Zika | Artigo

Desconhecido até 1947, o vírus chegou ao Brasil em 2015 espalhando-se de forma epidêmica. Saiba mais no artigo sobre zika vírus.

Mulher grávida passa repelente para evitar contrair zika

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Publicado em: 10 de março de 2016

Revisado em: 11 de agosto de 2020

Desconhecido até 1947, o vírus chegou ao Brasil em 2015 espalhando-se de forma epidêmica. Saiba mais no artigo sobre zika vírus.

 

Até 1947, ninguém sabia da existência do vírus zika.

Nesse ano, pesquisadores do Yellow Fever Research Institute prenderam um macaco-sentinela numa jaula, no meio da floresta Zika, em Uganda, como parte de um estudo para detectar viroses em primatas. A amostra de sangue colhida assim que o macaco teve febre, permitiu isolar o vírus zika.

No começo de 2015, os serviços de saúde brasileiros detectaram os primeiros casos no Nordeste. Em menos de um ano, o vírus se espalhou para a maior parte das Américas do Sul, Central, países do Caribe e chegou ao México.

 

Veja também: Bactéria Wolbachia inibe transmissão de dengue e outras arboviroses

 

Aqui, ninguém sabe onde a epidemia vai parar. Já temos mais de 4 mil bebês com suspeita de microcefalia, a face mais trágica. A constatação de que algumas dessas crianças nascem com comprometimento da visão e da audição, faz pensar que microcefalia seja apenas parte de uma síndrome neurológica muito grave e incapacitante.

Além dessa síndrome, o que mais assusta são as características da disseminação. Embora tenham sido descritas transmissões ocasionais por transfusão e pela via sexual, o Aedes foi capaz de levar o vírus do nordeste brasileiro ao México em velocidade vertiginosa. Que outra virose se disseminou tão depressa na história recente da humanidade?

Poderíamos supor que a viremia, na fase aguda, fosse tão elevada que, ao picar, o mosquito engolisse sangue com grande quantidade de partículas virais. Ou, então, que o vírus se multiplicasse freneticamente nas glândulas salivares do Aedes. Nenhuma das duas hipóteses foi confirmada: a concentração do vírus no sangue permanece relativamente baixa durante a fase aguda e assim se mantém nas glândulas salivares do vetor.

Estamos no epicentro de uma epidemia de consequências gravíssimas, que exige mobilização popular, ações governamentais ágeis e eficazes, e recursos financeiros.

Outro entrave é a falta de testes sorológicos para diagnosticar quem está ou já foi infectado: os anticorpos contra o zika dão reação cruzada com os da dengue, da febre amarela e dos vacinados contra ela.

O único exame disponível é a detecção de partículas virais no sangue por métodos moleculares – realizado apenas em laboratórios de referência -, com a agravante de que a positividade só é detectada no sangue nos quatro ou cinco dias iniciais da sintomatologia. Passado esse período, o vírus desaparece da circulação, embora ainda persista na urina por duas ou três semanas.

Não fossem as grávidas, o agravo seria menor. Descontados os casos raros da síndrome de Guillain-Barré, que provoca paralisias musculares, a doença é de evolução benigna: exantema (vermelhão no corpo), dor de cabeça, conjuntivite, febre baixa (ao contrário da dengue), dores articulares e prurido, sintomas que desaparecem em menos de uma semana.

Um estudo feito na Polinésia estima que 75% a 80% dos infectados permanecem assintomáticos, números repetidos à exaustão. Sinceramente, desconfio que essa estimativa tenha pouco valor científico: como diagnosticar com precisão casos assintomáticos numa enfermidade em que o único teste existente só dá resultado positivo por período tão curto a partir da instalação do quadro clínico?

As mulheres em idade fértil vivem um drama a parte. É arriscado engravidar agora? Além de fugir do mosquito como o diabo da cruz, as grávidas querem saber se fazem parte da legião de infectados que não apresentou sintomas. Nessa eventualidade, correriam risco de má-formação? As que já tiveram zika precisam aguardar quantos meses para engravidar com segurança?

Tudo faz crer que o vírus seja eliminado em algumas semanas pelo sistema imunológico e que a imunidade seja duradoura, mas como ter certeza numa doença que apareceu entre nós há menos de um ano?

No meio de tantas dúvidas, só nos resta recomendar cautela. Esperar o inverno, quando as condições climáticas dificultam a proliferação do mosquito, para ganhar tempo e entendermos melhor o que se passa.

Estamos no epicentro de uma epidemia de consequências gravíssimas, que exige mobilização popular, ações governamentais ágeis e eficazes, e recursos financeiros.

Num país com baixa escolaridade, em crise econômica, com níveis vergonhosos de saneamento básico, e serviços de saúde que lidam com a falta crônica de financiamento e dificuldades gerenciais, não há uma razão sequer para otimismo.

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