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Fertilização in vitro: entenda como funciona o procedimento

Publicado em 22/11/2023
Revisado em 20/09/2024

Opção não apenas para casais com questões de fertilidade, a prática é indicada para mulheres que desejam adiar a gravidez ou que optam por uma produção independente, por exemplo.

 

No universo da reprodução humana assistida, a fertilização in vitro (FIV) tem se destacado como uma alternativa eficaz para casais que enfrentam desafios relacionados à infertilidade, mas não apenas para as pessoas com esse perfil. Entenda as nuances do procedimento, suas indicações, etapas, taxas de sucesso e possíveis riscos.

 

Indicações da fertilização in vitro

“A FIV é indicada em casos de infertilidade sem causa aparente, que são aquelas causas em que não se encontra uma explicação. Mas elas podem ser de fundo genético, elas podem ser devido a questões masculinas, ou seja, relacionadas aos espermatozoides, e relacionadas à idade”, explica a dra. Natália Gonçalves, geneticista e gerente de genética reprodutiva da Dasa Genômica. 

A dra. Fernanda Guttilla, ginecologista, obstetra e responsável técnica pelo laboratório de reprodução assistida do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, diz que embora seja comumente indicada para casais que enfrentam problemas de infertilidade, especialmente quando relacionados à obstrução das tubas uterinas ou alterações nos espermatozoides, ao longo dos anos as indicações têm se expandido.

Além dos casos clássicos de infertilidade, a FIV também é recomendada para casais que não obtiveram sucesso em tratamentos de baixa complexidade, como inseminação intrauterina (procedimento em que se deposita os espermatozoides diretamente na cavidade uterina) e relações sexuais programadas (utilização de medicamentos e acompanhamento para que a relação sexual seja realizada no melhor momento para que ocorra a gravidez). 

“A produção independente também entra no cenário, permitindo que mulheres sem parceiros recorram ao sêmen de um doador para realizar o desejo de serem mães, assim como para casais homoafetivos”, explica a dra. Fernanda. “Outro cenário crescente é o congelamento de óvulos, uma opção cada vez mais escolhida por mulheres mais jovens que desejam adiar a maternidade. Esses óvulos congelados podem ser usados posteriormente em um procedimento de FIV, oferecendo uma alternativa para aquelas que buscam garantir a viabilidade reprodutiva no futuro.”

A questão da idade é crucial quando se trata de decidir pela fertilização in vitro. Segundo a dra. Fernanda, a partir dos 35 anos, o período de tentativas para engravidar é reduzido para seis meses, e após um ano sem sucesso, a investigação e a possível recomendação da FIV entram em cena. “Para mulheres com mais de 38 anos, os tratamentos de baixa complexidade, como a relação sexual programada, apresentam taxas de sucesso significativamente mais baixas. Portanto, a FIV é indicada mais precocemente para esse grupo de pacientes, bem como para aquelas com baixa reserva ovariana.”

        Veja também: Como funciona o congelamento de óvulos

 

Etapas do procedimento

A FIV envolve diversas etapas, desde a estimulação ovariana até a transferência do embrião para o útero. O processo começa com exames para investigar possíveis causas de infertilidade e para programar a estimulação ovariana.

“A estimulação ovariana é realizada na maioria das vezes no período menstrual. Ela dura geralmente entre nove a 13 dias e durante o período a paciente utiliza hormônios, na maioria das vezes, injetáveis. A seguir, ocorre a aspiração dos óvulos, um procedimento no qual os óvulos são retirados pela vagina, com a paciente sedada. Esses óvulos são então levados ao laboratório para a fertilização”, diz a dra. Fernanda. “A quarta etapa consiste no desenvolvimento embrionário no laboratório, onde óvulos e espermatozoides são unidos, e o desenvolvimento é monitorado até o quinto ou sexto dia. A última etapa é a transferência do embrião para o útero da mulher, que pode ocorrer fresco, sem tecido congelado, ou após congelamento.”

 

FIV no SUS

No estado de São Paulo, o procedimento é oferecido pelo SUS, na Universidade de Sâo Paulo (USP) e no Hospital Pérola Byington. “A paciente precisa procurar primeiro um posto de saúde próximo a sua residência, agendar consulta com ginecologista e ser encaminhada. O tratamento nestes dois locais é gratuito. Tem uma fila de espera, uma triagem e a idade limite de 39 anos para realizar o tratamento”, diz a dra. Fernanda.

