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Pediatria

Chegada do imunizante nirsevimabe pode revolucionar a prevenção contra o VSR

Para os pediatras, a chegada do anticorpo ao Brasil é um divisor de águas no cuidado com a saúde respiratória dos bebês e no combate ao VSR. Conheça o nirsevimabe. 
Publicado em 14/02/2025
Revisado em 18/02/2025

Para os pediatras, a chegada do anticorpo ao Brasil é um divisor de águas no cuidado com a saúde respiratória dos bebês e no combate ao VSR. Conheça o nirsevimabe. 

 

O vírus sincicial respiratório, o VSR, é o maior causador de internações e mortes de bebês de até 2 anos por problemas respiratórios. A doença, que até então tirava o sono de pais e pediatras, agora tem um meio eficaz de prevenção: o nirsevimabe. O imunizante se mostrou capaz de prevenir doenças graves causadas pelo VSR em todos os bebês, sejam eles prematuros ou nascidos a termo, saudáveis ou com comorbidades.

 

Infecção por VSR é mais do que um resfriado

Por terem um sistema imunológico imaturo e vias áreas ainda muito pequenas, os bebês são os mais suscetíveis a hospitalizações por doenças respiratórias. E o VSR é o principal responsável por esse tipo de infecção em crianças menores de 2 anos. O vírus está diretamente relacionado a casos de bronquiolite e pneumonia, porque provoca a inflamação dos bronquíolos, estruturas responsáveis por levar oxigênio ao pulmão.

A transmissão acontece pelo contato com a fala, tosse ou espirro de uma pessoa infectada. Os sintomas são semelhantes aos de um resfriado – coriza, tosse leve e febre. Mas, conforme avança, a doença pode levar a queixas mais graves, como:

  • piora da tosse;
  • dificuldade para respirar;
  • som de chiado durante a expiração;
  • expulsão de catarro pelo nariz e pelos olhos;
  • dificuldade para mamar e deglutir;
  • perda de energia;
  • e dedos e lábios azulados.

Nesses casos, a criança deve ser levada a um atendimento médico imediatamente, pois a doença pode evoluir com rapidez.

 

Todos os bebês terão contato com o VSR até os 2 anos de idade

Estima-se que 100% das crianças serão infectadas pelo VSR até os 2 anos, sendo este o vírus responsável por até 90% das bronquiolites infantis e 40% das pneumonias pediátricas, de acordo com um estudo norte-americano. 

No Brasil, a taxa de hospitalização por infecção em crianças menores de 2 anos aumentou progressivamente 33% entre 2013 e 2022. No último ano, dados do InfoGripe mostram que, dos mais de 160 mil casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), 34,9% foram causados pelo VSR.

Tamanha prevalência se explica porque o vírus sincicial respiratório é altamente contagioso. Ele circula no país o ano todo, mas é mais frequente entre os meses de março e junho. Bebês prematuros, com doenças cardíacas, doenças pulmonares crônicas ou algum tipo de imunodeficiência são os grupos mais vulneráveis, mas qualquer criança está sujeita a quadros graves da doença.

“Ele acaba sendo o protagonista do primeiro ano de vida. Quando a gente junta um indivíduo muito suscetível com o principal agente infeccioso dessa faixa etária, ele [o VSR] acaba assumindo uma proporção muito grande”, destacou o dr. Renato Kfouri, infectologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), durante o evento “Um novo capítulo na prevenção do VSR”, realizado pela farmacêutica Sanofi.

Depois da primeira infecção, o bebê pode ter a doença novamente, mas de forma mais branda. Ainda assim, uma infecção nessa idade aumenta o risco de desenvolvimento de doenças respiratórias crônicas e, consequentemente, mais visitas a serviços de emergência e mais hospitalizações pelo resto da vida.

Veja também: Como a pandemia mudou a época do vírus VSR no Brasil?

 

A chegada do nirsevimabe

Até então, além das medidas de higiene, a única forma de prevenção à infecção pelo VSR era o palivizumabe. O palivizumabe é um anticorpo monoclonal indicado para bebês prematuros e crianças de até 2 anos de idade com cardiopatia grave ou doença pulmonar. 

