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Paracetamol durante a gravidez aumenta risco de autismo no bebê? | Checagem

Menina soprando bolhas de sabão com a mãe observando atrás.
Publicado em 26/04/2019
Revisado em 11/08/2020

Será que o analgésico e antipirético paracetamol pode causar autismo em filhos de mulheres que fizeram uso da droga durante a gestação.

 

Matéria de uma revista de grande circulação afirmou que bebês filhos de mulheres que fizeram uso do analgésico e antipirético (antitérmico) paracetamol — usado para aliviar dor e febre — durante a gravidez têm risco maior de ter um transtorno do espectro autista (TEA). Será que é verdade?

 

QUEM DISSE? Revista Veja

O QUE DISSE? Gravidez: paracetamol pode aumentar risco de autismo no bebê1

QUANDO DISSE? 19/11/2018

CHECAGEM: INSUSTENTÁVEL

 

Veja também: Checagem: Cozinhar em panelas de alumínio não é perigoso para a saúde

 

CONTEXTO

 

Há muito tempo mulheres ouvem de seus médicos e leem em sites sobre saúde que o paracetamol é o melhor analgésico para se tomar durante a gravidez por apresentar menos riscos para o desenvolvimento do feto.

Entretanto, no final do ano de 2018 foi publicado um grande estudo sugerindo que tomar remédios à base de paracetamol com muita frequência durante a gravidez pode aumentar os riscos de desenvolvimento de transtornos do espectro autista.

Mas será que a ligação entre paracetamol e autismo foi realmente comprovada por esse estudo? A DROPS checou!

 

O QUE DIZ A CIÊNCIA

 

Segundo a Organização Mundial da Sáude (OMS)²,  o termo autismo “refere-se a uma gama de condições caracterizadas por algum grau de comprometimento  no comportamento social, na comunicação e na linguagem, e uma gama limitada de interesses e atividades que são únicas para o indivíduo e realizadas repetidamente”. Ainda de acordo com a OMS, atualmente 1 a cada 160 crianças nasce com algum transtorno do espectro autista. Apesar de o autismo ser atualmente “o transtorno do desenvolvimento que mais cresce”, segundo dados da National Autism Association3, suas causas ainda não são totalmente conhecidas.

Um estudo científico realizado por pesquisadores israelenses⁴, publicado em abril de 2018, que associava o uso de paracetamol durante a gravidez ao aumento da incidência de algumas doenças em bebês, entre elas transtornos do espectro autista, teve enorme repercussão. No Brasil, uma das matérias publicadas sobre o assunto foi uma reportagem da Revista Veja 5 que trazia o título afirmativo “Gravidez: paracetamol pode aumentar risco de autismo em bebê”. A equipe da DROPS resolveu então pesquisar o que algumas das maiores autoridades sobre saúde dizem  sobre as causas do autismo e uma possível relação da doença com o paracetamol. Eis o que encontramos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que6 “evidências científicas disponíveis sugerem que provavelmente existem muitos fatores que tornam uma criança mais propensa a ter um transtorno de espectro autista, incluindo fatores ambientais e genéticos”, porém não aponta nenhum fator específico. Posição similar é defendida pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), 7 que de forma semelhante afirma que “pode haver muitos fatores diferentes que tornam uma criança mais propensa a ter um transtorno do espectro autista, incluindo fatores ambientais, biológicos e genéticos.

Para o National Health Service da Inglaterra (NHS)⁸, “as causas do autismo ainda estão sendo investigadas e evidências atuais sugerem que o transtorno pode ser causado por muitos fatores que afetam a maneira como o cérebro se desenvolve, incluindo genética e fatores ambientais”. Ou seja, até o momento, as três entidades concordam que as causas do autismo são multifatoriais e não totalmente conhecidas e, em tempo, nenhuma das instituições faz referência ao medicamento paracetamol como um dos possíveis fatores de causa do transtorno.

Além disso, uma leitura criteriosa do estudo no qual a reportagem se baseou mostra que os próprios autores dizem que “apesar das descobertas serem preocupantes, os resultados devem ser interpretados com cautela, uma vez que as evidências disponíveis consistem em estudos observacionais e são suscetíveis a vários potenciais vieses”. Em outras palavras: fatores ambientais, características maternas e fatores genéticos que poderiam afetar os resultados do estudo não foram levados em consideração.

 

CHECAGEM

 

Com base no posicionamento das mais relevantes instituições de saúde do mundo e na análise detalhada do estudo, DROPS considera que a manchete da revista “Veja” “Gravidez: paracetamol pode aumentar risco de autismo no bebê” não possui atualmente embasamento de evidências científicas que a sustentem, sendo assim classificada como INSUSTENTÁVEL.

 

Referências

 

¹ https://veja.abril.com.br/saude/gravidez-paracetamol-pode-aumentar-risco-de-autismo-para-o-bebe/

² https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/autism-spectrum-disorders

³ http://nationalautismassociation.org/resources/autism-fact-sheet/

⁴ https://academic.oup.com/aje/article-abstract/187/8/1817/4980325?redirectedFrom=fulltext

⁵ https://veja.abril.com.br/saude/gravidez-paracetamol-pode-aumentar-risco-de-autismo-para-o-bebe/

⁶ https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/autism-spectrum-disorders

⁷ ttps://www.cdc.gov/ncbddd/autism/facts.html

⁸ https://www.nhs.uk/conditions/autism/causes/

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