Método tem como objetivo proteger as chances de engravidar após os 30 anos. Entenda como é o passo a passo.
Qual é a idade máxima para engravidar? Essa é uma pergunta complexa do ponto de vista da medicina, além de extremamente pessoal. Mas basta uma rápida busca na internet para chegar a um número mágico: os 30 parecem ser o tudo ou nada para quem tem o desejo de gestar.
Em termos médicos, de fato a fertilidade da mulher está relacionada à idade. Isso porque, diferente dos homens, que produzem novos espermatozoides ao longo da vida, as mulheres nascem com uma quantidade específica de óvulos – cerca de 2 milhões –, que vai diminuindo com o passar do tempo. Dessa forma, de acordo com estudos e com os especialistas, a melhor idade para a reprodução feminina seria até os 35 anos, quando a quantidade de óvulos começa a diminuir, e a probabilidade de complicações para a mãe e o bebê – como malformações, hipertensão, pré-eclâmpsia etc. – começa a aumentar. Homens também sofrem o impacto do tempo quando o assunto é fertilidade, embora de forma mais branda. Mas isso está longe de ser um veredicto imutável.
Os métodos de reprodução assistida evoluíram o suficiente para aumentar a sobrevida da maternidade. A fertilização in vitro, que utiliza os óvulos congelados para realização da reprodução assistida, surgiu na década de 1980, mas se popularizou apenas no início dos anos 2000. Seu objetivo inicial era preservar a chance de ser mãe daquelas mulheres que passavam pelo tratamento contra algum câncer. Assim, congelar os óvulos era uma forma de protegê-los contra os efeitos da quimioterapia.
Mas logo o congelamento de óvulos passou a ser também uma alternativa para aquelas que ainda não têm certeza sobre a vontade de gestar. Seja pela idade, seja pela fase de vida atual ou ainda pela busca da parceria ideal para dividir a criação de um filho.
Como é feito o congelamento de óvulos?
Primeiro, é feita a indução do aumento da ovulação através da utilização de hormônios, já que, em condições normais, a mulher costuma liberar apenas um óvulo por ciclo menstrual, e o ideal é aumentar essa quantidade para cerca de 10 a 15 óvulos, já que durante o processo costumam ocorrer perdas. O dr. Carlos Alberto Petta, médico especialista em tratamentos de fertilidade e de reprodução humana e membro da Sociedade Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva, explica.
“É um procedimento tranquilo. Quando a paciente menstrua, faz uma avaliação por ultrassom. Se estiver tudo bem, começamos o processo. Durante uns 10 dias, ela vai tomar hormônio através de pequenas agulhas, semelhantes às de insulina, e a aplicação pode ser realizada pela própria paciente. Nesse período, realizamos mais alguns ultrassons para acompanhar e partir para a coleta em si, caso esteja tudo como o esperado.”
Uma vez que o organismo produz a quantidade desejada de óvulos para o congelamento, os óvulos são aspirados dos folículos localizados nas tubas uterinas. Em seguida, os óvulos avaliados que se mostrarem saudáveis são congelados no nitrogênio líquido e podem permanecer nesse estado por tempo indeterminado.
Isso tudo sem técnicas cirúrgicas invasivas. “O processo é feito por ultrassom vaginal, com uma sedação mais leve do que em uma endoscopia, e dura de 5 a 10 minutos. A paciente fica na clínica cerca de 40 minutos e já pode ir para casa”, elucida o especialista.
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Descongelamento
Quando a mulher decide utilizar os óvulos, eles são descongelados e é feita a fertilização in vitro comum, quando ocorre a fecundação dos óvulos com o sêmen do doador, que pode ou não ser o parceiro da paciente. Os embriões bem-sucedidos são entregues para as embriologistas, responsáveis pelo diagnóstico genético pré-implantacional (PGD), que analisa a saúde dos embriões obtidos na fertilização.
E quais são as chances de engravidar com o congelamento de óvulos?
As chances variam de acordo com alguns fatores, como:
- A idade que a paciente tinha quando os óvulos foram congelados, já que, quanto mais nova, maior a quantidade e melhor a qualidade dos óvulos;
- A quantidade de óvulos que sobreviverão ao descongelamento (a taxa costuma ser de 85% a 95%);
- A idade que a mulher terá ao realizar o implante do embrião no útero e iniciar a gestação de fato.
