Taxa de abandono do tratamento da tuberculose no Brasil chega a 9%, quando o máximo estabelecido pela OMS é 5%. Veja medidas que podem melhorar o quadro.
A tuberculose é um problema sério de saúde pública. O Brasil ocupa o 17º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos em todo o mundo.
A principal forma de prevenção é aplicando a vacina BCG (sigla para “Bacilo de Calmette-Guérin”) em dose única, logo após o nascimento, de acordo com o Calendário Nacional de Vacinação. Essa é a vacina que deixa uma cicatriz no braço, que levamos por toda a vida. No passado, recomendava-se a revacinação caso não houvesse cicatriz, mas o Ministério da Saúde não faz mais essa orientação.
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A BCG é eficaz contra os tipos mais graves da doença, como a tuberculose miliar e a meningite tuberculosa, mas é importante ressaltar que não previne 100% contra a tuberculose pulmonar. Ela é contraindicada para bebês prematuros com menos de 2 kg, pessoas imunodeprimidas e recém-nascidos de mães que, durante a gestação, utilizaram medicamentos que possam ter provocado imunodepressão no feto.
Apesar de ser uma doença que tem vacina e da elevada taxa de cura, boa parte dos pacientes abandona o tratamento no meio. A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que os programas de tratamento da tuberculose tenham uma taxa de abandono inferior a 5%. No Brasil, por sua vez, de acordo com as estimativas do Ministério da Saúde, esse número chega a 9%. Segundo Aglaé Gambirasio, enfermeira do Instituto Clemente Ferreira, referência no tratamento de tuberculose no Estado de São Paulo, um dos grandes motivos do abandono do tratamento é que os pacientes melhoram rapidamente, logo nas primeiras semanas. Com apenas quatro comprimidos diários, em aproximadamente 15 dias os sintomas de inapetência, febre, emagrecimento acentuado e tosse diminuem consideravelmente. A pessoa até deixa de transmitir a doença, mas a questão é que ela não está curada.
O tratamento é longo porque o bacilo da tuberculose cresce fora e dentro das células de defesa do organismo. Quando está fora, ele se replica muito depressa e adquire resistência rapidamente. Dentro da célula, cresce mais lentamente, e por isso é preciso usar uma droga que penetre a estrutura, a fim de bloquear o crescimento da bactéria em seu interior.
“No Instituto, tratamos os casos complicados de tuberculose. São pacientes com doença multirresistente e que já estão em seu sétimo, oitavo tratamento. O grande problema é que as possibilidades terapêuticas vão diminuindo e um tratamento que era para durar seis meses perdura por mais de quatro anos. Sem contar que o abandono acaba encarecendo o tratamento”, esclarece.
O Estado de São Paulo possui o maior número absoluto de casos de tuberculose do Brasil. Foram 16.889 casos novos descobertos em 2015. A Secretaria de Estado da Saúde não soube informar a taxa de desistência do tratamento.
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Outra dificuldade é que o paciente que segue o tratamento precisa ir diariamente até o posto para receber os medicamentos, para garantir que ele irá ingerir os remédios. Como muitos moram longe da unidade básica de saúde, alguns acabam deixando de comparecer ao posto, o que aumenta ainda mais o prazo de conclusão do tratamento.
Para tentar reverter o quadro, já que muitos dos pacientes com tuberculose são indivíduos em vulnerabilidade social, como pessoas em situação de rua ou cárcere, pacientes com HIV e aids e dependentes químicos, a nova estratégia de controle da tuberculose pós-2015 da OMS recomenda algumas ações específicas, como auxílio-alimentação e transporte gratuito. Segundo dados do último boletim de tuberculose do MS, dos 181 municípios prioritários para o controle da doença no Brasil, 44% informaram disponibilizar um ou mais tipos de benefício social ou incentivo de adesão ao tratamento da tuberculose.
As unidades de saúde do Estado de SP, por exemplo, fornecem um lanche logo após o paciente receber os remédios, pois as drogas precisam ser ingeridas em jejum. “É muito importante divulgar para a população que a doença tem tratamento e pode ser curada. O diagnóstico precoce também é importante, por isso a pessoa deve procurar ajuda médica se apresentar tosse crônica, com ou sem catarro, há mais de três semanas, perda de peso e dor no peito”, complementa.
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