A região da cordilheira dos Andes foi formada a partir de um rompimento de placas tectônicas às margens do oceano Pacífico.
Aqui, nas alturas, a visão da cordilheira dos Andes é monumental, assustadora e fascinante.
Cuenca é uma cidade equatoriana que conserva casas com sacadas de madeira dos tempos coloniais; pelas ruas, há mulheres e homens de traços incas, com xales coloridos, chapéus do tipo panamá e roupas que parecem saídas das páginas da “National Geographic”.
Veja bem: Artigo do dr. Drauzio “Viagem ao passado”
A cidade ocupa um pequeno platô cercado de montanhas, a mais de 2 mil metros de altitude. Para descer até o litoral, é preciso antes subir a cordilheira por uma estrada com curvas para todos os lados.
A paisagem é assombrosa. A cada volta me defronto com montanhas mais altas do que as anteriores, numa sucessão interminável de volumes monstruosos que tocam as nuvens. Algumas são parcialmente cobertas por vegetações baixas, que preenchem de verde o espaço entre as árvores que conseguem agarrar-se às plataformas e aos sulcos da encosta. Nas áreas mais escarpadas, a rocha aparece nua, ocre, como se feita de tijolos esmigalhados por mãos gigantescas.
Outras, são muralhas exibicionistas que se projetam para o céu com o propósito de encobrir a visão das demais. São como lavas vulcânicas que acabaram de se solidificar sem dar tempo para que a vida fosse semeada em sua superfície. Ao pé delas, a figura humana fica reduzida à mais absoluta insignificância; inclinar a cabeça para trás em busca dos picos nevados dessas torres negras e úmidas faz perder o equilíbrio.
À medida que o carro sobe, aumenta a profundidade dos precipícios. O viajante que consegue chegar à beira deles sem sofrer vertigem, ao olhar morro abaixo percebe que a distância até o rio que corre sinuoso no fundo da garganta angustiada entre as bases dos penhascos é ainda maior do que aquela que vai da estrada até os picos mais elevados.
O ponto culminante da viagem está a 4.200 metros. Nessa altura, a falta de oxigênio acelera a frequência respiratória e agrava a opressão causada pelo desatino de estar pendurado naquele despenhadeiro agorafóbico.
Os Andes não estiveram sempre onde me encontro. Quase todo o norte da América do Sul era uma região de relevo baixo ocupada pela floresta amazônica. Nessa pan-amazônia, os rios da bacia do Amazonas, Orenoco e Magdalena, corriam para desaguar no Pacífico.
Num período que vai de 65 a 33 milhões de anos atrás, ocorreu um rompimento de placas tectônicas às margens do oceano Pacífico, que levantou rochas descomunais e provocou erupções vulcânicas na região que avança para o norte, paralela à costa do Chile.
Esses fenômenos geológicos que se sucederam no decorrer de dezenas de milhões de anos não foram apenas responsáveis por inverter o curso de nossos maiores rios, mas provocaram alterações no clima e na composição do solo que explicam por que a Amazônia é o ecossistema terrestre com a maior biodiversidade do planeta.
A partir de 23 milhões de anos atrás, novas fragmentações de placas seguidas de sucessivas colisões entre elas no subsolo da América do Sul e do Caribe intensificaram a emergência de montanhas e vulcões na parte central e no norte de nosso continente, num movimento para o alto que chegou até a Venezuela. Esses abalos descomunais se repetiram por milhões de anos, até que o maciço dos Andes acabou por barrar a passagem do Amazonas, do rio Negro, do Solimões e dos outros rios que se dirigiam ao Pacífico.
Impedidas de seguir adiante, as águas ficaram represadas formando lagos enormes e florestas alagadas, cujo conjunto recebeu o nome de Sistema Pebas.
Prensadas contra a cordilheira, as águas que chegavam sem dar trégua exerceram pressão suficiente para forçar caminho no sentido oposto. Como consequência, há cerca de 10 milhões de anos, o Amazonas e todos os rios que formam sua bacia finalmente conseguiram chegar até o oceano Atlântico, esvaziando os lagos que constituíam o Sistema Pebas. A Amazônia abandonava o estágio lacustre para voltar a ser fluvial.
Esses fenômenos geológicos que se sucederam no decorrer de dezenas de milhões de anos não foram apenas responsáveis por inverter o curso de nossos maiores rios, mas provocaram alterações no clima e na composição do solo que explicam por que a Amazônia é o ecossistema terrestre com a maior biodiversidade do planeta.
Ofegante, no carro a mais de 4 mil metros de altitude, impossível não pensar no terremoto que acabou de destruir parte do Japão. E na hecatombe que o mais leve abalo na crosta terrestre da região andina seria capaz de provocar naquele instante.