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Pediatria

Por que o tédio é importante para o desenvolvimento infantil?

O tédio abre espaço para a imaginação. Por isso, é importante que as crianças tenham tempo livre para criar suas brincadeiras

Se você considera o tédio algo negativo, saiba que, na verdade, o tempo ocioso pode ser benéfico para o cérebro, especialmente na infância. Mas vale o alerta: aquele período “fazendo nada” com os olhos grudados na tela — geralmente recebendo uma avalanche de informações ou estímulos — não conta, independentemente da idade. 

Segundo André Ceballos, neurocirurgião e especialista em desenvolvimento infantil, o tédio é um espaço fértil para o desenvolvimento. Quando a criança recebe estímulos externos de forma constantemente, cria-se a oportunidade de se conectar com a sua “voz interna”. 

“Esse ‘vazio’ favorece processos de autorregulação emocional, reflexão sobre experiências passadas, planejamento e até mesmo o exercício da gratidão pelo presente. Ao lidar sozinha com esse momento, a criança fortalece a autonomia, a tolerância à frustração e a capacidade de transformar o tempo em algo criativo”, explica. 

Em entrevista ao Portal Drauzio sobre o uso de telas e redes sociais por crianças e adolescentes, Daniel Becker, pediatra e ativista pela infância, também já ressaltou a importância do tédio. “O tédio tem um valor inigualável para a criança, porque quando você nega o celular para uma criança que não tem ‘o que fazer’, ela vai criar o que fazer”, disse. 

 

Tempo livre estimula a imaginação

O tempo livre é um convite natural à imaginação. O dr. André explica que a ausência de atividades dirigidas ou estímulos prontos incentiva a criança a buscar soluções próprias, conectar ideias e explorar novos papéis. “Esse espaço livre alimenta a curiosidade inata e impulsiona descobertas, transformando objetos simples e experiências cotidianas em grandes aventuras criativas.”

Em contrapartida, o uso excessivo de telas substitui o tempo ativamente criativo por estímulos prontos e passivos, o que pode levar à rigidez cognitiva, diminuição da capacidade de abstração e desregulação emocional.

“Ao contrário da brincadeira livre, que estimula múltiplas áreas do cérebro, o tempo excessivo diante das telas restringe as possibilidades de experimentação, reduzindo a diversidade de estímulos fundamentais ao desenvolvimento saudável”, esclarece.

Veja também: Por que as crianças precisam brincar?

 

Excesso de atividades extracurriculares não é o ideal

Se a criança está ocupada demais, isso não é um bom sinal. Hoje em dia, é comum haver na agenda infantil atividades extracurriculares, como aulas de dança, teatro, futebol, instrumentos musicais, entre outras. Essas atividades são enriquecedoras, segundo o especialista, mas o excesso pode ser prejudicial quando passa a “roubar” todo o tempo livre da criança. 

“Uma agenda cheia demais pode aumentar a ansiedade, reduzir a espontaneidade e até enfraquecer a formação da identidade própria, já que a criança passa a viver em função de metas e resultados. O equilíbrio está em oferecer opções, mas também ouvir a opinião da criança, garantindo momentos lúdicos, de descanso e de liberdade para escolher o que fazer, inclusive ‘não fazer nada’”, recomenda o médico. 

 

Como os adultos podem ajudar?

Para ajudar a criança a ter espaço e liberdade para lidar com o tédio de maneira positiva, é importante que os adultos criem um ambiente seguro, acolhedor e sem excesso de estímulos, no qual ela se sinta confortável para explorar o próprio tempo.

“Também é importante que os pais e cuidadores sirvam como exemplo: se conseguem conviver bem com momentos de pausa e silêncio, transmitem à criança que o tédio não é algo a ser temido, mas sim aproveitado. Estar disponível, mas não intervir o tempo todo, ajuda a criança a transformar o tédio em imaginação, descoberta e crescimento”, finaliza o dr. André.

Veja também: O que as cores têm a ver com o desenvolvimento infantil?

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