Não há a garantia de gestação, mas as chances aumentam consideravelmente quando comparadas às possibilidades de gravidez por método natural. Uma mulher saudável de 30 anos tem cerca de 20% de chance mensal de engravidar naturalmente, enquanto uma de 40 a 44 anos tem menos de 5%. Com o congelamento dos óvulos antes dos 35 anos, essa mesma mulher de 40 anos aumenta sua possibilidade de gestação para cerca de 60% a 80% por tentativa via fertilização in vitro.
Quem pode fazer o congelamento de óvulos?
De modo geral, não há contraindicações para o procedimento. O maior obstáculo acaba sendo o acesso, já que o procedimento ainda é custoso e só costuma ser coberto por planos de saúde ou disponibilizado no SUS para pacientes em tratamento de algum câncer, como ressalta o dr. Carlos.
“O processo completo do congelamento de óvulos custa em torno de R$ 13 mil a R$ 15 mil. Os planos normalmente não cobrem, só nos casos em que a paciente entra com processo alegando que o procedimento é motivado pelo tratamento de algum câncer. No SUS existem serviços de fertilização in vitro, mas em geral não se faz o congelamento por razões sociais (que não estejam ligadas a problemas de saúde), para deixar guardado para usar mais para a frente.”
Além disso, há o custo de manutenção anual do congelamento dos óvulos, que permanecem preservados em nitrogênio líquido, que fica em torno de R$ 1 mil por ano. Caso o tempo passe e a paciente mude de ideia, basta solicitar para a clínica responsável que os óvulos sejam descartados. Ou, se preferir, é possível verificar a possibilidade de doar os óvulos para outra mulher, medida regulamentada no Brasil desde 2021 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
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Tenho condições de congelar os óvulos. O que devo levar em consideração?
Como já mencionamos, a ideia do congelamento de óvulos é preservar a chance da maternidade depois da faixa dos 35 anos. Por isso, a recomendação é congelar os óvulos até essa idade. O procedimento pode ser aliado tanto daquelas que têm certeza da vontade de gestar, mas não desejam engravidar no momento, quanto daquelas que ainda têm dúvidas sobre ter ou não filhos, para que possam pensar com mais calma sobre essa decisão sem a pressão do tal relógio biológico.
De qualquer maneira, não se apresse e nem se sinta pressionada a tomar essa decisão. Se possível, busque grupos de pessoas que já passaram ou estão passando pela mesma experiência para conversar sobre os pontos que a deixam em dúvida – além, é claro, do diálogo aberto com o seu médico.
A atriz Karina Dohme, 37 anos de idade, foi uma das mulheres que optou pelo congelamento, e compartilha um pouco do que a levou a essa decisão, juntamente do marido, Lucas Camargo. “Tenho o desejo de ser mãe, mas não me sinto segura para fazer isso agora. Estou num momento da minha carreira no qual preciso me dedicar ainda mais, e sinto que equilibrar essa demanda com a mãe que quero ser é impossível nesse momento. Ao mesmo tempo, sinto que meu relógio biológico não para em função disso. O congelamento foi uma forma de me garantir uma certa tranquilidade para postergar um pouco mais a maternidade. Caso eu não consiga engravidar naturalmente daqui a 2 ou 3 anos, eu terei uma outra chance.”
Ela ainda não realizou a fertilização in vitro – procedimento no qual o óvulo é fecundado com o espermatozoide e dá origem ao embrião, que posteriormente é introduzido no útero da mulher.
“Está previsto para outubro. Como os preparativos para o procedimento incluem uma carga grande de medicamentos que podem inchar um pouco e mexer com os hormônios, além de ultrassons frequentes, eu decidi concluir meu atual projeto profissional antes de realizar o procedimento, mas eu estou bem tranquila. Acho que por isso é tão importante ter um médico de confiança e estar bem segura e esclarecida sobre todos os detalhes desse processo”, relata Karina.
Sem pressão
“Sei que não há o ‘momento perfeito’ para ser mãe, frase que escuto bastante das pessoas quando digo que ainda não tenho filhos, mas eu e meu marido realmente gostaríamos de estar um pouco mais estáveis para dar esse passo importante”, finaliza Karina.
A verdade é que, da mesma forma em que não há o “momento perfeito” para ser mãe, passar por uma gestação não é – e nem deve ser – um objetivo universal na vida das mulheres. Se conheça, conheça os seus objetivos, tenha uma troca honesta com seu parceiro ou parceira e então busque profissionais sérios que possam auxiliá-la na trajetória da maternidade, seja ela mais tardia ou não.
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