Todo o procedimento pode ser bastante desgastante e complexo quando feito pelo SUS, segundo a dra. Natália. Os processos costumam ser burocráticos e é necessário se encaixar em critérios específicos. A espera é grande, pode levar de um a sete anos para se ter acesso ao serviço. Para conferir os locais e estados que oferecem o procedimento gratuitamente pelo SUS, clique aqui.

 

Taxas de sucesso e reserva ovariana 

Sobre as taxas de sucesso, é importante considerar a qualidade do embrião. A taxa de gravidez varia conforme a idade e a qualidade do embrião. Segundo a dra. Fernanda, para mulheres até 35 anos, a taxa por transferência é em torno de 50%, mas esse número diminui com o aumento da idade.

“A qualidade do embrião está intrinsecamente ligada à sua composição cromossômica. Embriões cromossomicamente normais têm maior potencial de gestação. A biópsia embrionária, que examina a composição genética, é uma opção, especialmente para mulheres mais velhas, para buscar esse tipo de embrião”, diz. Com esse tipo de procedimento, a taxa de sucesso pode chegar a 55% por transferência. 

A dra. Natália explica que conforme os óvulos vão ficando mais velhos, há mais risco de que ocorra falhas genéticas chamadas aneuploidias, um aumento ou diminuição de cromossomos. “Para diminuir as chances dessa falha, existe esse teste genético que coleta uma biópsia minimamente invasiva e retira de uma parte segura, que vai formar a placenta e não o embrião em si, algumas células. Em laboratório, haverá uma verificação da quantidade de cromossomos.” 

A reserva ovariana, indicador crucial da fertilidade feminina, é um fator determinante, e exames como a contagem de folículos antrais e testes hormonais são utilizados para avaliá-la. A dra. Fernanda alerta que mesmo mulheres mais jovens devem considerar a avaliação da reserva ovariana, pois a queda na reserva pode ocorrer antes do esperado. Ela destaca que a conscientização sobre a reserva ovariana é fundamental, mesmo para mulheres que inicialmente não planejam engravidar.

“Para pacientes jovens de cerca de 30 anos que não sabem se querem engravidar agora, vale a pena verificar a reserva ovariana, porque temos a constatação de que atualmente as pacientes possuem uma reserva mais baixa. Uma mulher jovem pode ter uma baixa reserva e não saber”, alerta.  

Os principais exames de para verificar essa reserva são:

  • Contagem de folículos antrais: ultrassom feito no período menstrual. Quanto maior a quantidade, maior a reserva ovariana;
  • Exame de sangue hormonal: exame antimülleriano, que faz uma estimativa da reserva ovariana, deve ser feito sem que a paciente esteja utilizando nenhum método hormonal. 

        Veja também: As dificuldades dos tratamentos para infertilidade | Coluna

 

Riscos e complicações da FIV

Ao abordar os riscos e complicações associados à FIV, a dra. Fernanda destaca que, geralmente, eles são baixos. “A síndrome da hiperestimulação ovariana, que vem de uma resposta exagerada a essa primeira etapa do processo, é uma complicação possível, mas rara”, esclarece.  

Os efeitos colaterais da estimulação ovariana incluem desconforto abdominal, cólicas, retenção de líquido, sensibilidade nas mamas, enjoo, aumento do sono e alteração de humor. Ela também aborda brevemente o risco de trombose venosa que pode decorrer dessa primeira etapa, mas ressalta que complicações graves são extremamente raras (menos de 1% de risco). 

Sobre o procedimento em si, na parte do processo em que a agulha entra pela vagina para puncionar o ovário, existe um pequeno risco de sangramento e de lesão de algum órgão próximo ao ovário, como intestino e bexiga. 

Outra questão a se considerar é o risco maior de acontecer a transferência da mais um embrião, dando a possibilidade de uma gravidez gemelar. Também há risco de abortamento. 

A dra. Natália chama a atenção para as consequências emocionais e psicológicas que envolvem a FIV, como o trauma que vem das repetidas tentativas que podem acontecer, uma vez que há  pacientes que passam por vários ciclos de fertilização. “Essa paciente tem uma questão psicológica, emocional e financeira muito grande porque ela passa por um desgaste. Ela pode fazer a transferência do embrião e esse embrião não implantar ou ela pode ter o processo do embrião implantar, começar a se desenvolver e abortar, que é um processo ainda mais traumático”, diz. 

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