O câncer infantil, no Brasil, tem índice de cura de 55%, ao passo que, nos Estados Unidos, essa taxa chega a 95% das ocorrências.
Câncer em crianças, apesar de mais agressivo que os tumores que acometem os adultos, tem uma particularidade interessante: pode ser curado em cerca de 70% dos casos, se diagnosticado precocemente e tratado em centros especializados. Porém, enquanto em países como os Estados Unidos o índice de cura chega a 95% das ocorrências, no Brasil essa taxa não passa de 55%. Isso porque aqui, em geral, as crianças buscam tratamento quando a doença já está muito avançada.
Com o objetivo de trazer informações e esclarecimentos atualizados sobre o câncer pediátrico, tais como exames necessários, tipos de tratamento, sinais e sintomas da doença que acomete anualmente mais de 9 mil crianças no Brasil, publicaremos conteúdos relacionados à doença produzidos por especialistas do Hospital de Câncer de Barretos, um dos polos de referência no tratamento de câncer no país.
O Hospital de Câncer Infantojuvenil, inaugurado no ano de 2012, recebe diariamente crianças e adolescentes de todas as regiões do Brasil.
Dr. Luiz Fernando Lopes, diretor médico da unidade, explica que o setor infantil funcionava apenas como um departamento até o início de 2000, uma ala que atendia pacientes pediátricos. O número de atendimentos nessa época era relativamente pequeno. Em 2000, foram atendidas 57 crianças e dessas, 48 receberam o diagnóstico de câncer.
Com o passar dos anos, o número de pacientes foi aumentando e a popularidade do hospital, crescendo. Barretos é um dos locais do país que mais recebe casos de tumores ósseos em crianças, e muitos, apesar de já terem sido atendidos em outros hospitais, chegam com a doença já em estágio avançado.
A entidade também possui parcerias com o St. Jude e o MD Anderson Cancer Center (o maior centro de tratamento oncológico do mundo), ambos nos Estados Unidos, que ajudam a fomentar a pesquisa clínica desses tumores.
“No ano passado, atendemos 458 crianças. Dessas, 232 foram diagnosticadas com algum tipo de tumor”, explica o médico.
Em média, o hospital infantojuvenil recebe dois casos novos de câncer por dia e mais de 30 por mês. A maioria dos pacientes (56%) é proveniente do estado de São Paulo. Em segundo lugar vem Minas Gerais, com 15%, e em seguida, Mato Grosso do Sul, com 8%. As leucemias e os tumores cerebrais são os cânceres mais diagnosticados no hospital. Detalhe: os atendimentos são feitos pelo SUS.
Uma das inovações do hospital é uma sala de cirurgia integrada a um aparelho de ressonância magnética e um sistema de neuronavegação.
Na prática, a novidade funciona mais ou menos assim: após uma cirurgia para retirada de um tumor cerebral, em geral o cirurgião precisa fazer uma ressonância para ver se o tumor realmente foi removido por completo, se não sobrou nenhum resquício. Antes, o médico tinha que fechar a cabeça da criança para no dia seguinte fazer o exame. Se houvesse algum problema, era preciso marcar uma nova cirurgia. Com a nova tecnologia, o especialista pode fazer a checagem com o crânio aberto, ainda durante a cirurgia.
“O dispositivo é bastante inovador e até o momento o único do país instalado numa unidade pediátrica”, ressalta o dr. Luiz Fernando Lopes.
Estrutura especializada
O hospital infantojuvenil tem um ambiente descontraído, mais adequado para receber as crianças, que podem ficar em tratamento de seis meses a um ano.
Lá tudo é colorido, há um imenso sofá onde os pais aguardam os filhos fazerem exames, jardim, brinquedotecas, sala de jogos e lanchonete. A ideia é deixar mais leve um tratamento pesado, que pode incluir cirurgias, quimioterapia e radioterapia.
A grande maioria dos pacientes vem de cidades distantes, por isso muitos precisam fixar residência em Barretos.
Logo que o paciente dá entrada na instituição, uma assistente social faz a entrevista e o encaminha para um dos treze alojamentos do hospital, sendo dois deles pediátricos, com capacidade para acolher um total de 650 pacientes em tratamento, provenientes das mais diversas cidades brasileiras.