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Drauzio

Audição e as demências

enfermeira ajuda idosa a colocar aparelho auditivo. perda de audição aumenta o risco de demências
Publicado em 13/05/2024
Revisado em 21/05/2024

Estudo mostra associação entre perda de audição leve e demências, o que sugere a necessidade de avaliações de acuidade auditiva a partir dos 60 anos. Leia no artigo do dr. Drauzio.

 

 

A acuidade auditiva diminui com o passar dos anos. Os estudos mostram que afeta 2/3 das mulheres e dos homens com mais de 70 anos.

Esses dados contrastam com o número de pessoas que usam aparelhos para corrigir ou minorar o problema. Nos Estados Unidos, por exemplo, apenas de 14% dos que escutam mal fazem uso desse recurso. Mesmo em países europeus, nos quais o sistema de saúde paga pelos aparelhos, os números não são melhores.

Veja também: Como convencer um idoso a usar um aparelho auditivo?

No Brasil, o número é certamente mais baixo ainda. Existe entre nós um preconceito arraigado, gerado pela associação que o convívio social estabeleceu entre esses dispositivos e a decrepitude de seus usuários – preconceito que não existe em relação aos óculos para deficientes visuais, por exemplo.

Além disso, os bons aparelhos são vendidos a preços proibitivos para a maior parte da população.

Vários estudos documentaram que a perda auditiva está associada ao aumento do risco de demências. Uma revisão recente revelou que a prevenção e a correção da perda estão associadas a 9,1% da redução dos casos de demência na população.

Atualmente, é considerada normal a audição de um adulto, quando ele consegue ouvir tons de 25 decibéis ou menos, limite que foi definido arbitrariamente.

Será que perdas mais discretas, abaixo desse limite, também aumentariam o risco de deficiências cognitivas?

Para responder a essa pergunta, um estudo americano selecionou 6.451 participantes para avaliar as repercussões cognitivas da piora da audição em pessoas que ainda escutam frequência dentro dos limites de 25 decibéis, portanto, com níveis auditivos considerados dentro da faixa da normalidade.

O estudo reuniu duas séries acompanhadas nos Estados Unidos (UCHS e NHANES). Os 6.451 participantes tinham 50 anos ou mais (média de 59,4); cerca de 60% eram mulheres.

Os resultados dos testes audiométricos mostraram uma relação inversa significativa entre audição e cognição, que se manteve em todo o espectro auditivo. A piora da audição foi independentemente associada ao comprometimento da cognição, mesmo em indivíduos com limites auditivos considerados normais.

Uma queda de apenas 10 decibéis na audiometria, por exemplo, representava queda de 1,97 pontos na bateria de testes para avaliar a cognição.

Como os participantes da pesquisa eram pessoas com exames audiométricos que seriam considerados normais, segundo os critérios vigentes – e, portanto, sem indicação teórica para a prescrição de aparelhos auditivos -, os autores concluem que a associação entre déficit auditivo e risco de demência pode estar presente mais cedo do que se imaginava.

A associação mantém-se mesmo depois de controlar os dados para evitar interferência de fatores como idade, sexo, nível educacional e doenças cardiovasculares.

Os resultados sugerem que naqueles com pequenos declínios da audição, que ainda os mantém na faixa de normalidade, o comprometimento da cognição pode ser até mais acentuado do que naqueles já considerados deficientes auditivos.

Os autores defendem que, ao considerarmos o limite de 25 decibéis, perdemos a oportunidade de atuar precocemente na prevenção das demências. Eles propõem que a faixa de16 a 25 decibéis seja considerada “borderline”

Do ponto de vista biológico, a perda de audição é um processo contínuo que acompanha o envelhecimento. Desde as fases iniciais, ela está associada a piora da cognição.

Testes auditivos são realizados em ambientes silenciosos. Com isso, deixam de levar em consideração os ruídos ambientais ou os falatórios dos encontros sociais.

Tais situações dificultam o entendimento de pessoas mais velhas que, fora desses ambientes, escutam bem e, portanto, não se sentem motivadas a procurar os especialistas. É provável que as audiometrias deixem de diagnosticar esses casos em fases mais iniciais.

Não podemos esquecer que a faixa da população brasileira que mais cresce é a que está acima dos 60 anos. Avaliações da acuidade auditiva devem fazer parte da rotina de exames médicos nessa fase da vida.

O Sistema Único de Saúde (SUS) precisa fornecer aparelhos para os deficientes auditivos por razões humanitárias e econômicas. Cuidar de pacientes com demência custa muito caro.

 

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