Trump e as crianças ilegais | Artigo

Tratamento dispensado às crianças que entraram ilegalmente nos Estados Unidos acarreta danos irreversíveis, segundo estudos americanos.

menina triste, sentada encostada na parede. Trump criou política para tornar crianças ilegais

Compartilhar

Publicado em: 28 de setembro de 2018

Revisado em: 11 de agosto de 2020

Estudos mostram que a política de Trump, que separa crianças dos pais e as trata como ilegais, traz repercussões duradouras para a vida das crianças.

 

As imagens das crianças separadas dos pais em abrigos do governo chocaram a sociedade americana e o mundo civilizado. Impossível não lembrar dos campos de concentração nazistas.

“The New England Journal of Medicine” é a revista de maior circulação entre os médicos. Em suas páginas, são publicados os estudos com potencial para mudar o modo de compreender e tratar as doenças.

Como é uma revista técnica, fiquei surpreso com o conteúdo de dois artigos sobre os filhos de imigrantes ilegais aprisionados nos Estados Unidos.

 

Veja também: American Way of Life

 

O primeiro foi escrito pela pediatra Fiana Danaher, do MassGeneral Pediatric Hospital, em Boston, sob o título “O sofrimento das crianças”, no qual ressalta que a Academia Americana de Pediatria, a Associação Médica Americana e centenas de outras organizações repudiaram, com veemência, o isolamento forçado das crianças.

Ela explica que os imigrantes fogem de países como El Salvador e Honduras com índices de 81 e 59 homicídios por 100 mil habitantes, respectivamente (no Brasil, o índice é 30). Nas viagens com os coiotes, as famílias são assaltadas, raptadas e assassinadas por bandos armados, ocasiões em que cerca de 60% das meninas e mulheres sofrem violência sexual.

Com a política atual de tolerância zero, 20% a 25% dos ilegais já deportados deixam filhos nascidos em território americano. Segundo a pediatra, a perda dos cuidados paternos provoca mudanças na fisiologia do organismo infantil, que causarão enfermidades físicas e mentais pelo resto da vida.

Como o custo médio de cada criança abrigada é de U$ 800 por dia, importância suficiente para hospedar a família em hotel de luxo, a doutora Colleen Kraft, presidente da Academia de Pediatria, afirma que “o governo Trump sancionou medidas para maltratar crianças, às custas dos impostos de milhões de americanos”.

Fiana Danaher encerra com a frase: “Se permitirmos que crianças já traumatizadas sofram tratamento tão brutal, estaremos todos com as mãos sujas”.

O segundo artigo, de Charles Czeisler, especialista em fisiologia do sono, na Universidade Harvard, vem com o título “Abrigando crianças imigrantes – A desumanidade da iluminação permanente”.

Czeisler diz que apesar de o presidente ter voltado atrás, ainda há 1.100 crianças mantidas em abrigos como o da cidade de McAllen, no Texas, no interior do qual passam 22 a 23 horas por dia trancadas em celas com cerca de 20 ocupantes. As janelas são escuras e as luzes ficam acesas dia e noite.

Segundo ele, maus tratos como esses terão repercussões duradouras, uma vez que é fundamental para a saúde e o desenvolvimento permitir que a criança durma no escuro da noite e tenha a retina exposta à luz do sol, pela manhã.

Enquanto as crianças lutam com os estresses físico e psicológico do encarceramento e se recuperam do trauma da separação das famílias, o mínimo que podemos fazer é deixá-las dormir.

A claridade no período noturno interfere com a arquitetura do sono e rompe o ciclo circadiano, responsável pelo conjunto de reações fisiológicas que se alternam no organismo, em sincronia com as 24 horas do movimento de rotação da Terra.

Estudos mostram que recém-nascidos mantidos em UTIs com luzes acesas, permanecem internados 15 dias a mais.

Deficiências de sono durante duas semanas são suficientes para desregular o ritmo circadiano a ponto de induzir pré-diabetes, reflexo da incapacidade das células beta do pâncreas em produzir a insulina necessária para lidar com a glicose das refeições.

Durante o desenvolvimento, a exposição noturna à luz tem consequências ainda mais graves, porque a necessidade de sono é maior. O bebê de 0 a 3 meses precisa dormir 14 a 17 h por dia; dos 4 aos 11 meses, são necessárias 12 a 15 h; de 1 a 2 anos, 11 a 14 h; dos 3 aos 5 anos, 10 a 13 h; dos 6 aos 13 anos, 9 a 11 h; e dos 14 aos 17 anos, 8 a 10 h.

Crianças de 2 anos que dormem menos de 12 horas diárias, duplicam o risco de chegar obesas na pré-escola. Adolescentes com menos de 6h30 de sono por dia, aumentam em 150% o risco de hipertensão arterial e em 250% o de desenvolver transtornos do sono, além de apresentar agravamento dos quadros de asma e estatura mais baixa, resultado da redução dos níveis de hormônio do crescimento.

O especialista termina dizendo: “Enquanto as crianças lutam com os estresses físico e psicológico do encarceramento e se recuperam do trauma da separação das famílias, o mínimo que podemos fazer é deixá-las dormir”.

É inacreditável, leitor, que esses fatos ocorram num país de valores democráticos como os Estados Unidos. Olha o que dá, entregar a Presidência da República a um boçal.

Veja mais

Sair da versão mobile