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Tabagismo

Não é só o pulmão: veja 7 tipos de câncer relacionados ao cigarro

Publicado em 23/12/2024
Revisado em 19/12/2024

Além do câncer de pulmão, o tabagismo também está associado a outros tumores malignos igualmente perigosos. Entenda!

 

O tabagismo normalmente é associado ao desenvolvimento do câncer de pulmão, o que é compreensível, pois fumar é responsável por 80% das mortes causadas por esse tipo de tumor maligno em homens e mulheres no Brasil, segundo estudos. O cigarro, no entanto, também está intimamente ligado a outros cânceres, muitos deles com comportamentos biológicos agressivos e altamente prejudiciais à saúde humana. 

A Fundação Câncer identificou sete tipos de doenças associadas ao cigarro na 7ª edição de seu boletim periódico sobre câncer no Brasil, o info.oncollect, publicado em novembro. Para fazer a seleção, a entidade levou em consideração a incidência no país (frequência de novos casos na população em determinado período) e o quanto o cigarro está diretamente relacionado à enfermidade. 

São eles: cavidade oral, esôfago, estômago, cólon e reto, laringe, bexiga e colo do útero. Juntos, eles representam 17,2% do total de 704 mil novos casos de câncer estimados para 2024, segundo a pesquisa. 

Parar de fumar diminuiria de maneira substancial o número de casos desses sete tipos de tumores malignos, “beneficiando não apenas a saúde dos indivíduos, mas também o sistema de saúde como um todo, ao diminuir a pressão por diagnósticos e tratamentos de doenças potencialmente evitáveis”, informa o boletim.

 

Homens têm mais câncer?

No geral, os homens são mais afetados pelos cânceres associados ao tabagismo do que as mulheres. Isso ocorre, segundo o consultor médico da Fundação do Câncer, Alfredo Scaff, por causa dos hábitos adquiridos ainda nas décadas de 1980 e 1990. “O câncer é uma doença que leva anos, ou até décadas, para se desenvolver. Nos anos 1980 e 1990, os homens fumavam muito mais do que as mulheres. As pessoas que estão tendo esses cânceres ‘tabaco-relacionados’, portanto, são pessoas que fumaram muito naqueles períodos.” 

De acordo com o especialista, esse panorama pode mudar no futuro porque, a partir dos anos 2000, as mulheres começaram a fumar bastante também. “Acreditamos que, daqui a 20 ou 30 anos, essa diferença entre homens e mulheres deve sumir. Deve haver mais ou menos a mesma quantidade, porque essa diferença no hábito de fumar, entre os dois sexos, praticamente desapareceu.”

        Veja também: Pare de fumar: 21 passos para largar o cigarro

 

Tipos de câncer associados ao cigarro

Veja as descrições dos tipos de câncer relacionados ao cigarro, a incidência, a mortalidade e a letalidade. A mortalidade refere-se à proporção de mortes por uma doença específica em relação à população, enquanto a letalidade mostra o número de pessoas diagnosticadas com a doença que acabam morrendo. 

 

Câncer de cavidade oral

Ocorre no lábio e em várias partes da boca. A taxa de incidência em 2022, no Brasil, foi de 7,64 no sexo masculino e 2,61 no sexo feminino para cada 100 mil habitantes. No caso dos homens, há mais casos no Sudeste, a mortalidade é maior no Sul e a letalidade é elevada no Norte. Entre as mulheres, a incidência e a mortalidade são superiores no Nordeste. Já a letalidade é maior no Norte, alcançando 34%. A expectativa é que 15.100 casos novos desse tipo de câncer sejam registrados no Brasil neste ano, sendo 10.900 em homens e 4.200 em mulheres.

 

Câncer de esôfago

É um tipo de tumor maligno que afeta o esôfago, órgão do sistema digestório. Acomete 5,46 homens e 1,43 mulher a cada 100 mil indivíduos no Brasil, e tira a vida de cinco pessoas do sexo masculino e uma do sexo feminino. A letalidade supera 80% na maioria das regiões do país, em ambos os sexos. Para este ano, a estimativa é de 10.990 novos casos – 8.200 em homens e 2.790 em mulheres. A maior letalidade é no Sudeste.

 

Câncer de estômago 

O câncer de estômago é um tumor maligno que afeta o revestimento interno do órgão. Estima-se que 13.340 novos casos ocorram em homens neste ano, com incidência de 9,51 a cada 100 mil. Em 2022, 9.171 homens perderam a vida por causa dessa doença. A região Norte lidera em incidência, mortalidade e letalidade.

 

Câncer de cólon e reto

Também conhecido como câncer colorretal, afeta o reto e o intestino grosso. Em 2024, são estimados mais de 45 mil novos casos no país, sendo 21.970 em homens e 23.660 em mulheres. Em 2022, a doença foi responsável por 22.326 mortes. A incidência é 12,43 em homens e 11,06 em mulheres. A mortalidade é maior entre homens em todas as regiões, com exceção do Norte. A letalidade da doença variou entre 40% e 60% no Brasil. 

