Desejo de perder peso e vencer a obesidade envolve não só grande força de vontade, como disciplina militar.
Se depender de bons propósitos, nossa saúde no ano novo será perfeita.
É sempre assim: arrependidos dos descalabros alimentares e dos exageros alcoólicos cometidos durante a temporada de festas, todo início de ano juramos que, dali em diante, comeremos e beberemos com parcimônia e nos exercitaremos. Alguns dias depois, o sentimento de culpa se esvairá e a vida voltará à sua rotina glutônica e sedentária.
Comemos mais do que as necessidades energéticas da vida moderna exigem, porque nosso cérebro foi moldado em época de penúria. A fome, flagelo ancestral de nossa espécie, selecionou entre nossos antepassados aqueles capazes de ingerir grandes quantidades de alimentos para enfrentar as temporadas de jejum forçado que se seguiam. São os genes que herdamos deles os responsáveis pela dificuldade de resistirmos à tentação dos doces e pela incapacidade de parar no fim do primeiro prato de feijoada.
Nossa história evolutiva explica por que a fome é uma sensação tão irresistível quanto a sede. Seres humanos que, no passado, eram capazes de comer muito e armazenar o excesso de calorias sob a forma de tecido adiposo deixaram mais descendentes que lutam contra a balança em razão da fartura atual.
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A necessidade de economizar calorias preciosas no tempo das vacas magras é a razão do paradoxo que cerca a atividade física. Não apenas estamos cansados de saber que o exercício faz bem para o organismo, como sentimos grande bem estar depois de praticá-lo. Por que, então, uma atividade reconhecidamente benéfica que, ainda por cima, traz prazer físico, é tão difícil de realizar?
Só pode ser por uma razão: o exercício físico vai contra a natureza humana. No intervalo das refeições, nossos familiares do tempo das cavernas faziam exercício ou ficavam sentados para economizar energia? Alguém já viu uma onça no zoológico correndo para exercitar os músculos? Ou um chimpanzé fazendo ginástica? Bem alimentado, o animal repousa, assim como nós que, depois do almoço de domingo, levantamos da mesa direto para nos refestelarmos no sofá.
Esse é o ideal da espécie humana: da mesa farta para a poltrona macia.
Mas, como vencer esses impulsos ancestrais, diante dos avanços da culinária e do conforto que nos poupa até de sacrifícios insignificantes, como girar a manivela para fechar o vidro do carro ou andar até a TV para mudar o canal?
Apesar de reconhecer que a biodiversidade humana é suficientemente complexa para não admitir regras úteis para todos, vou tomar a liberdade de fazer duas recomendações:
1) Se você está com excesso de peso, olhe para os alimentos da mesma maneira com que encara a bebida: é bom, mas em excesso prejudica. Fuja da tentação, levante da mesa imediatamente depois de esvaziar o prato. O centro da saciedade demora alguns minutos para ser ativado (a ponto de inibir o impulso da fome). Se você esperar atingir a saciedade completa, pode ter certeza de que comeu mais do que devia.
As necessidades energéticas do organismo diminuem com a idade. Não sejamos ridículos de, na maturidade, atacar a comida com a volúpia dos 15 anos.
Não vamos esquecer que nosso cérebro processa a perda de gordura como uma ameaça à sobrevivência e toma uma série de medidas drásticas para fazer o corpo voltar ao maior peso já alcançado.
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2) Se você é daquelas pessoas que esperam sentir disposição para praticar exercício, não perca tempo; ela jamais virá. Pode ser que dê o ar da graça num domingo, na praia, num sítio, mas, no dia-a-dia, esqueça: a natureza humana é sedentária. Para fazer exercício com regularidade, é preciso disciplina militar: acordar mais cedo, cumprir horários, não depender dos outros.
Se você é daquelas pessoas chegadas à autocomiseração (“pobre de mim, onde vou achar tempo”), saiba que isso é problema seu. Ou você acha que alguém o resolverá por você? Que alguém lhe dirá: como recompensa por você ser mãe dedicada ou pai responsável, exemplar no trabalho, vamos lhe reservar uma hora por dia para atividade física? Se você tiver mesmo tais qualidades, é mais provável que lhe roubem uma hora a mais de seu tempo já exíguo.
Para quem leva uma vida dura, que realmente não deixa espaço para o exercício metódico, regular, a única saída é incorporá-lo às atividades diárias. Pare o carro mais longe, vá a pé. Em vez de pedir para os outros, levante da cadeira e vá buscar. Carregue peso. Sempre existe uma escadaria por perto, e subir escadas é um exercício maravilhoso.