Página Inicial
Dermatologia

Mais da metade dos brasileiros nunca foi ao dermatologista, revela pesquisa

Estudo da L’Oréal e da Sociedade Brasileira de Dermatologia revela desigualdades no acesso aos cuidados dermatológicos e mostra que gênero, renda e cor da pele influenciam a busca por saúde da pele

Mais da metade dos brasileiros nunca consultou um dermatologista — e esse índice aumenta de acordo com o gênero, a cor da pele e a classe social. Homens cuidam menos da pele do que as mulheres. Entre os jovens, a principal motivação para buscar cuidados dermatológicos é a autoestima; entre os mais velhos, prevalece a preocupação com a saúde.

Essas foram algumas das conclusões do estudo Dossiê Brasil à Flor da Pele, feito pela L’Oréal em parceria com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Os dados foram coletados pelo Instituto Datafolha entre 9 e 12 de junho de 2025, com 2.008 pessoas de 136 municípios, todas com 16 anos ou mais. Entre os entrevistados, 48% são homens e 52% mulheres; 63% têm pele negra, 32% branca, 3% amarela e 2% indígena. A renda familiar varia de sem renda a acima de dez salários mínimos.

Regionalmente, 43% vivem no Sudeste, 26% no Nordeste, 14% no Sul e 8% em cada uma das regiões Norte e Centro-Oeste. No total, 69% possuem plano de saúde, enquanto 31% não têm.

Veja os principais achados abaixo. 

 

Quem vai (ou não vai) ao dermatologista

A pesquisa mostra que 54% dos entrevistados nunca foram ao dermatologista, apesar de 86% deles concordarem que os problemas da pele não se resolvem sozinhos. Mas ao detalhar os dados, surgem diferenças marcantes. Entre os homens, apenas 37% já foram ao menos uma vez na vida a esse profissional, contra 55% das mulheres.

Quando se observa o recorte racial e de classe, o contraste é ainda maior: 59% das pessoas negras nunca consultaram um dermatologista, ante 42% das pessoas brancas. Nas classes A e B, 69% e 66% já passaram por uma consulta, enquanto nas classes C e D/E as taxas caem para 46% e 32%, respectivamente.

“Esses dados revelam não apenas desafios persistentes de inclusão e acesso, mas também destacam oportunidades estratégicas de engajamento e expansão junto a públicos historicamente subatendidos: homens, a população negra e as classes socioeconômicas de menor poder aquisitivo”, diz o material. 

Entre os brasileiros que já foram ao dermatologista ao menos uma vez, 31% foram atendidos na rede pública, 38% por meio de plano de saúde e 30% em consultas particulares. Apenas 1% não soube responder.

E apesar de só metade ter ido ao profissional, 63% dos brasileiros sabem que devem procurar um dermatologista quando apresentam problemas relacionados à pele ou desejam mais informações; 19%, porém, não souberam responder qual profissional procurar; 8% buscam médicos clínicos gerais e 2%, esteticistas.

Veja também: Tratamento integral para dermatite atópica chega ao SUS

 

Por que os brasileiros procuram o dermatologista

No último ano, apenas 12% dos brasileiros procuraram um médico especializado, de acordo com o levantamento. Entre os que buscaram, 57% o fizeram por orientação ou problemas na pele, e 11% por orientações ou questões capilares. 

Outros 10% procuraram devido a alergias, 9% por problemas nas unhas, 6% para consultas de rotina, 4% para procedimentos estéticos, 3% por questões nas mucosas, 2% para cirurgias reparadoras e 9% por outros motivos. 

 

Como o brasileiro cuida da pele? 

Mesmo entre os que nunca foram ao dermatologista, parte mantém uma rotina básica de cuidados. Um em cada cinco brasileiros (20%) segue uma rotina diária — com destaque para mulheres entre 24 e 44 anos, com ensino superior e das classes A e B.

Outros 29% usam apenas produtos básicos, como sabonete e protetor solar, principalmente homens acima dos 30 anos e com ensino fundamental. Já 25% cuidam da pele apenas de forma esporádica, perfil mais comum entre jovens mulheres da classe C.

