sintomas semelhantes a esses, não é?! Como você faz para diferenciar as duas doenças, Melissa?

Olha, não é uma tarefa fácil pra quem tá numa emergência, pra quem tá no dia a dia atendendo doença febril, fazer o diagnóstico diferencial nos primeiros dias da doença. 

Quando eu tenho aqueles quadros clássicos fica mais fácil, mas isso acontece ao longo do dia. Então, no primeiro e segundo dia de doença, muitas vezes aparece só uma dor no corpo e uma febre, e isso pode ser dengue, pode ser zika, pode ser chikungunya, pode covid. 

O principal diferencial entre a dengue e o covid estão nos sintomas respiratórios; nós não costumamos ver sintomas respiratórios na dengue, então quando eu tenho muita coriza, tosse, espirro, isso leva a pensar mais covid do que no quadro de dengue, e tem umas características bem peculiares do covid, como a perda do olfato e a perda do paladar, que não acontece em todos os casos, mas quando acontece, direciona a gente a um diagnóstico de covid, em vez de um diagnóstico de dengue.

Em relação à dengue, a gente vê uma queda das plaquetas normalmente mais acentuadas, e aquelas petéquias, as manchinhas no corpo, que apesar de poderem acontecer no covid, são menos frequentes — sim, vemos mais acontecer na dengue —, mas o ponto chave de diferença entre a covid e a dengue são os sintomas respiratórios — perda do olfato, do paladar.

 

E você pode ter covid sem febre — é até bastante frequente, né. Existe dengue sem febre, na tua experiência, Melissa? 

É muito difícil. A dengue é uma doença febril, aguda, e que normalmente a febre é um dos primeiros sintomas, junto com a dor muscular, que é muito intensa; ela é conhecida até como “doença de quebra ossos”, porque a sensação que você tem é que está com o corpo todo quebrado, e não consegue identificar onde é a dor, porque dói realmente o corpo inteiro; e a febre está presente aí, em mais do que 90% dos casos, sem dúvida, sendo que no covid ela acontece com frequência um pouco menor, então isso também pode ajudar no diagnóstico diferencial.

 

No caso da dengue, você acha que as pessoas, ao desenvolver os primeiros sintomas, que em geral começam com febre alta já — do nada vem a febre —, que ela deve procurar o hospital rapidamente? Deve procurar atendimento médico rapidamente?

Sim, qualquer doença febril aguda deve ser encaminhada a um atendimento médico inicial, pra orientar a conduta. Nós temos medicamentos que não podem ser usados no quadro de dengue, como anti-inflamatório não hormonal, que a gente vê muito comum o ibuprofeno, ésio… esses medicamentos não podem ser usados na dengue, porque aumenta o risco de sangramento, o risco de ter uma dengue grave; já no covid, não tem contraindicação, então precisa de uma orientação médica pra isso.

E, lembrando que no momento epidemiológico que estamos vivendo, se temos dúvidas, se se trata de dengue ou de covid, vamos realizar os testes necessários e manter essa pessoa em isolamento, pra que não haja transmissão pra outras pessoas enquanto é feita a investigação.

 

Vamos voltar pro mosquito: ele não transmite só o vírus da dengue, né, nós tivemos no Brasil epidemias de zika e chikungunya. Como está essa situação com vocês aí em Feira de Santana? A situação dessas e outras doenças?

É, nesse ano de 2020 e 2021 não tivemos uma incidência grande de arbovírus. Eles continuam acontecendo, tem tenho notificação deles mensalmente, mas tivemos uma grande epidemia de dengue em 2019. Então, as epidemias de dengue elas acontecem mais ou menos a cada três, cinco anos  e elas se repetem.

2019 tivemos uma epidemia de dengue quase no Brasil inteiro, vimos aí em São Paulo uma predominância grande, aqui na Bahia também, e 2020 e 2021 costuma ser um ano mais brando nos anos que se seguem à epidemia. Mas, elas continuam acontecendo, e vimos que no Brasil, em 2021, em relação a 2020, teve uma queda do número de dengue de até 47% — mas na chikungunya, houve um incremento de quase 30%, o que começamos a ver epidemia em cidades de São Paulo que a gente não tinha visto até hoje.

Então, o litoral sul de São Paulo, Santos, houver uma epidemia, isso preocupa muito, porque a chikungunya, com a taxa de ataque alta que tem, chegar no centro da cidade de São Paulo, na capital, vai ter uma incidência de problemas aí pra saúde pública e pra saúde individual de cada um muito grande. 

A zika também não tem uma incidência alta, mas continua acontecendo, então vamos lembrar a todas as gestantes que continue usando repelente, tanto ela como os maridos, porque, né, ficou comprovada a transmissão sexual da zika. Então, as arboviroses estão acontecendo e os cuidados precisam ser contínuos.

 

Olha, nós temos um problema sério aí, né, porque eu posso cuidar do meu quintal, da minha casa, tomar todas as precauções, mas o vizinho pode não não não ser tão rigoroso. Então, na verdade, como é que eu faço para evitar a picada do mosquito que vem da casa vizinha? Quais são as outras medidas que as pessoas devem tomar? 

