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Neurologia

Sinestesia: por que algumas pessoas misturam os sentidos?

Cor de alegria ou cheiro de rock: quem tem sinestesia, interpreta o mundo a partir de vários sentidos diferentes. Saiba mais sobre a condição.
Publicado em 21/11/2023
Revisado em 21/11/2023

Cor de alegria ou cheiro de rock: quem tem sinestesia, interpreta o mundo a partir de vários sentidos diferentes. Saiba mais sobre a condição.

 

Algumas músicas têm gosto adocicado, outras são meio amargas. Palavras específicas são vermelhas, enquanto outras aparecem azuis. As vozes têm cheiro de flores, mas às vezes podem se assemelhar ao odor de leite azedo. Para quem tem sinestesia, o mundo é assim — uma mistura de diversos sentidos.

 

O que é a sinestesia?

Na população em geral, os cinco sentidos são interpretados através do sistema sensorial. Órgãos como pele, língua, nariz, ouvidos e olhos possuem células especiais chamadas de receptores. Esses receptores captam estímulos do ambiente e levam até o sistema nervoso central na forma de impulsos elétricos. É lá que o cérebro processa as informações e gera respostas: a percepção do frio ou quente, a sensação de dor, o gosto da comida, entre outras.

Todo esse processo acontece em rotas específicas, que não se cruzam. No caso do sinesteta, não é bem assim: os sentidos passam a ser percebidos de uma vez só.

“É como se o cérebro daquela pessoa tivesse ‘bugado’ na parte de interpretação sensitiva. Ela vivencia uma fusão, uma mistura dos sentidos”, explica o neurologista dr. Saulo Nader.

 

A sinestesia é uma doença?

A sinestesia é apenas uma forma diferente do cérebro interpretar os sinais ao seu redor. “Ela não é considerada uma doença nem um transtorno neurológico ou psiquiátrico. É uma particularidade de algumas pessoas”, detalha o neurologista.

Estima-se que cerca de 1% a 4% da população mundial seja sinesteta. É possível que 15% da humanidade também experimente algum tipo de sinestesia ao longo da vida.

Os estudos ainda são recentes, por isso, é difícil falar em causas para a condição. Acredita-se que exista uma influência genética, sendo mais comum em mulheres e pessoas canhotas. Em geral, acontece ao acaso, mas também pode ser provocada por lesões na cabeça ou AVC (acidente vascular cerebral).

“Muitas vezes, a gente vê acontecer em crianças e adolescentes. Eles podem perder a capacidade sinesteta ao longo da vida, como se fosse uma imaturidade do cérebro. Depois que ele amadurece, isso desaparece. Por outro lado, existem pessoas que vão ter para sempre e outras que só vão começar a sentir na idade adulta, então não existe uma regra”, afirma o dr. Saulo.

 

Como a sinestesia se manifesta?

A fusão da percepção sensorial é um fenômeno bastante individual, já que cada sinesteta tende a associar os sentidos de forma involuntária, única e permanente. Para um sinesteta, a alegria pode vir associada à cor verde; enquanto para outro, o mesmo sentimento é rosa.

Segundo o pesquisador Sean Day, doutor em linguística pela Universidade de Purdue, em Indiana, nos Estados Unidos, e presidente da Associação Internacional de Sinestetas, Artistas e Cientistas (Iasas, em inglês), existem 73 tipos de sinestesia. Os sinestetas podem vivenciar uma ou diversas relações de sentidos. As mais comuns são:

  • Emoções com cheiro;
  • Sabores com temperatura;
  • Cheiros com sons;
  • Palavras com gosto;
  • Símbolos com personalidades. 

 

Quando procurar ajuda?

Como não é uma doença, não é preciso procurar tratamento para a sinestesia. No entanto, é importante ficar de olho se a condição estiver atrapalhando a comunicação ou o processo de aprendizado das crianças.

“Se a criança traz algum tipo de sinestesia, é indicado passar por um psiquiatra ou psicólogo e avaliar através de baterias neurocognitivas e avaliações neuropsicológicas se há alguma influência no aprendizado. Mas não é comum, normalmente não há uma grande repercussão na vida da pessoa”, recomenda o neurologista.

Veja também: Mecanismo da fala na criança | Entrevista

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