Além disso, 14% adaptam os cuidados conforme a necessidade ou época do ano — comportamento típico de mulheres com mais de 35 anos, ensino superior e das classes A e B. Por fim, 12% só buscam cuidados quando surge algum problema, grupo composto majoritariamente por homens acima dos 40 anos, das classes D e E.

 

Por que os brasileiros cuidam da pele? 

As redes sociais desempenham hoje um papel central na formação da autoimagem e nos hábitos de cuidado com a pele, sobretudo entre os mais jovens. O estudo mostra que, para esse grupo, a principal motivação está ligada à autoestima: 23% dos brasileiros de 16 a 24 anos afirmam que esse é o motivo que os leva a buscar um dermatologista. À medida que a idade aumenta, essa relação vai se enfraquecendo — o percentual cai para 16% entre 25 e 34 anos, 14% entre 35 e 44, 10% entre 45 e 59 e apenas 7% entre os maiores de 60 anos.

Um levantamento anterior, o Inquérito Dermatológico da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), publicado em 2024, confirma essa tendência geracional. A acne (ligada à autoestima) aparece como a principal queixa nos consultórios de todo o país e, curiosamente, afeta justamente o grupo que menos procura ajuda médica. Segundo o relatório, 70% dos jovens entre 16 e 24 anos — faixa mais vulnerável aos impactos emocionais e sociais da acne — nunca consultaram um dermatologista.

Entre as faixas etárias mais maduras, o foco muda. A preocupação deixa de ser a aparência e passa para a saúde. A prevenção de doenças é o motivo mais citado por 43% das pessoas de 35 a 44 anos, 39% das que têm entre 45 e 59 e 42% dos maiores de 60. Já entre os mais jovens, apenas 29% mencionam esse tipo de preocupação.

Veja também: Câncer de pele: sinais que você precisa saber identificar

 

Busca por informações nas redes sociais

O estudo aponta ainda que o público jovem, altamente engajado nas redes sociais, é também o mais vulnerável à exposição constante a padrões de beleza — o que pode intensificar a ansiedade relacionada à aparência.

Além de ditar regras de beleza, a internet também é a principal fonte de informação sobre cuidados com a pele. De acordo com a pesquisa, 54% dos brasileiros buscam conteúdos sobre produtos e procedimentos nessas plataformas.

Desse total, 19% consomem informações em redes sociais ou com criadores de conteúdo, 13% pesquisam no Google ou em sites médicos, e 9% recorrem ao YouTube. Por outro lado, 14% procuram médicos conhecidos e 4%, outros profissionais.

 

Produtos e automedicação

Mas essa vitrine global de produtos na internet também é um problema. Entre os entrevistados, 39% dizem ver anúncios de tratamentos “milagrosos” e 28% testam novos produtos influenciados por redes sociais, sem orientação profissional — prática que pode afetar a saúde da pele.

O dossiê aponta que o uso sem orientação de cosméticos — muitos deles com fórmulas inadequadas, concentrações agressivas ou combinações de substâncias não recomendadas — tem contribuído para o aumento de casos de dermatite de contato (inflamação na pele causada pelo contato de alguma substância) e para o agravamento da dermatite atópica (inflamação crônica na pele).

“Esse cenário reforça a importância de orientação médica especializada, tanto para o manejo seguro da acne quanto para a prevenção de complicações decorrentes de práticas inadequadas de cuidado”, diz o relatório. 

 

Dermatologistas: como são vistos? 

Embora quase 70% dos brasileiros saibam o que faz um dermatologista, ainda há muita confusão sobre a profissão. Para 17% dos entrevistados, trata-se apenas de alguém que “cuida da pele”, sem necessariamente ter formação médica. Outros 8% acreditam que o dermatologista pode ser um profissional de saúde de outras áreas, e 6% não souberam responder.

O levantamento também mostra como a dermatologia ainda é uma especialidade pouco representada no país. Entre 2011 e 2024, o número total de médicos especialistas cresceu 154%, passando de 187.883 para 477.155. Mesmo assim, apenas 2,4% pertencem à dermatologia — enquanto 97,6% atuam em outras áreas da medicina.

Veja também: Doenças de pele mais comuns em crianças no verão | Animação #38

Compartilhe
Sair da versão mobile