É, um msquito ele pode se deslocar até um quilômetro, mas isso não é o mais frequente. O comum de deslocamento dele é até 200 metros, mas isso alcança, né, uma grande parte da vizinhança. Então, muitas vezes recebemos reclamações de ligações de pessoas denunciando piscina de casas abandonadas na sua rua, que acabam levando à casa já o vírus pra toda a comunidade, todas as pessoas que vivem naquela localidade.

Então, as pessoas além de olhar o seu próprio domicílio e o seu local de trabalho, tem que estar atento também à vizinhança. Se perceber algum local com piscina abandonada, com focos — bromélias são outras plantas que costumam ter foco de dengue —, se for percebido que existe esses focos, tem que ligar para a Vigilância Epidemiológica do local, fazer a denúncia e  a Vigilância vai ao local averiguar o que está acontecendo, colocar o larvicida e fazer o combate ao mosquito.

 

Melissa, eu fiz um programa sobre dengue no Fantástico anos atrás, e quis mostrar o que acontecia com as bromélias, né, as bromélias [são] aquelas aquelas plantas que são da mesma família do abacaxi; elas acumulam água entre as flores. 

E aí eu quis mostrar quanto de água cabia dentro das bromélias, e pegamos um vaso com uma bromélia bem grande numa casa, bem grande mesmo, e eu joguei um balde de água de cinco litros dentro desse dessa bromélia e ficou lá, mas o cinegrafista se atrapalhou um pouco na filmagem e disse “olha, vamos vamos gravar outra vez”. 

Era um vaso muito grande e pesado, não dá para vir o vaso, então nós começamos a enxugar com um pano. É incrível a quantidade de água que fica armazenada ali, mas aí é impossível você acabar com as bromélias, não é?! Portanto, nós temos que ter outras medidas, né… Os repelentes, os inseticidas, as telas nas janelas, né, os cuidados pra não deixar entrar mosquito dentro de casa, especialmente nessas épocas em que a incidência fica mais alta. Cê acha que as pessoas têm essa consciência de que tem que ter esses cuidados?

Eu acho que esses cuidados precisam ser reforçados sempre pra toda a comunidade, porque quando as pessoas não ouvem falar da doença, não ouvem falar dos cuidados necessários, apesar de ter aquele conhecimento, acaba ficando esquecido. Então, informações como essa que estamos dando aí agora, lembrando as pessoas da importância desses arbovírus e principalmente dos cuidados pessoais e dos cuidados coletivos, são essenciais pra que as pessoas se conscientizem do seu papel na comunidade.

Se cada um tomar consciência e olhar o seu próprio domicílio uma vez na semana, isso já vai ser de grande benefício. E, além dos repelentes de uso pessoal — que a gente pode fazer começando a passar desde de manhã cedo, quando acorda, e repassando de acordo com orientação do fabricante, dependendo daquela substância do repelente —, tem outros cuidados também, como procurar deixar as crianças pequenas com roupas claras, com manga comprida, cobrir os braços, cobrir a perna, o uso dos mosquiteiros, nos carrinhos, nos berços das crianças… Tentar botar telas protetoras nas janelas… Esses são cuidados que também ajudam a afastar o mosquito.

E além do repelente que passamos na nossa pele, tem aqueles repelentes de ambiente, aqueles que coloca em tomada ou que coloca no ambiente. Lembrando que tem que ter uma distância entre aqueles repelentes de tomada — de pelo menos dois metros pras pessoas e ficar mais próximo à porta. Então, são várias maneiras que temos de prevenção de picada do mosquito, só cabe a nós adequar esses cuidados à nossa vida e usar. 

 

Eu no começo dessa nossa conversa falei que é muito difícil nós ficarmos livres da dengue e das outras arboviroses. Você está de acordo, Melissa? 

Sim, eu acho que a principal maneira da gente se livrar dessas arboviroses todas é o combate ao mosquito — esse é o fator essencial —, e quanto mais precoce esse combate, se a gente combate na fase da larva, é muito mais fácil de combater. Isso cabe a nós, fazermos o nosso próprio ambiente, estar atento à vizinhança e tomar os cuidados necessários para repelir os mosquitos, quando não for possível evitar aquela transformação pro mosquito adulto.

Então, o uso dos repelentes e todos os cuidados no nosso domicílio é a única maneira da gente conseguir reduzir a população de Aedes e consequentemente reduzir as doenças causadas por eles.

 

Melissa, muito obrigado por esses esclarecimentos. Nós conversamos com a doutora Melissa Barreto Falcão, médica infectologista da Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Feira de Santana, na Bahia, e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia. Muito obrigado, Melissa. 

Um grande abraço. Um prazer muito grande estar com você ajudando na divulgação de informações importantes pra nossa população. 

 

Conteúdo desenvolvido em parceria com a marca TENA https://www.sbpprotege.com.br/

Veja também: Como a dengue foi de doença erradicada para endêmica no Brasil

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