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Obesidade

Bactérias que engordam | Artigo

visão ampliada de bactérias no microscópio. bactérias e ganho de peso têm relação
Publicado em 11/07/2011
Revisado em 11/08/2020

Estudos detectam a presença de bactérias na flora intestinal de indivíduos gordos que podem ter relação com o ganho de peso.

 

Há mais bactérias no corpo humano do que sonha nossa vã filosofia.

Mais numerosas do que o total de células do organismo inteiro, elas colonizam a pele e as mucosas que revestem a superfície interna dos aparelhos respiratório, geniturinário e digestivo.

Veja também: Artigo do dr. Drauzio sobre obesidade

Na fase intrauterina, vivemos num ambiente estéril, porque a placenta cria uma barreira que impede a flora materna de chegar até nós. Assim que o útero de nossas mães decide expulsar o parasita que lhes consumiu as entranhas durante nove meses, caímos num mundo com germes no ar, na água, nas pessoas que nos embalam e até nos seios daquelas que nos alimentam com tanto amor.

Já na primeira mamada, nossos intestinos são invadidos por milhões de bactérias, decididas a encontrar um nicho ecológico que lhes permita cumprir o mandamento supremo da vida na Terra e em qualquer planeta em que tenham existido ou porventura venham a existir: crescei e multiplicai-vos.

Nos míseros 5 milhões de anos em que nossa espécie tem feito de tudo para sobreviver, as bactérias aprenderam que a simbiose com as células intestinais é estratégia mais inteligente do que invadir a mucosa, penetrar os tecidos internos, desorganizar a fisiologia humana e matar o hospedeiro. Em ambiente de convivência harmoniosa, podem ter acesso aos nutrientes que ingerimos e até ajudar a digestão de alimentos para os quais não estamos preparados sem despertar a ira do sistema imunológico.

Em 2006, um grupo da Universidade de Washington observou que os intestinos de ratos obesos abrigavam uma população de bactérias diferente daquela existente em seus companheiros magros. Três anos mais tarde, o mesmo grupo publicou na revista “Science” um estudo mostrando que ratos magros “alimentados” com a mesma flora bacteriana dos gordos, também ganhavam peso.

Por simples manipulação das bactérias que vivem no intestino, seria possível realizar o grande sonho das mulheres e dos homens modernos: comer e beber à vontade sem engordar?

Pode parecer uma ideia mirabolante, mas faz algum sentido. Há muito tempo os criadores sabem que adicionar pequenas doses de antibióticos à ração faz o gado engordar, e que o efeito é tão mais evidente quando mais cedo começa o tratamento dos bezerros.

O que não está claro é se as diferenças encontradas entre os microbiomas intestinais são a causa ou a consequência da obesidade, ou se representam fatores que apenas contribuem para que ela se instale.

Se com o gado ocorre esse fenômeno, será que os antibióticos receitados às crianças, desde a descoberta da penicilina, não estariam implicados na epidemia de obesidade que se dissemina pelos cinco continentes?

No último Congresso Internacional sobre o Microbioma Humano, na cidade de Vancouver, Martin Blaser, da Universidade de Nova York, apresentou um trabalho comparando dois grupos de ratos criados em condições comparáveis: o primeiro recebeu diariamente doses baixas de antibióticos, enquanto o segundo não foi medicado. No final, os ratos alimentados com antibióticos tinham flora intestinal com menor diversidade do que os outros, pesavam 15% mais e acumulavam 25% mais gordura no fígado (esteatose hepática).

Pesquisadores do consórcio Meta-HIT que se dedicam a investigar a relação entre as condições de saúde e os genes bacterianos presentes no intestino humano, compararam os genes das bactérias presentes nas fezes de 177 dinamarqueses magros com aqueles detectados em 122 conterrâneos obesos ou com excesso de peso. Enquanto as fezes da maioria dos participantes continham cerca de 600 mil genes bacterianos diferentes, pelo menos um terço dos obesos apresentavam ao redor de 360 mil, indicando menor biodiversidade.

Foram identificadas seis espécies de bactérias cuja presença ou ausência permitia predizer em mais de 80% dos casos se pertenciam à flora intestinal de uma pessoa magra ou gorda, enquanto a análise dos fatores genéticos predisponentes à obesidade possibilitava prever com acerto apenas 58% das vezes.

O que não está claro é se as diferenças encontradas entre os microbiomas intestinais são a causa ou a consequência da obesidade, ou se representam fatores que apenas contribuem para que ela se instale.

Ainda levará tempo para surgir um iogurte rico em bactérias capazes de emagrecer sedentários que bebem sem moderação e comem tudo o que lhes oferecem.

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