Paracetamol só é perigoso em excesso

O hepatologista Raymundo Paraná explica que não há motivo para alarde, pois o medicamento é uma droga segura utilizada para controlar sintomas.

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Publicado em: 18 de outubro de 2013

Revisado em: 2 de abril de 2024

De acordo com especialistas, paracetamol só causa intoxicação quando ingerido em excesso, ou seja, se forem consumidos mais de 3 ou 4 gramas diários da droga, o equivalente a seis comprimidos de 500 mg.

 

O anúncio de que o paracetamol – princípio ativo de muitos medicamentos usados nos casos de dor e febre – causa a morte anual de 150 pessoas por intoxicação nos Estados Unidos gerou certo temor e muitas dúvidas em relação à sua utilização. Os dados, obtidos no período de 2001 a 2010, foram divulgados recentemente pela Pro Publica, organização sem fins lucrativos dos EUA.

Entretanto, segundo o hepatologista Raymundo Paraná, professor da Faculdade de Medicina da UFBA (Universidade Federal da Bahia), não é preciso alarde, pois o paracetamol só causa intoxicação quando ingerido em excesso, ou seja, se forem consumidos mais de 3 ou 4 gramas diários da droga, o equivalente a seis comprimidos de 500 mg. Além disso, é um medicamento de uso pontual, utilizado para controlar sintomas como dor de cabeça e febre, por exemplo, e não de uso prolongado.

“Entre os analgésicos e antitérmicos, o paracetamol é uma droga seguríssima. Tão segura que até os hepatologistas a receitam, inclusive para pacientes que tenham doença crônica de fígado, desde que não se ultrapasse 3 a 4 gramas diários”, esclarece.

 

Veja também: Paracetamol em excesso pode levar à morte?

 

O que ocorre é que nos Estados Unidos, Inglaterra e Dinamarca essa droga é utilizada de forma abusiva, sem nenhum controle e muitas vezes associada a outros medicamentos, o que aumenta os riscos de intoxicação.

“Há 20 vezes mais casos do gênero nesses países do que na França e Argentina, por exemplo. É algo cultural mesmo”, afirma o médico.

Ainda de acordo com o hepatologista, no Brasil existem poucos relatos de toxicidade grave pelo paracetamol. Mesmo diante da epidemia de dengue, quando esse medicamento é amplamente utilizado, não existem estudos que demonstrem com clareza que a toxicidade pelo paracetamol seja um problema de maior relevância para a saúde pública do país.

“Eu tenho conhecimento somente de dois casos de intoxicação no Brasil envolvendo paracetamol, mas ambos por uso excessivo intencional. Ainda assim, foi possível reverter os dois casos, pois se utilizou um antídoto a tempo”, explica. Os sinais de intoxicação são náuseas, olhos amarelados e dor abdominal e costumam ocorrer horas após o consumo.

O paracetamol é uma droga metabolizada no fígado. O medicamento segue por uma via na qual gera 90% de uma substância não tóxica, que não causa nenhum risco ao organismo. O composto que resta desse processo é  tóxico, mas quando a dose de paracetamol ingerida é baixa, o corpo consegue expeli-lo normalmente.

Entretanto, quando há uso abusivo da droga, o paciente consome álcool com certa frequência ou toma certos tipos de medicamentos, há uma sobrecarga nessa via “segura” e seu funcionamento fica comprometido. Nesse caso, um caminho alternativo é ativado, dentro do próprio fígado, gerando uma substância tóxica.

“Por esse motivo, o antídoto deve ser introduzido logo nas primeiras horas, para conseguir reverter a situação. Porque quando esse metabólico tóxico se acumula no fígado, ele consome uma molécula muito importante chamada glutadion, que tem como função impedir que radicais livres se concentrem nas células hepáticas. Se isso acontecer, as células morrem e há falência do órgão”, sintetiza.

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