Uma vacina contra o zika parece ainda distante, embora o vírus tenha se espalhado pelo Brasil, América Central e Caribe.
O que parecia uma virose banal, virou emergência de saúde pública.
A doença causada pelo vírus zika só preocupou as autoridades sanitárias em 2015, quando surgiram os casos de microcefalia, em Pernambuco.
Em menos de um ano, o vírus se espalhou pelo Brasil, América Central, Caribe e chegou ao México. Não há exemplo de doença transmitida por artrópodes com disseminação tão rápida. A busca de uma vacina se tornou prioridade internacional.
Stanley Plotkin, da Universidade de Pensilvânia, declarou à revista “Science”: “Não vejo problemas técnicos como aqueles encontrados com as vacinas contra HIV, tuberculose e outros agentes”. Segundo ele, o zika é da família dos flavivirus, a mesma dos causadores da febre amarela, dengue e encefalite japonesa, para os quais há vacinas protetoras.
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Na “Science”, o professor Jorge Kalil, diretor do Butantan, defendeu que uma preparação com vírus vivos, porém atenuados, pode ser segura e mais eficaz do que aquelas obtidas com vírus mortos.
O grupo do Butantan planeja empregar essa tecnologia, já usada pelo National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID) na obtenção da vacina contra a dengue licenciada pelo Butantan, para a fase de testes de eficácia em andamento.
Caso a doença provoque imunidade definitiva, tenho dúvida se a vacina chegará a tempo. Um vírus que se dissemina com tal velocidade poderá infectar tanta gente, que a vacinação se torne desnecessária ou indicada apenas para as mulheres em idade fértil.
O americano Thomaz Monath, virologista da New Link Genetics, que estudou o Zika virus em macacos da Nigéria nos anos 1970, e colaborou para a obtenção de uma vacina contra o ebola, levanta duas questões:
1) não se sabe se a infecção pelo zika confere imunidade duradoura ou se a doença pode recidivar;
2) se os anticorpos contra dengue ou febre amarela derem reação cruzada com os da vacina contra zika, as avaliações de eficácia ficarão comprometidas.
Anthony Fauci, diretor do NIAID, sugere outra estratégia: inserir genes do vírus em plasmídeos (estruturas circulares de DNA) e infectar bactérias com eles para que produzam partículas semelhantes ao zika, incapazes de se multiplicar, portanto de causar doença.
O Instituto Jenner, da Inglaterra, trabalha com a introdução de uma proteína da superfície do zika em adenovírus inofensivos que infectam chimpanzés, para usá-los como vetores que, ao vacinar seres humanos, desencadeiem a formação de anticorpos antizika.
Segundo Fauci, a fase de estudos em animais será completada em poucos meses. Estudos com número limitado de participantes estão previstos para o final de 2016.
Ainda assim, uma vacina promissora levará anos para ser testada em estudos fase 3, antes da produção em larga escala.
Enquanto a vacina não chega, Jorge Kalil espera que o Butantan consiga produzir antissoros injetando o Zika virus em cavalos para obter anticorpos protetores que possam ser administrados a seres humanos, tecnologia que o Instituto domina há décadas.
Caso a doença provoque imunidade definitiva, tenho dúvida se a vacina chegará a tempo. Um vírus que se dissemina com tal velocidade poderá infectar tanta gente, que a vacinação se torne desnecessária ou indicada apenas para as mulheres em idade fértil.