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Útero didelfo: o que acontece quando a pessoa nasce com dois úteros?

Algumas pessoas nascem com dois úteros e passam a vida sem perceber. Outras sofrem com dores intensas por causa deles. Conheça essa condição, chamada de útero didelfo.
Publicado em 17/06/2024
Revisado em 24/06/2024

Algumas pessoas nascem com dois úteros e passam a vida sem perceber. Outras sofrem com dores intensas por causa deles. Conheça essa condição, chamada de útero didelfo.

 

Pode parecer estranho, mas algumas pessoas nascem com dois úteros. Esse órgão “adicional”, na verdade, é consequência de uma má-formação das estruturas do sistema reprodutivo feminino. Quando dão origem a duas cavidades uterinas, tem-se o útero didelfo.

O útero didelfo nem sempre apresenta sintomas e também não exige tratamento. Mas, em alguns casos, pode causar complicações à saúde.

 

Útero normal x útero didelfo

Ainda na fase embrionária, existem algumas estruturas rudimentares chamadas de ductos de Müller, nome que homenageia o biólogo alemão Johannes Peter Müller. Conforme o feto se desenvolve, elas ficam responsáveis por formar o útero e seus ligamentos, as tubas uterinas e os dois terços superiores da vagina. A vulva (parte externa) é formada separadamente, assim como os ovários.

No caso de um útero normal, as duas porções dos ductos de Müller se fundem e tudo é formado conforme o esperado. No entanto, quando existe qualquer problema nesse processo, surgem as má-formações uterinas ou anomalias müllerianas congênitas. 

“Quando a gente tem uma falha dessa fusão, pode aparecer uma série de malformações, e aí é um espectro muito grande. O útero didelfo representa o extremo do espectro, no lado oposto ao que é a normalidade”, explicaRaquel Magalhães, ginecologista especialista em cirurgia ginecológica minimamente invasiva.

Nesse caso, há a formação de dois úteros, cada um com sua tuba uterina, ovário e colo uterino. A vagina pode ou não estar dividida por uma membrana. 

 

Como fica a menstruação em quem tem útero didelfo?

De forma geral, o útero didelfo é assintomático. Mas, em algumas pessoas, ele pode intensificar os sintomas presentes no ciclo menstrual.

“Pensa que eu não estou falando de dois úteros perfeitos. A paciente pode ter útero didelfo, mas, por alguma razão, o colo do útero é malformado. Tem uma ‘pelezinha’ ali que obstrui a saída. Então, essa menina ou não menstrua ou começa a ter dor cíclica. Ela teria sangue para menstruar, mas, por causa dessa obstrução, não consegue. Dali a um mês, ela menstruaria de novo e aí vai acumulando esse tecido menstrual dentro do útero”, ilustra a ginecologista.

Dessa forma, os principais sinais da condição são atraso na primeira menstruação, irregularidade menstrual ou dor fora do período da menstruação. Além disso, é possível que a pessoa sinta dor durante as relações sexuais, dificuldade para engravidar ou apresente ainda algum tipo de má-formação urinária.

Veja também: Entenda as fases do ciclo menstrual

 

Como é feito o diagnóstico?

Se o ginecologista não sabe que existe o útero didelfo, é possível que o exame ginecológico seja feito normalmente. Ao passar o espéculo, ele encontra um colo do útero e faz o Papanicolau, sem se dar conta da má-formação. Segundo a dra. Raquel, é preciso que o profissional preste atenção nos detalhes: 

“A paciente pode ter uma vagina mais tortuosa, um fundo de vagina mais constrito, um colo do útero muito pequenininho e meio tortinho. Tem alguns caracteres no exame físico ginecológico que podem nos levar a pensar”, explica a especialista.

Além disso, é importante que a paciente tenha o suporte de um bom radiologista. Isso porque o diagnóstico radiológico, através de ultrassom ou ressonância, pode apresentar laudos conflitantes. 

“Eu preciso de um radiologista especializado para ele bater o martelo e dizer: isso é um útero didelfo. Porque eventualmente, vai mudar a minha conduta frente ao acompanhamento dessa paciente ou até o planejamento de uma futura gestação”, afirma.

 

Quem tem útero didelfo pode engravidar?

Se alguma das duas cavidades uterinas ou ambas funcionarem, a mulher consegue engravidar. Ela pode ou não ter dificuldade, mas não se torna infértil por causa da má-formação.

Em caso de algum problema, há o processo de fertilização in vitro, que deposita o embrião dentro de uma das cavidades uterinas. A gestação tende a correr bem, mas há um risco aumentado de prematuridade ou de incompetência istmocervical, quando o colo do útero se abre por não sustentar o peso da gestação, inviabilizando o nascimento do bebê.

“Em linhas gerais, é um pré-natal sem risco para a mãe, então, ela não vai ser mais risco de desenvolver diabetes, pressão alta ou alguma complicação. Mas a gente vai ter que tomar cuidado, porque é um útero não normal que pode levar ao trabalho de parto antes da hora ou com menos espaço para o desenvolvimento do bebê”, diz a dra. Raquel.

Apesar de raro, é possível, inclusive, ter uma gestação em cada cavidade uterina, simultaneamente ou não.

 

É preciso tratar o útero didelfo?

Não há indicação de intervenção cirúrgica para transformar os dois úteros em um só ou para retirar um deles. O procedimento se restringe a má-formações uterinas ou vaginais que causem desconforto na relação sexual. 

Por outro lado, a paciente pode enfrentar dificuldades para colocar o dispositivo intrauterino (DIU), já que uma contraindicação desse método é ter qualquer deformidade na cavidade uterina. No entanto, todas as outras opções de anticoncepcionais estão liberadas, a depender das especificidades e desejos de cada mulher.

O que ela precisa ficar atenta após o diagnóstico do útero didelfo é a presença de má-formações renais, pois os ductos que formam o útero estão muito próximos daqueles que formam o sistema urinário.

“A gente pode ter uma perda de função renal e a paciente precisa saber isso. Isso, sim, pode comprometer a saúde dela a médio e longo prazo”, destaca a ginecologista.

Veja também: Principais métodos anticoncepcionais | Infográfico

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