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Prêmio Nobel de Medicina de 2012 foi concedido a dois estudiosos por seus trabalhos com manipulação de células que permitiu a clonagem.

divisão celular veja o prêmio nobel de medicina de 2012

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Publicado em: 13 de outubro de 2012

Revisado em: 11 de agosto de 2020

Prêmio Nobel de Medicina de 2012 foi concedido a dois estudiosos por seus trabalhos com manipulação de células que permitiu a clonagem.

 

O prêmio deste ano foi dado a dois pesquisadores que ajudaram a lançar as bases da clonagem.

John B. Gurdon, da Universidade de Cambridge e Shinya Yamanaki, da Universidade de Kioto, dividiram o Nobel por seus trabalhos com a manipulação de células que permitiram clonar animais e transformar células maduras em células primitivas (células-tronco), capazes de se diferenciar em qualquer tecido do organismo.

Veja também: Leia entrevista com especialista sobre o potencial das células-tronco

Essa história vem de longe.

Em 1892, um cientista alemão separou as duas células resultantes da primeira divisão de um óvulo fecundado de ouriço do mar. Separadas, cada uma delas formou um embrião inteiro – se tivessem permanecido juntas cada uma formaria apenas a metade do embrião.

Logo no início do século 20, o experimento foi repetido com óvulos fecundados de rãs e os resultados foram semelhantes, demonstrando que as primeiras células de um embrião são pluripotentes, isto é, carregam com elas todas as informações necessárias para gerar um organismo completo.

Na década de 1950, pesquisadores americanos demonstraram que transplantar o núcleo de uma célula obtida nas primeiras fases do desenvolvimento embrionário de uma rã, para um óvulo não fertilizado (do qual o núcleo havia sido previamente retirado), permitia obter girinos que nasciam normalmente.

A experiência só dava certo, no entanto, quando os núcleos transferidos para o óvulo eram obtidos a partir de células que se encontravam nas primeiras divisões embrionárias. Estava confirmado o dogma de que à medida que o embrião se desenvolve, suas células se diferenciam e perdem o potencial para gerar novos embriões completos.

Além dos transplantes, as possibilidades de aplicação da clonagem de células pluripotentes a partir de células adultas são tantas, que é difícil imaginar um campo da Medicina que não será afetado por essa tecnologia.

Com um experimento inquestionável, John Gurdon derrubou esse dogma em 1962. Ele extraiu o núcleo de uma célula intestinal adulta de uma rã e injetou-o num óvulo de outra rã, cujo núcleo havia sido previamente retirado. O ovo assim formado conseguiu reprogramar o núcleo transplantado e orientar seu DNA para gerar girinos que se transformaram em rãs normais, em vez executar a tarefas prosaicas das células intestinais.

O resultado causou ceticismo entre os cientistas inconformados com a quebra de um dogma e furor entre os religiosos e os guardiães da ética. Ao penetrar tão profundamente nos mistérios da natureza, a ciência não estaria invadindo os domínios de Deus? Não seria esse o primeiro passo para clonar legiões de seres humanos obedientes às ordens de seus senhores?

Mais de 30 anos mais tarde, os escoceses Wilmut e Campbell desenvolveram uma técnica que lhes permitiu transplantar núcleos retirados de células mamárias de uma ovelha adulta para um óvulo sem núcleo. Em 1997, Dolly se tornou a ovelha mais famosa de todos os tempos: o primeiro mamífero clonado a partir das células de um adulto. Depois dela, vieram cabritos, ratos, macacos e até uma espécie de alce ameaçada de extinção.

Apesar desses sucessos, ninguém conseguia explicar o mecanismo pelo qual o óvulo se tornava capaz de reprogramar o DNA do núcleo adulto transplantado para seu interior. A resposta só veio quando a biologia molecular conseguiu entender melhor os genes e os fatores que os controlam.

Em 2006, Shynia Yamanaka demonstrou em ratos, que apenas quatro genes estão especificamente encarregados dessa função. Injetados em células adultas, esses quatro genes realizavam a proeza de reprogramar células adultas para voltar ao estado primitivo de células-tronco, capazes de formar qualquer tipo de célula do organismo.

Em outras palavras: Yamanaka demonstrou que para obter células-tronco não há necessidade de transplantar núcleos inteiros para o interior de óvulos, nem sempre fáceis de obter. Basta inserir esses quatro genes numa célula adulta qualquer para que ela percorra o caminho de volta, até tornar-se novamente primitiva, ou seja, pluripotente.

Além dos transplantes, as possibilidades de aplicação da clonagem de células pluripotentes a partir de células adultas são tantas, que é difícil imaginar um campo da Medicina que não será afetado por essa tecnologia.

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