Quanto mais sal na dieta, mais nos habituamos a ele, o que é perigoso devido à relação do sódio com a hipertensão. Veja artigo do dr. Drauzio.
Quanto mais sal nos alimentos, mais nos habituamos com ele. Há muito se sabe que a ingestão de quantidades maiores pode agravar quadros de hipertensão, mas por acaso prejudicaria a saúde daqueles com pressão normal?
Nas últimas décadas, as recomendações contra o abuso de sal têm sido conflitantes. Alguns especialistas defendiam que as políticas públicas destinadas a reduzir o sal da dieta deveriam atingir a população inteira, enquanto outros consideravam mais apropriado dirigi-las exclusivamente aos que sofrem de hipertensão arterial ou diabetes.
Veja também: Por que o excesso de sal faz mal à saúde?
Confesso que a segunda posição sempre me pareceu mais razoável: por que razão pessoas acostumadas a comer mais sal, mas que mantém níveis normais de pressão arterial, precisariam reduzir o consumo?
Estava tão seguro desse ponto de vista, que nunca me preocupei com a quantidade de sal nos alimentos (minha pressão sempre foi 11 por 7).
Um artigo recém-publicado no “The New England Journal of Medicine”, a revista de maior circulação entre os médicos, acaba de me convencer de que eu estava errado. Agora, acho que as políticas públicas devem ser dirigidas a todos e que não ganho nada comendo sal à vontade; talvez até me prejudique.
Vou explicar por que mudei de posição.
O sal de cozinha é o cloreto de sódio. Cada grama dele contêm 0,4 g de sódio, íon essencial para o organismo porque facilita a retenção de água: para cada 9 g de sal ingeridas, o organismo retém um litro de água. Quando o sódio é consumido em excesso, o sistema cardiovascular poderá ficar sobrecarregado caso a água não seja eliminada com eficiência.
Como cerca de 70% do sódio ingerido na dieta do brasileiro médio vem dos alimentos industrializados, o convencimento individual tem impacto limitado. Cabe às autoridades responsáveis estabelecer regras que limitem a quantidade de sódio em molhos prontos, condimentos, salgadinhos, picles, conservas, pizzas, sopas de pacote, embutidos, queijos e outros alimentos.
Para as pessoas saudáveis, a dose máxima de sal recomendada pelo Ministério da Saúde é de 5 g por dia (2.000 mg de sódio). Os brasileiros, no entanto, consomem em média cerca de 10 gramas, o dobro do recomendado, sem contar o sal dos alimentos ingeridos fora de casa. Lembre que 1 g de sal é a quantidade existente em cada um daqueles pacotinhos servidos nos bares e restaurantes.
Nos Estados Unidos, os homens ingerem em média 10,4 g de sal e as mulheres 7,3 g por dia. Lá, como aqui, hipertensão é moda. O risco de um americano que chegou aos 50 anos desenvolvê-la nos anos que lhe faltam viver é de 90%.
No trabalho citado, pesquisadores da Universidade da Califórnia construíram um modelo de simulação computadorizada, para explorar o impacto que pequenas reduções do consumo de sódio teriam na incidência de doenças cardiovasculares, na população de 35 a 84 anos de idade.
Os resultados foram assustadores. Um esforço nacional que resultasse na redução de apenas 3 g de sal no consumo diário, reduziria o número de infartos (de 54 a 99 mil casos por ano), de derrames cerebrais (60 a 120 mil por ano) e de mortes por outras causas (44 a 90 mil por ano). Como consequência o sistema de saúde do país economizaria U$ 10 a 20 bilhões, anuais.
Mesmo reduções diárias da ordem de 1 g já seriam suficientes para melhorar os índices de mortalidade.
A diminuição do consumo traria tantos benefícios à população quanto o combate ao tabagismo, à obesidade e a promoção do uso de medicamentos para tratar hipertensão e os níveis elevados de colesterol.
Para combater o abuso de sal existem duas estratégias: uma individual, outra pública. A individual é baseada na conscientização de que reduzir o consumo faz bem à saúde; a pública tem a finalidade de convencer os fabricantes de alimentos processados industrialmente a colocar menos sal em seus produtos.
Como cerca de 70% do sódio ingerido na dieta do brasileiro médio vem dos alimentos industrializados, o convencimento individual tem impacto limitado. Cabe às autoridades responsáveis estabelecer regras que limitem a quantidade de sódio em molhos prontos, condimentos, salgadinhos, picles, conservas, pizzas, sopas de pacote, embutidos, queijos e outros alimentos. Países como Finlândia, Inglaterra, Japão e Portugal já o fizeram com resultados altamente positivos.
De minha parte, leitor, já comecei a diminuir o sal nas refeições e a prestar atenção na quantidade de sódio exposta no rótulo dos alimentos industrializados. Não custa nada, é apenas questão de acostumar com o gosto menos salgado. Apesar de ter pressão normal, quem me garante que no futuro o excesso de sal não me tornará hipertenso? Não vale a pena correr esse risco.