Principais dúvidas sobre a hepatite misteriosa | Coluna

Até o momento, a ciência desconhece a causa da hepatite misteriosa que tem atingido crianças e adolescentes no mundo todo. No Brasil, já são mais de 60 casos suspeitos.

foco em equipo de soro, com menina internada em leito hospitalar ao fundo. veja as dúvidas sobre hepatite misteriosa

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Publicado em: 26 de maio de 2022

Revisado em: 26 de maio de 2022

Veja as principais dúvidas sobre “hepatite misteriosa”, doença que já atingiu crianças no mundo todo e ainda não tem causa conhecida.

 

Depois de mais de dois anos vivendo a pandemia de covid-19, é natural que fiquemos no mínimo apreensivos diante de uma doença nova, da qual ainda não conhecemos a causa, e que atinge crianças e adolescentes de forma potencialmente grave.

Portanto, quando surgiram casos de hepatite fulminante em crianças saudáveis que precisaram de transplante de fígado poucos dias após o início dos sintomas, o mundo ficou em alerta. A notícia da morte de algumas crianças assustou pais e responsáveis.

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O que estaria ocasionando as centenas de casos de uma hepatite sem etiologia (causa) conhecida, a “hepatite misteriosa“, descritos no mundo? Por que os médicos ainda não sabem o que está provocando a doença? O que a ciência já conhece e o que ainda não sabemos?

Veja as principais dúvidas sobre hepatite misteriosa.

 

Onde surgiu a doença?

 

Embora tenha sido identificada em abril deste ano no Reino Unido, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) afirma já ter registrado cinco casos da doença no país norte-americano em outubro de 2021.

 

Quem são as pessoas atingidas?

 

A doença atinge especialmente crianças saudáveis com menos de 5 anos, mas há registros em crianças mais velhas e adolescentes.

 

Quantos casos já foram confirmados no mundo? E no Brasil?

 

Até 23 de maio deste ano, já foram descritos 600 casos de hepatite no mundo, com 14 mortes. No Brasil, há 64 casos suspeitos e dois transplantes de fígado causados pela doença no Rio de Janeiro e em Pernambuco.

“Por analogia às outras hepatites, entendemos que para cada caso de hepatite grave devam existir um grande número de casos de hepatite leve que sequer é diagnosticado”, afirma o dr. Raymundo Paraná, hepatologista e professor titular do Departamento de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

 

A vacina contra a covid-19 pode estar causando a doença?

 

A hepatite não tem nenhuma relação com a vacina contra a covid-19, conforme especulou-se. Inclusive, boa parte dos casos aconteceu em crianças não vacinadas contra o Sars-CoV-2.

 

Os casos não podem ter sido causados pelos vírus já conhecidos que costumam provocar hepatite?

 

Médicos investigaram outros tipos de hepatite viral, como a A, B, C, D e E nas crianças acometidas pela hepatite de causa desconhecida,  mas não foram encontradas evidências de nenhuma dessas infecções nos pacientes. Também não foram identificadas outras viroses que podem provocar hepatites.

 

Quais os sintomas?

 

O quadro se assemelha ao de qualquer hepatite viral, com sintomas como mal-estar, fadiga, náuseas e vômitos e nos casos mais graves, dor abdominal, diarreia, pele amarelada (icterícia) e urina escura (colúria).

 

O que a ciência sabe até agora?

 

Um fato que despertou o interesse dos médicos é que 70% dos pacientes acometidos pela hepatite de causa desconhecida apresentaram testes positivos para adenovírus do tipo 41, que costuma provocar gastroenterite em crianças. Embora haja o registro de crianças imunossuprimidas com hepatite causada por adenovírus, de acordo com o CDC esse vírus não provoca a doença em indivíduos saudáveis.

“Até o momento, a medicina baseada em evidência científica ainda não foi capaz de estabelecer uma relação causal entre a hepatite e esse vírus [adenovírus]”, explica o dr. Paraná.

Veja também: Panorama das hepatites no Brasil

 

Quais são as principais hipóteses até o momento?

 

A causa da doença ainda não foi determinada, mas há algumas hipóteses sendo investigadas por médicos e pesquisadores do mundo todo:

  1. O isolamento social teria feito com que as crianças se expusessem menos a infecções, e com isso seu sistema imunológico não teria sido estimulado suficientemente, tornando-se despreparado para enfrentar novas infecções pelo adenovírus. Contra essa hipótese há o fato de que o mesmo fenômeno não tem sido observado com outras viroses.
  2. O adenovírus, que causa infecções intestinais e respiratórias comuns em crianças, pode ter sofrido mutações no seu código genético e se tornado mais virulento. Até o momento, no entanto, nenhuma mutação foi detectada, o que torna essa hipótese pouco provável.
  3. A exposição das crianças à covid-19 teria estimulado seu sistema imunológico, que acabou reagindo com hiperatividade a infecções causadas por outros vírus, incluindo o adenovírus. Nesse caso, o adenovírus não seria o responsável pela hepatite, mas sim a resposta imunológica que, ao combater o vírus, acabaria agredindo o tecido hepático. Contudo, não há evidências de que as crianças com hepatite tenham sido expostas prévia ou concomitantemente ao Sars-CoV-2.
  4. A doença seria provocada por outro vírus desconhecido, ainda não identificado.

 

Há motivo para pânico ou alguma medida sanitária mais radical para conter a doença?

 

Embora a OMS tenha recomendado que seus países-membros concentrem esforços para determinar a causa e para investigar, identificar e reportar casos novos, a organização não recomendou nenhuma restrição.

Segundo o dr. Paraná, os casos requerem atenção, mas não há motivo para alarde: “Boa parte desses casos de hepatite deve ser leve e sequer chega ao diagnóstico”.

 

A que sinais devo ficar atento?

 

Segundo o CDC, os pais devem ficar atentos a sinais como:

  • Febre;
  • Fadiga;
  • Perda de apetite;
  • Náusea;
  • Vômitos;
  • Dor abdominal;
  • Urina escura;
  • Fezes esbranquiçadas;
  • Dor nas articulações;
  • Icterícia (pele amarelada).

 

Como prevenir a doença?

 

Ainda de acordo com o órgão, os pais devem:

  • manter atualizada a caderneta de vacinação dos filhos;
  • fazê-los lavar as mãos com frequência;
  • ensiná-los a cobrir a boca e o nariz ao espirrar ou tossir;
  • mandá-los a evitar tocar os olhos, nariz e boca.

 

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