Envelhecimento e problemas da próstata caminham juntos. Ainda assim, poucos homens se consultam com um urologista. Veja artigo do dr. Drauzio.
A próstata é uma glândula que traz problemas com o passar dos anos. É como o útero depois da menopausa. Por razões mal compreendidas, no entanto, enquanto a maioria das mulheres visita disciplinadamente o ginecologista todos os anos para fazer o exame de Papanicolaou, são raros os homens que procuram o urologista para examinar a próstata. Os poucos que o fazem geralmente tomam a iniciativa só para livrar-se das recomendações insistentes da mulher ou da filha preocupada.
A próstata é uma glândula acessória do aparelho reprodutor, que participa da produção do sêmen e ajuda a manter a viabilidade do esperma. Está localizada junto à parte inferior da bexiga, bem próxima do reto (por onde pode ser palpada pelo toque) e em contato íntimo com a uretra.
A partir de certas dimensões, os tumores prostáticos comprimem a bexiga e dificultam a passagem de urina pela uretra, causando aumento na frequência das micções (notado especialmente à noite), urgência para urinar e redução da força do jato urinário. Anualmente, a partir dos 50 anos, todo homem deve fazer um exame de sangue chamado PSA, submeter-se a um toque retal para avaliar as características da glândula e fazer a prevenção do câncer prostático, a segunda neoplasia mais prevalente nessa faixa etária (perde, apenas, para o câncer de pulmão, intimamente associado ao cigarro).
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Quando o índice de PSA está anormalmente elevado ou o toque retal mostra a presença de tumor na próstata, está indicada uma biopsia por agulha, pois o diagnóstico de câncer precisa ser feito no microscópio. O PSA é uma proteína liberada na circulação sanguínea tanto pelo tecido normal da próstata quanto pelas células malignas prostáticas.
Quando surge o câncer, os níveis de PSA no sangue costumam subir. O aumento ocorre antes que o homem tenha sintomas urinários ou que o médico palpe o tumor pelo toque. Daí a importância do exame: permite detectar a presença de tumores nas fases iniciais, quando podem ser curados com facilidade.
Infelizmente, falta especificidade ao PSA. Até 25% dos homens com câncer de próstata apresentam valores de PSA dentro da faixa de normalidade (igual ou menor do que quatro nanogramas por mililitro). No entanto, mais da metade dos portadores de PSA acima de quatro não tem câncer.
Por isso o toque retal é imprescindível: permite detectar tumores em pessoas com PSA normal. Fisiologicamente, à medida que envelhecemos, a média de PSA tende a aumentar. Por essa razão, há uma tendência entre os urologistas a procurar uma escala de valores de PSA aceitáveis para cada faixa etária.
A finalidade desse tipo de escala é evitar a biopsia de próstata em homens mais velhos, com índices de PSA mais altos. Há especialistas, entretanto, contrários à aplicação desse tipo de procedimento. Argumentam que sua utilização pode deixar escapar tumores malignos, principalmente no grupo de pessoas com mais de 70 anos de idade.
A velocidade de aumento do PSA de um ano para outro é muito importante para o diagnóstico de câncer de próstata, mesmo entre aqueles com exames dentro da faixa de normalidade.
A maioria dos urologistas considera que um aumento do nível de PSA maior do que 0,75 por ano seja indicativo da necessidade de biopsia de próstata. Por essa razão, é muito importante arquivar os valores anuais do PSA, independentemente das anotações do médico.
Os homens que apresentam PSA na faixa de quatro a dez caem na chamada “zona cinzenta”. Eles podem beneficiar-se da determinação de um exame de sangue mais discriminativo: o PSA livre. Parte do PSA excretado pelo tecido prostático fica livre na circulação; o restante liga-se a outras proteínas do sangue. A relação entre o PSA livre e o PSA ligado à proteína costuma ser baixa nos casos de câncer de próstata.
A descoberta do PSA foi um dos grandes avanços da cancerologia no final do século XX. Antes dela, o diagnóstico precoce de câncer de próstata era raridade. A maioria dos doentes vinha com tumores enormes, inoperáveis, muitas vezes já espalhados para outras partes do corpo.
No Brasil, poucos homens beneficiam-se da existência do exame. Muitos por não terem acesso a ele por meio do sistema público; outros por ignorância ou porque o médico é mal informado e não faz o pedido. Além disso, a necessidade do toque retal, independentemente do valor do PSA, parece que assusta sobremaneira o homem brasileiro.
Muitos interpretam essa resistência ao exame como demonstração inequívoca de macheza tropical; outros, ao contrário, atribuem-na à insegurança em relação à própria masculinidade. Entre os primeiros, certamente estava seu Olinto, um senhor de 70 anos, nascido e criado em Ponta Porã, de quem tratei há mais de 20 anos e que respondeu com sotaque forte quando lhe falei da necessidade do toque:
— O que é isso, doutor? Isso pode ser moda aqui em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na minha terra, não!