 

Câncer de laringe

É um tumor que se desenvolve na laringe, órgão localizado na região da garganta, entre a traqueia e a base da língua. Esse tipo de câncer é cinco vezes mais comum em homens do que em mulheres. Neste ano, segundo o estudo, o país deve registrar 7.790 casos novos, sendo 6.570 em individuos do sexo masculino e 1.220 em pessoas do sexo feminino. A letalidade estimada para o país é de 65%. 

 

Câncer de bexiga 

É o câncer que se forma na bexiga, órgão responsável por armazenar a urina antes de ela ser eliminada pelo organismo. Neste ano, o país pode registrar 11.370 novos casos – 7.870 em homens e 3.500 em mulheres. As taxas de incidência em 2022 foram de 3,96 pessoas do sexo masculino e 1,58 do sexo feminino a cada 100 mil habitantes, enquanto a mortalidade foi de 2,41 para homens e 0,92 para mulheres. A letalidade mais alta foi registrada na região Norte, sendo 59% nos homens e 61% nas mulheres.

 

Câncer de colo do útero 

Em 2024, o Brasil deve registrar cerca de 17 mil novos casos de câncer de colo do útero, causado principalmente pelo papilomavírus humano (HPV) e associado ao cigarro. A incidência e mortalidade no Brasil são de 13,25 e 4,79 a cada 100 mil mulheres, respectivamente. A região Norte tem as maiores taxas de incidência, mortalidade e letalidade, segundo o boletim. 

        Veja também: 30% das mortes por câncer estão relacionadas ao cigarro

 

Por que há diferenças entre as regiões? 

De acordo com o dr. Scaff, a variação da incidência de câncer nas regiões do Brasil reflete desigualdades no acesso aos serviços de saúde. Ele explica que, em estados como São Paulo, no Sudeste, as taxas de diagnóstico são mais altas, mas isso não significa necessariamente que há mais casos de câncer. “Uma das razões para isso é o maior acesso aos serviços de saúde e à capacidade de diagnóstico”, diz.

Já na região Norte, o cenário é diferente. Os diagnósticos de câncer, explica o médico, costumam ser feitos de “forma tardia”, o que contribui para altas taxas de mortalidade e letalidade. Quando o assunto é câncer de colo do útero, outro problema grave na região Norte, além da demora na identificação da doença e do tabagismo, é a baixa cobertura vacinal contra o HPV, segundo o especialista.

Um estudo publicado no ano passado, também pela Fundação Câncer, mostrou que a região Norte apresentou a menor cobertura vacinal completa (primeira e segunda doses) do país, de 50,2%, em meninas entre 9 e 14 anos, no período de 2013 a 2021. A média no Brasil nessa faixa etária e sexo, para efeito de comparação, alcançou 76% para a primeira dose e 57% para a segunda dose.

 

Luta contra o tabagismo ainda não terminou

Na década de 1980, 45% da população brasileira fumava. Hoje, esse número caiu para 12%, segundo o boletim. Essa redução foi fruto de campanhas e de políticas públicas de saúde contra o cigarro, segundo o dr. Scaff. No entanto, mesmo com esse progresso, 20 milhões de pessoas ainda fumam no Brasil, número duas vezes maior do que a população inteira de Portugal, por exemplo. 

“O cigarro no Brasil ainda é muito barato. Enquanto aqui um maço custa entre 1 e 2 dólares, na Austrália chega a 20 dólares, e na Europa, entre 10 e 15 euros. Aumentar os impostos e, consequentemente, o preço do cigarro seria um grande estímulo para as pessoas pararem de fumar”, explica o especialista.

O dr. Scaff também lembra que, apesar do avanço no combate ao tabagismo tradicional, o cigarro eletrônico, ou vape, é uma nova ameaça à saúde. O especialista ressalta que esses dispositivos estão sendo usados pela indústria para atrair uma nova geração de fumantes, com estratégias que associam o vape à modernidade e ao estilo de vida. “O vape vicia tanto quanto o cigarro tradicional, e não há evidências científicas de que ele faça menos mal”, alerta.

A Fundação do Câncer desenvolve ações específicas para combater o uso de cigarro eletrônico. Uma das iniciativas é a campanha Vape Off, que oferece materiais educativos para pais, professores e escolas abordarem o tema com jovens. A partir de 2025, a entidade vai lançar o desafio universitário, um projeto que financia iniciativas de jovens universitários para combater o vape entre alunos do ensino médio e de instituições de ensino superior. 

        Veja também: Quais são os efeitos do cigarro eletrônico no organismo?

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