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Infectologia

Hidroxicloroquina, usada em tratamento reumatológico, falta nas farmácias devido à covid-19

close de mão segurando vários comprimidos, indicando uso excessivo de medicamentos
Publicado em 20/03/2020
Revisado em 11/08/2020

Sem evidência definitiva de eficácia contra novo coronavírus, hidroxicloroquina, usada de forma contínua por pacientes reumatológicos, falta nas farmácias.

 

O discurso do presidente estadunidense Donald Trump em 19/03/2020 afirmando que o FDA (agência responsável por medicamentos e alimentos do país) aprovou a hidroxicloroquina e que, inclusive, os EUA estavam utilizando em caráter experimental a droga para tratar pacientes com covid-19 causou uma corrida maluca dos brasileiros às farmácias de todo o país.

O grande problema nessa história é que o consumo irresponsável e desenfreado da medicação, já que não há necessidade de prescrição médica nem retenção de receita, gerou enorme desabastecimento em farmácias do país, deixando desamparadas milhares de pessoas que precisam do medicamento de forma contínua, incluindo pacientes com problemas reumatológicos como lúpus, artrite reumatoide e artrite juvenil.

Veja também: Respostas às perguntas mais frequentes sobre o novo coronavírus

Hoje (20/03/2020), em uma ida à farmácia para comprar medicamentos para minha mãe, que tem lúpus, me deparei com uma paciente angustiada. Ela tinha artrite e já havia rodado mais de quatro farmácias em busca do remédio e simplesmente não encontrava. Disse que tinha somente mais quatro comprimidos.

A reportagem entrou em contato com uma fonte do setor de farmácias, que informou que realmente houve aumento na procura nos últimos dias. Embora não saiba mensurar esse aumento, é o suficiente para causar deficiências na oferta, já que normalmente os estoques desse medicamento não são altos.

O reumatologista José Roberto Provenza, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), está bastante preocupado com a situação. Ele explicou que a hidroxicloroquina é fundamental para o tratamento das doenças reumáticas e que as pessoas deveriam parar de estocar o medicamento em casa, ainda mais as que estão comprando sem ter covid-19. “Não há ainda trabalhos de relevância científica que dizem que a hidroxicloroquina funcione como prevenção à infecção causada pelo novo coronavírus.”

Outra agravante: Sem prescrição nem orientação médica, o medicamento pode provocar uma série de efeitos colaterais. Há inclusive muitos pacientes com reumatismos que não se acostumam com a medicação por conta deles. Minha mãe é uma delas. “Quando prescrevemos, fazemos um trabalho de acompanhamento, pois essa medicação pode causar bastante dor e fraqueza musculares, alterações hepáticas, cutâneas e queda das plaquetas”, explica o reumatologista.

A Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas também demonstra preocupação, e emitiu a seguinte nota: “Embora bastante seguro em doses habituais, há risco de efeitos colaterais graves relacionados à retina, alterações neurológicas e arritmias cardíacas potencialmente graves, o que pode aumentar o risco de morte. A associação de hidroxicloroquina com outros medicamentos pode aumentar ainda mais o risco de efeitos adversos”.

A questão principal é que se começar a faltar para quem realmente precisa, a depender da gravidade da doença e se a pessoa está ou não em remissão, é possível que reapareçam alguns sintomas como dores articulares, queda de cabelo, diminuição do processo inflamatório. Nesse momento, é recomendado que o paciente reumatológico que não esteja conseguindo encontrar o medicamento entre em contato com seu médico para ajustar a dose de outros medicamentos complementares que fazem parte do tratamento. O ideal, porém, é que outras pessoas não sejam responsáveis para esses pacientes ficarem sem.

 

Entidades solicitaram que hidroxicloroquina seja vendida só com receita

 

Para tentar bloquear essa explosão nas vendas do medicamento, Provenza afirmou que o Conselho Federal de Medicina (CFM), juntamente com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), solicitou hoje ao Ministério da Saúde, mais precisamente ao Departamento de Assistência Farmacêutica, que emitam ordem para que a medicação seja liberada somente com receita médica e especificação de CID (Classificação Internacional de Doenças) da doença. Ele acredita que até a próxima semana deverá ser emitida alguma norma técnica sobre o tema.

No fim da tarde de hoje (20), a Anvisa anunciou que a hidroxicloroquina e cloroquina passam a ser medicamentos de controle especial. Dessa maneira, para adquirir o medicamento será necessário receita branca especial com duas vias. Pacientes reumatológicos poderão ainda utilizar a receita simples por 30 dias.

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