Diferente das vacinas, que estimulam o organismo a produzir defesas contra um vírus, o anticorpo monoclonal é a defesa já pronta. Apesar de segura e eficaz, essa proteção é temporária; por isso, o palivizumabe exige a repetição de doses mensais ao longo de cinco meses. Existem também vacinas em desenvolvimento contra o VSR, mas elas só poderiam ser aplicadas após os 6 meses de vida, isto é, quando o sistema imunológico da criança estaria apto para recebê-la. 

Nesse contexto, a chegada de um novo anticorpo, o nirsevimabe, chamou a atenção dos pediatras.

“O nirsevimabe é um upgrade do palivizumabe em alguns sentidos. A potência é muito maior, a meia vida (o tempo de eliminação do corpo) é mais prolongado e o perfil de segurança consegue ser ainda melhor”, destacou o dr. Daniel Jarovsky, infectologista, pediatra e vacinólogo da Santa Casa de São Paulo, durante o evento da Sanofi.

O grande diferencial do nirsevimabe é oferecer proteção ao longo de cinco meses com uma única dose, que poderá ser aplicada ainda na maternidade via injeção intramuscular. Sem idade mínima para a aplicação, o anticorpo protege os bebês justamente na sua fase de maior vulnerabilidade: o primeiro semestre de vida. Crianças que fazem parte do grupo de risco também poderão receber uma segunda dose após esse período.

“E com uma outra grande vantagem também: a gente tem estudos do nirsevimabe em todas as populações de recém-nascidos. Não é só para prematuros, não é só para bebês com doenças crônicas. Ele pode ser utilizado em bebês saudáveis com dados de segurança, em dose única e em um esquema posológico muito simplificado”, acrescentou o dr. Renato. 

Nos estudos clínicos, o nirsevimabe reduziu em até 83% as hospitalizações por causa do VSR em bebês menores de 1 ano nascidos a termo. Em países que já começaram a sua aplicação de forma massiva, como o Chile, houve uma queda de 90% nas internações pediátricas relacionadas à doença durante a última sazonalidade do vírus, além do número de mortes ter sido reduzido a zero.

“Você combina um produto seguro, altamente eficaz e em dose única. Isso facilita muito a adesão. Se [o bebê] já sai da maternidade tendo recebido [o anticorpo] e as coberturas vacinais são elevadas, você tem um resultado na vida real com números bastante altos”, explicou o dr. Daniel.

 

Disponibilidade do nirsevimabe no Brasil

Na rede privada, de acordo com a Sanofi, farmacêutica responsável pelo anticorpo, o nirsevimabe estará disponível para grupos de risco a partir de março de 2025 pelo valor de R$ 2.663,32. Esses grupos incluem: 

  • bebês prematuros com idade gestacional inferior a 37 semanas (até 36 semanas e 6 dias) e menos de 1 ano de idade (até 11 meses e 29 dias), entrando ou durante a sua primeira temporada do VSR;
  • e crianças com menos de 2 anos (até 1 ano, 11 meses e 29 dias) com comorbidades como doença pulmonar crônica da prematuridade e doença cardíaca congênita hemodinamicamente significativa.

Nos planos de saúde, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) já garantiu o acesso do nirsevimabe para esse mesmo público. A inclusão no rol deve acontecer ainda no início deste ano. 

No SUS, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) também anunciou a incorporação do produto na rede pública para bebês prematuros e/ou portadores de comorbidades. Considerando que existe um processo até a disponibilização do imunizante na rede pública, a Sanofi estima que o nirsevimabe estará disponível gratuitamente para essa população na temporada de VSR de 2026.

“Eu acho que a gente tem um divisor de águas na história do vírus sincicial respiratório. Para nós, médicos, do lado de cá do balcão, quando a gente olha as nossas taxas de hospitalização, a nossa falta de leitos de terapia intensiva pediátrica, a nossa sobrecarga para o sistema de saúde, as filas de pronto-socorro, o quanto o peito dessas crianças volta a chiar dali para frente, o quanto elas vão precisar de fisioterapia respiratória… Isso tudo pode ser impactado por uma intervenção inovadora que tende a ser muito custo-efetiva para os países que optarem pela sua inclusão”, ressaltou o dr. Renato. 

Veja também: Imunização pode proteger bebês dos riscos da infecção pelo VSR

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