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Pediatria

Crianças e adolescentes: por que vaciná-los contra a covid-19?

enfermeira de máscara prepara vacina contra covid. Paciente menino aguarda ao fundo. Estados devem começar a vacinação de crianças e adolescentes
Publicado em 16/08/2021
Revisado em 27/01/2022

Alguns estados prometem iniciar a vacinação de crianças e adolescentes de 12 a 17 anos com comorbidades. Veja as principais dúvidas sobre a vacinação desse grupo.

 

Diante do aumento de casos novos de covid-19 em crianças e adolescentes nos Estados Unidos e em países europeus, muitos pais têm se preocupado com os filhos menores de 18 anos. Afinal, eles podem ser vacinados contra a doença? Quando isso ocorrerá?

Primeiramente, é preciso cuidado ao interpretar o aumento de casos entre os mais jovens. Pessoas com menos de 50 anos são a maioria entre os não vacinados no mundo todo, portanto é esperado que representem a maior parte dos casos novos da doença.

   Veja também: As vacinas contra a covid são eficazes

Além disso, a variante Delta, que já representa a maioria dos casos de covid-19 no Reino Unido, Estados Unidos e outros países, é bem mais contagiosa que a cepa original do Sars-CoV-2, vírus causador da doença. Assim, o número alto de casos de covid-19 entre jovens e crianças no mundo não é surpresa, ainda mais se considerarmos que os jovens se expõem mais ao vírus.

De toda forma, pesquisadores e cientistas estão estudando a variante Delta para verificar se ela causaria quadros mais graves da doença em pessoas mais jovens. Ainda não há dados conclusivos a respeito.

“A variante Delta pode causar uma nova onda no Brasil”, afirmou, em entrevista a este Portal,  o dr. Cristiano Zerbini, reumatologista do Hospital Sírio Libanês e pesquisador do Centro Paulista de Investigação Clínica.

Com o retorno das aulas presenciais em todo o país, muitos pais anseiam por vacinar os filhos o mais rápido possível. Alguns estados como Piauí, São Paulo e Rio Grande do Sul já anunciaram que pretendem iniciar a vacinação de adolescentes entre 12 e 17 anos com comorbidades em breve. A maioria dos estados, contudo, aguarda anúncio do Ministério da Saúde, que ainda não determinou quando a vacinação desse grupo deve começar.

Veja as principais dúvidas sobre a vacinação de crianças e adolescentes:

 

Quais imunizantes poderão ser utilizados na vacinação de jovens de 12 a 17 anos?

 

Até o momento, apenas a vacina da Pfizer poderá ser aplicada nesse grupo. A farmacêutica americana já obteve autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em junho deste ano, para esse fim. Ainda faltam dados a respeito da segurança e eficácia das demais vacinas para esse público.

 

Por que antes a vacina da Pfizer só podia ser aplicada em adultos maiores de 18 anos?

 

As vacinas contra a covid-19 são vacinas novas, que foram desenvolvidas no ano passado. Até que se comprovasse a segurança e a eficácia das vacinas em adultos, os adolescentes e crianças não podiam fazer parte dos estudos clínicos.

No fim de 2020 e início de 2021, a Pfizer começou a realizar estudos com esse grupo e depois de obter e publicar os resultados, recebeu a autorização da Anvisa, que considerou que a farmacêutica demonstrou a segurança e a eficácia (que chega a 100% entre adolescentes entre 12 e 15 anos) do seu imunizante, para uso em maiores de 12 anos.

   Veja também: Como se faz uma vacina?

 

Há estudos com crianças para outras vacinas?

 

Sim. A AstraZeneca, a Moderna, a Janssen e a Sinovac, que produz a CoronaVac, estão realizando estudos promissores com adolescentes e crianças de várias faixas etárias, incluindo bebês.

 

Há previsão para o início da vacinação de crianças com menos de 12 anos?

 

Ainda não. Os laboratórios seguem realizando estudos, alguns em fase adiantada. A Pfizer, por exemplo, já está fazendo estudos de fase 2 com crianças entre 5 e 12 anos. A Sinovac divulgou dados de segurança e eficácia em crianças e jovens de 3 a 17 anos, e a China já aplica o imunizante nesse grupo. Israel também autorizou a vacinação de crianças de 5 a 11 com comorbidades, com a vacina da Pfizer.

O Instituto Butantan encaminhou, no fim de julho de 2021, o pedido para uso da CoronaVac em crianças e adolescentes de 3 a 17 anos no Brasil, mas ainda não obteve resposta.*

 

A vacina é segura para jovens e crianças?

 

Segundo o dr. Zerbini, os dados apresentados pela Pfizer garantem a segurança e a eficácia do uso do imunizante no grupo de 12 a 17 anos.

 

É verdade que a vacina pode causar problemas cardíacos em jovens?

 

Ainda de acordo com o dr. Zerbini, os efeitos adversos da vacina em crianças e jovens não diferem muito das reações comumente observadas em adultos. São esperados febre, calafrios, dor de cabeça, mal-estar e dor no local da aplicação até 7 dias depois da imunização, seja na primeira ou na segunda dose. No entanto, em Israel, país que vacinou totalmente quase 60% da população, houve alguns raros casos de miocardite (inflamação do músculo cardíaco) e pericardite (inflamação da membrana que envolve o coração) em crianças e jovens.

O dr. Zerbini alerta para o fato de que os sintomas foram transitórios e muito raros e que os benefícios da vacinação superam os riscos da covid-19 nesse grupo.

 

Faz sentido vacinar crianças e jovens antes de vacinarmos os adultos?

 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os países devem priorizar a vacinação dos adultos e de jovens e crianças que façam parte dos grupos que apresentam risco maior de desenvolver quadros graves de covid-19. Por isso, os países têm iniciado a vacinação de crianças e adolescentes somente depois de disponibilizarem vacinas para todos os adultos.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos recomenda a vacinação de todas as pessoas acima de 12 anos.

 

Se crianças e jovens em geral não desenvolvem quadros graves de covid-19, por que vaciná-los?

 

Apesar de os casos graves e óbitos entre crianças e adultos jovens serem mais raros, o Brasil apresenta uma taxa alta de mortes de crianças: 852 crianças com menos de 9 anos, sendo 518 bebês, morreram de covid-19 entre fevereiro de 2020 e março de 2021, segundo dados do Ministério da Saúde. Espera-se que esse número seja ainda maior, por causa das subnotificações.

Por isso o dr. Zerbini reforça a importância de vacinarmos as crianças assim que possível. “O ideal é avançarmos rapidamente com a vacinação dos adultos e depois vacinarmos as crianças, em especial as com comorbidades. Não podemos correr o risco, podendo prevenir a doença”, conclui.

 

*Atualização: Em 18/8/2021, a Anvisa negou o pedido do Instituto Butantan para uso da CoronaVac em crianças e adolescentes de 3 a 17 anos, alegando falta de dados sobre eficácia e segurança para esse público. O Butantan se comprometeu a enviar os dados solicitados.

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