Síndrome alcoólica fetal

A exposição ao álcool durante a gravidez é a principal causa da síndrome alcoólica fetal. É também a única que pode se evitada, desde que a gestante suspenda o uso do álcool nessa fase.

bebê prematuro na incubadora, com síndrome alcoólica fetal, e mão de adulto acariciando sua cabeça

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A síndrome alcoólica fetal é um distúrbio que afeta o desenvolvimento do feto e é causado pela exposição ao álcool durante a gravidez.

 

Entende-se por síndrome alcoólica fetal (SAF) o conjunto de sinais e sintomas de uma condição clínica prevenível, mas a cada dia mais frequente entre as mulheres jovens. O distúrbio é determinado pela exposição ao álcool ainda dentro do útero materno e pode afetar o desenvolvimento físico, comportamental, cognitivo e neurológico do feto.

A síndrome alcoólica fetal (SAF) é a forma mais grave de um espectro de transtornos relacionados ao uso do álcool (FASD), que também inclui: 1) a síndrome alcoólica fetal parcial, 2) as alterações ao neurodesenvolvimento e 3) as malformações congênitas ambas ligadas ao álcool.

Veja também: Artigo do dr. Drauzio sobre alcoolismo em mulheres

Nos últimos anos, a quantidade de estudos a respeito das consequências da exposição fetal ao álcool tem crescido consideravelmente. Entretanto, definir a taxa de incidência do distúrbio é sempre arriscado, em razão do número de subnotificações que, certamente, existe. De qualquer forma, a estimativa é que ocorram de 0,5 a 2 casos em cada mil nascidos vivos. De acordo com dados fornecidos pelo Ministério da Saúde, no Brasil, um a cada mil bebês nascidos vivos apresenta a síndrome.

Mulheres com idade acima de 25 anos, que entraram em contato com o álcool muito cedo ou mantiveram o consumo durante a gravidez ou, ainda, com história de partos prematuros ou de natimortos em gestações anteriores, compõem um grupo de alto risco para a SAF.

Os estudos já mostraram que o álcool é uma substância teratogênica, capaz de produzir danos irreversíveis no embrião e no feto durante a gestação da mulher. Não importa o teor alcoólico da bebida, se proveniente de destilados, cerveja ou vinho. O álcool penetra na corrente sanguínea da gestante, atravessa a placenta e alcança o feto pelo cordão umbilical. Como seu fígado ainda não está preparado para metabolizar essa substância, seu corpo fica exposto por mais tempo à mesma quantidade de álcool que circula no organismo da mãe. Nessas situações, os estragos permanentes que provoca vão desde alterações mais leves, às vezes imperceptíveis no momento do parto, até a forma grave da síndrome alcoólica fetal, que afeta principalmente o cérebro e o sistema nervoso central.

Não existe quantidade de álcool, por menor que seja, que possa ser considerada absolutamente segura para consumo durante a gravidez. Ao contrário, já se sabe que se trata de uma droga potencialmente tóxica para o feto em formação e que seus efeitos deletérios irreversíveis podem atingir também a mãe durante a gestação em curso. Daí, o risco maior de partos prematuros, abortos espontâneos e morte fetal na história de vida dessas mulheres.

O fato é que não existe consenso, nem mesmo entre os especialistas no assunto, sobre os limites de segurança quanto ao consumo de álcool, no período em que a mulher está tentando engravidar ou, depois, durante toda a gestação. Há os que consideram o álcool responsável pelos efeitos nocivos que acometem o embrião e o feto quando a mãe bebe, e são a favor da abstinência total pela gestante. Na falta de estudos conclusivos, porém, há os que autorizam o consumo leve, ocasional e esporádico de uma taça de vinho ou de um copo de cerveja, porque estimam ser baixo o risco que essas quantidades oferecem.

Ninguém discorda, entretanto, que a SAF é a única causa conhecida de retardo mental inteiramente prevenível desde que a mulher suspenda completamente o consumo do álcool durante a gravidez.

 

 Causas da síndrome alcoólica fetal

 

A principal causa da síndrome alcoólica fetal (SAF) é a exposição ao álcool (etanol) ingerido pela mãe durante o período gestacional. No entanto, trata-se de uma causa que pode ser totalmente revertida. Para tanto, basta que ela se afaste das bebidas alcoólicas desde o momento em que a gravidez passou a fazer parte do seu projeto de vida.

É bom ter sempre em mente que a exposição ao álcool, nessa fase, põe em risco o desenvolvimento normal do feto, uma vez que seu consumo é responsável por danos ao sistema nervoso central da criança que levam não só à manifestação de defeitos físicos congênitos, como também ao comprometimento intelectual, cognitivo e do comportamento.

