Vergonha dificulta diagnósticos de incontinência urinária

Nem médico nem paciente falam sobre, e condições envolvendo perda urinária muitas vezes não chegam a ser abordados no consultório.

Médico conversa com paciente em consulta.

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Nem médico nem paciente falam sobre, e condições envolvendo perda urinária muitas vezes não chegam a ser abordados no consultório.

 

Homens geralmente dão menos atenção à saúde que as mulheres, e é comum não buscarem orientação nem realizarem exames de rotina para saber se há algo errado. A consequência é que recebem diagnósticos tardios ou sofrem por anos com alguma queixa que poderia ser resolvida, mas que não foi levada a um especialista. Muitas vezes, mesmo quando chegam ao consultório, sentem receio e até vergonha de relatar determinados problemas. O paciente deve falar sobre sua saúde, mas abrir esse diálogo também é papel do médico.

Na visão do urologista José Carlos Truzzi, alguns médicos falham ao não abordar com seus pacientes certos assuntos que são alvo de constrangimento, como é o caso da incontinência urinária. “Poucos são os pacientes que têm incontinência e buscam atendimento. É mais ou menos um quarto apenas que vai procurar algum tipo de tratamento, isso entre homens e mulheres. A pessoa se sente mal por ter que fazer uma avaliação, parece que ela está expondo uma fragilidade.”

Veja também: Como a incontinência urinária funciona?

Esse é um problema que dificulta muito o diagnóstico, porque se médicos não perguntam – e não é hábito da maior parte dos médicos perguntar se a pessoa tem perda de urina ou como é seu padrão miccional –, a condição acaba passando batida. A situação é bem diferente do que ocorre com outras doenças como hipertensão, diabetes ou gastrite, sobre as quais os pacientes falam abertamente.

“É preciso ter uma proatividade na busca desses sintomas. Realmente, é um tabu. Falar que tem uma incontinência urinária cria, sem dúvida, algum constrangimento, e isso acaba distanciando ainda mais essa pessoa da possibilidade de controle dessa perda, deixa-a mais suscetível a situações de vergonha por ter molhado a roupa, por exemplo. Isso é muito ruim”, completa o dr. Truzzi.

 

Causa da incontinência é o que define o tipo de tratamento

 

Para fazer o diagnóstico da incontinência urinária, o urologista precisa saber da ocorrência dos escapes involuntários de urina com informações sobre quando eles começaram a acontecer e se houve algum fator desencadeante. A partir daí é que o especialista irá indicar o tratamento mais adequado para cada caso.

As principais causas da incontinência urinária em homens são bexiga hiperativa (condição na qual a bexiga passa a ter uma atividade aumentada) e falha no esfíncter (músculo que ajuda a segurar a urina). A incontinência causada por bexiga hiperativa pode surgir em qualquer faixa etária, apesar de se tornar mais prevalente com o passar dos anos. Já a falha no esfíncter geralmente surge após uma cirurgia de prostatectomia, que consiste na retirada total da próstata, na maioria das vezes em razão de um câncer de próstata. Nesse caso, é mais comum ocorrer em homens idosos.

O tratamento varia de acordo com a causa. No caso da bexiga hiperativa, pode incluir mudança de hábitos, fisioterapia, medicamentos e, em casos mais graves, procedimentos cirúrgicos. No caso de falha no esfíncter causada pela prostatectomia, o tratamento pode ser feito com a colocação de dispositivos que ajudam a conter a urina.

 

Veja: Dr. Drauzio fala sobre incontinência urinária em homens.

Vale destacar: a condição só pode ser tratada se for diagnosticada. É óbvio, mas o que vemos são pacientes que em vez de buscar ajuda, vão dando um jeitinho para conviver com a condição. A incontinência urinária pode causar muito desconforto e prejudicar bastante a qualidade de vida. Há pessoas que deixam de sair e passear com medo de ter escapes. Não tenha vergonha de procurar ajuda se você tem notado perdas involuntárias de urina.

 

Como promover o diálogo com pacientes homens?

 

O urologista aponta que essa imagem masculina de “super-homem”, provedor do lar, que não pode ficar doente porque ficar doente é uma situação de fragilidade, é um conceito errado e que precisa ser quebrado. Cada indivíduo pode promover essa mudança a partir de sua própria reflexão e diálogo com as pessoas ao seu redor.

Veja também: Incontinência urinária em 5 perguntas

Quanto ao médico, a primeira atitude nesse sentido deve ser conversar de forma aberta com o paciente em consulta. Considerar que a vergonha existe e ser um agente que vai estruturar um ambiente acolhedor e que quebre essa vergonha. “Quando mais o médico apresentar informações para agregar à saúde e melhorar a qualidade de vida, mais ele vai ajudar esses pacientes a se abrirem e contarem sobre os problemas de saúde que vivenciam, tirar dúvidas. Muitas vezes, é puramente uma questão de orientação”, comenta. Por exemplo, no caso da incontinência urinária, enquanto o controle da urina não é retomado, o médico pode recomendar o uso de produtos específicos para essa condição, como absorventes, roupas íntimas descartáveis e fraldas adultas. Sem orientação, alguns pacientes acabam recorrendo a soluções caseiras que não têm eficácia.

“Se existe essa abertura, se existe a possibilidade de conversa e se essa conversa se torna mais franca, mais aberta entre o médico e os pacientes do sexo masculino, com certeza isso vai ajudar bastante”, destaca ele. “Essa ideia de que o homem não pode se mostrar suscetível a problemas de saúde é um conceito que tem que ser cada vez mais combatido”, finaliza.

 

Conteúdo desenvolvido em parceria com a TENA BRASIL.

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