Dengue, a doença

Pode-se dizer que, por enquanto, ainda não foi encontrada uma forma de acabar com a dengue no Brasil. Dengue é uma doença curável desde que a pessoas receba o tratamento adequado.

homem prepara tapa para matar mosquito transmissor da dengue que o pica no punho

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Publicado em: 18 de março de 2024

Revisado em: 18 de março de 2024

Neste artigo, o dr. Drauzio explica a evolução do quadro da dengue e como evitar complicações da doença. 

 

A história da dengue vem de longe. As primeiras descrições de epidemias de uma doença semelhante à que hoje nos aflige datam do século 18. O vírus só foi isolado em 1943.

Existem quatro vírus causadores de dengue: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4, que compartilham entre si 2/3 do genoma. São chamados de sorotipos, em função de suas interações com os anticorpos produzidos contra eles, no sangue da pessoa que foi infectada.

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Presente nas glândulas salivares do Aedes aegypti, o vírus é transmitido quando as fêmeas se alimentam do sangue humano. Os primeiros sintomas aparecem de quatro a dez dias depois da picada — período de incubação.

Poucos sabem que 60% a 80% das pessoas infectadas permanecem assintomáticas ou com sintomas mínimos. Essas infecções inaparentes têm importância porque aumentam o risco de complicações no caso de uma nova infecção provocada por outro sorotipo, especialmente quando o intervalo entre os dois eventos é longo.

Antes a doença era classificada em dengue clássica, dengue hemorrágica e síndrome do choque da dengue.  Em 2009, no entanto, a Organização Mundial da Saúde modificou a classificação para: dengue clássica, dengue com sinais de alerta e dengue grave.

O termo “dengue hemorrágica” deve ser abandonado para evitar confusão: podem ocorrer pequenos sangramentos em casos leves, e nem todos os casos graves evoluem com hemorragias.

Na dengue clássica, o primeiro sintoma é febre de início súbito. De repente a pessoa começa a sentir um frio estranho, muitas vezes com calafrios. Quando coloca o termômetro a temperatura está acima de 38,5º C.

Em seguida, podem surgir dores musculares e nas articulações, cefaleia, dor atrás dos olhos, náuseas, vômitos, diarreia, lesões avermelhadas na pele e nas mucosas, vermelhidão nas conjuntivas, inapetência e mal-estar.

A fase febril dura de dois a sete dias. As lesões da pele permanecem por mais três a seis dias depois que a febre cedeu. Podem ocorrer pequenos sangramentos nasais, vaginais ou nas gengivas ao escovar os dentes.

Na dengue não complicada, a forma mais comum, vem a fase de recuperação, com duração variável. Alguns pacientes voltam à vida normal rapidamente, enquanto em outros as dores no corpo e o cansaço podem persistir por dias ou algumas semanas.

As complicações acontecem quatro a seis dias depois que os sintomas se instalaram, período que coincide com a fase de defervescência.

A principal delas é o extravasamento capilar. Como o vírus provoca um processo inflamatório na parede interna dos capilares (endotélio), as células dessa camada se afastam, abrindo passagem para a parte líquida do sangue escapar para os tecidos vizinhos.

Nas fases iniciais da dengue, esse extravasamento regride espontaneamente em 48 a 72 horas. Nas formas mais graves, entretanto, ele se torna detectável clinicamente e está associado aos sinais de alerta: sangramento nas mucosas, letargia, agitação, dores abdominais, alteração da função hepática, aumento da concentração do sangue e queda do número de plaquetas.

Evoluirão para dengue grave 2% a 5% dos que ficaram doentes. Neles, o extravasamento pode levar ao choque, formação de derrame pleural com falta de ar, comprometimento do sistema nervoso central, coração, fígado, rins e perdas de sangue pela urina, aparelho digestivo, vagina, mucosas do nariz e da boca.

A hemoconcentração é acompanhada de agitação, aumento da pressão diastólica (a mínima) e da frequência cardíaca, hipotensão, extremidades frias, perturbações visuais e diminuição do volume de urina.

Na recuperação, os fluidos que extravasaram são reabsorvidos. Em adultos às vezes evolui com fadiga e quadros de depressão que chegam a durar semanas ou meses.

A mortalidade varia de 0,01% a 5%, dependendo do acesso aos cuidados médicos. Todas as mortes são evitáveis, desde que os pacientes recebam hidratação suficiente para repor o volume de líquido extravasado.

Esse é o problema maior. O Ministério da Saúde recomenda a ingestão de 60 mililitros de líquido por quilograma de peso, por dia, assim que a febre se instala. Portanto, um adulto de 70 quilos deve tomar cerca de 4 litros por dia, volume quase proibitivo para os que têm náuseas e vômitos. Esses casos exigem hidratação por veia, nem sempre acessível a todos.

É impossível acabar com a dengue no Brasil, mas é vergonhoso convivermos até hoje com as mortes pela doença.

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