 

 Sintomas da síndrome alcoólica fetal

 

Existem vários sinais e sintomas da síndrome alcoólica fetal evidentes na criança desde o nascimento. Outros só aparecem mais tarde.  A intensidade das alterações causadas pela ingestão do álcool durante a gravidez varia também de uma criança para outra, dependendo da quantidade de álcool que ela bebeu e do período da gravidez que atravessava no momento da exposição. Entre todas, vale destacar, além da microcefalia (cabeça e crânio pequenos), algumas dismorfias faciais típicas do transtorno, tais como olhos pequenos, lábio superior fino, fácies plana, fissuras palpebrais curtas. Além disso, fazem parte do quadro o crescimento lento dentro do útero e depois do nascimento, as deformidades nas articulações, problemas cardíacos, nos rins e nos ossos, dificuldades de visão e audição. Pessoas com a síndrome podem apresentar, ainda, distúrbios de aprendizagem, comprometimento da memória e da atenção, dificuldades socioemocionais e comportamentais.

Veja também: Complicações que podem ocorrer na gravidez

 

Diagnóstico da síndrome alcoólica fetal

 

O diagnóstico da SAF leva em conta o resultado do exame físico criterioso, os sinais e sintomas apresentados (deficiência de crescimento e malformações faciais, por exemplo) e a história materna de consumo de álcool durante a gestação. Trata-se de uma síndrome de difícil diagnóstico, porque não existem critérios pré-estabelecidos, nem exames laboratoriais que ajudem a orientar a avaliação do quadro.

Estabelecer o diagnóstico diferencial da síndrome com outras patologias é fundamental para nortear o tratamento.

 

Tratamento da síndrome alcoólica fetal

 

A síndrome alcoólica fetal é uma condição irreversível que não tem cura nem tratamento específico. A abordagem é sempre multidisciplinar (obstetras, ginecologistas, pediatras, psicólogos, psiquiatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas comportamentais, entre outros profissionais envolvidos) e pode pressupor o uso de medicamentos para aliviar os sintomas. Introduzido antes dos 6 anos de idade, ajuda a reduzir o impacto negativo da condição sobre o desenvolvimento global da criança. O apoio intensivo a pais e filhos num ambiente acolhedor é fundamental para contornar as dificuldades e promover melhor prognóstico.

 

 Prevenção

 

Como já foi dito, a única forma conhecida para prevenir a manifestação da SAF é a mulher interromper o consumo de álcool durante a gravidez. O ideal seria que ela agisse assim, desde o instante em que decidiu engravidar. Se pensarmos que a ocorrência da gravidez leva, em média, de quatro a seis semanas para ser confirmada, o cérebro do feto estará exposto à ação deletéria do álcool muito antes do que ousamos imaginar.

Segundo a OMS, em diversos países, incluindo o Brasil, a exposição pré-natal ao álcool é a principal causa evitável de defeitos congênitos e deficiências de desenvolvimento, que podem atingir o embrião e o feto. Não vale a pena arriscar.

 

Considerações finais

 

Durante muito tempo se imaginou que a desordem atingia especialmente as mulheres de padrão socioeconômico menos favorecido e menor acesso à informação, que escondiam a gravidez e não faziam o acompanhamento pré-natal. Hoje, a realidade é outra. Meninas estão começando a beber cada vez mais cedo e muitas engravidam precocemente. Por ser o alcoolismo uma doença que as pessoas custam a admitir, é possível que muitas sequer mencionem o consumo do álcool nas consultas do atendimento pré-natal. O resultado é que os casos de síndrome alcoólica fetal podem tornar-se um problema de saúde pública. Preocupada com a situação, a Sociedade Brasileira de Pediatria criou um grupo com o objetivo de divulgar esclarecimentos sobre as características da síndrome e, em benefício do feto e da própria gestante, defendem a importância de suspender completamente o consumo de álcool durante a gravidez.

Veja também: As mulheres e o álcool

 

Perguntas frequentes sobre síndrome alcoólica fetal

 

Como fazer o diagnóstico da síndrome alcoólica fetal?

O diagnóstico da SAF é difícil, pois não existem critérios pré-estabelecidos ou exames para ajudar na avaliação. É preciso considerar os sinais e sintomas apresentados (deficiência de crescimento e malformações faciais, por exemplo) e a história materna de consumo de álcool durante a gestação, além de descartar outras patologias.

 

Qual o tratamento da síndrome alcoólica fetal?

A SAF não tem cura nem tratamento específico. A abordagem é sempre multidisciplinar (obstetras, ginecologistas, pediatras, psicólogos, psiquiatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas comportamentais, entre outros profissionais envolvidos) e pode incluir o uso de medicamentos para aliviar os sintomas.

 

Fontes

 

Mayo Clinic – Diseases  and conditions

Cleveland Clinic – Disease and conditions

UP to Date – Fetal alcohol spectrum disorder

Hospital Santa Mônica: O que é a síndrome alcoólica fetal

CISA centro de informações sobre saúde e álcool

Fetalmed.net -Medicina fetal

Msdmanuals.com -Síndrome alcoólica fetal

Sociedade Brasileira de Pediatria

 

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