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Pílulas mágicas | Artigo

comprimidos de vitaminas dispostos sobre uma mesa
Publicado em 10/03/2014
Revisado em 11/08/2020

Vitaminas sintéticas não são pílulas mágicas, que previnem doenças. Só devem ser consumidas por pessoas que não conseguem se alimentar direito, em caso de carência vitamínica.

 

É incrível o poder que o povo atribui às vitaminas. Seus defensores juram que elas melhoram o apetite, evitam gripes e resfriados, reforçam a imunidade, conferem bem-estar e aumentam a longevidade.

Essa crença vem de encontro ao sonho acalentado desde os primórdios da humanidade: obter tais benefícios sem nenhum esforço, à custa de um elixir da juventude.

Ninguém colaborou tanto para a popularização desses mitos quanto Linus Pauling, agraciado duas vezes com o prêmio Nobel (Química e Paz), que recomendava doses altas de vitamina C para neutralizar os radicais livres produzidos no interior das células, processo que teria o dom milagroso de prevenir câncer, enfermidades cardiovasculares, estimular a imunidade e retardar o envelhecimento celular.

Veja também: Conheça o papel da vitamina D na prevenção de doenças crônicas

Atenta às oportunidades, a indústria farmacêutica investiu pesado na divulgação dessas ideias. Durante décadas, os comerciais de vitamina C para tratamento de gripes e resfriados infestaram o horário nobre das TVs. Campanhas milionárias acompanharam o lançamento de inúmeros complexos vitamínicos.

Os anos 1990 assistiram ao florescimento de um mercado multibilionário nos Estados Unidos e na Europa, que se disseminou pelos países mais pobres. Hoje, americanos e europeus podem comprar o abecedário inteiro de vitaminas e sais minerais em lojas especializadas, do tamanho de supermercados.

O mercado mundial movimenta 68 bilhões de dólares anuais. Cerca de 20 bilhões apenas nos Estados Unidos, país em que a metade da população faz uso de vitaminas. Os japoneses gastam 15 bilhões por ano.

Esse mercado foi criado sem evidências científicas que lhe servissem de base. Os estudos conduzidos nos últimos 20 anos envolveram números pequenos de participantes, acompanhados durante períodos curtos e com tantos vieses estatísticos que os resultados só contribuíram para criar contradições.

Vitaminas são úteis para tratar deficiências em crianças pequenas, em pessoas com limitações para se alimentar e em marinheiros com escorbuto nas caravelas lusitanas.

Com a finalidade de analisar as informações mais recentes, a comissão dos Serviços de Saúde dos Estados Unidos encarregada de recomendar medidas preventivas para a população (US Preventive Services Task Force – USPSTF), fez uma revisão cuidadosa das publicações sobre o papel das vitaminas na prevenção de doenças cardiovasculares e câncer, as duas principais causa de morte nos países do ocidente.

A conclusão não poderia ser mais objetiva: “Não há evidências de que o uso de vitaminas diminua a incidência de doenças cardiovasculares ou câncer”.

Muitos defensores da suplementação vitamínica apresentam a justificativa de que se não fizerem bem, mal elas não fazem.

Não é verdade. Além dos efeitos colaterais associados às doses exageradas contidas em muitas apresentações, pelo menos dois estudos realizados para analisar o efeito protetor do betacaroteno em fumantes, obtiveram resultados inquestionáveis: a administração de betacaroteno aumenta a incidência de câncer de pulmão, nessa população de risco.

Na clínica, canso de ver fumantes tomando complexos vitamínicos que contém concentrações elevadas de betacaroteno. Alguns o fazem com prescrição médica.

As interações associadas a doses suprafisiológicas de micronutrientes — como ele – são complexas e imprevisíveis. O caso do selênio e da vitamina E na prevenção do câncer de próstata é outro exemplo.

Em 2001, foi iniciado o estudo SELECT, que envolveu mais de 35 mil homens, divididos aleatoriamente em grupos que receberam vitamina E, selênio, uma combinação de selênio e vitamina E, ou um comprimido inerte (placebo).

Planejado para durar 12 anos, o estudo foi interrompido em 2008, quando ficou evidente que o selênio não exercia qualquer efeito protetor e que a vitamina E aumentava o risco de câncer de próstata, em até 63%. O grupo com menos casos de câncer de próstata foi o que recebeu placebo.

Vitaminas são úteis para tratar deficiências em crianças pequenas, em pessoas com limitações para se alimentar e em marinheiros com escorbuto nas caravelas lusitanas.

Portanto, prezado leitor, se você não é bebê de colo, não está tão velho que não consiga mastigar e não tem a intenção de atravessar o Atlântico ao sabor dos ventos, coma frutas, legumes e verduras e ponha o corpo para andar. Não jogue dinheiro no vaso sanitário.

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