Questionário que avalia desempenho em atividades do cotidiano pode ajudar a identificar sarcopenia, associada a aumento da mortalidade em pessoas mais velhas.
Um questionário simples, que avalia 5 atividades corriqueiras, pode dizer muito sobre a sua saúde:
- É difícil levantar um peso de 5 kg?
- É difícil andar de um cômodo a outro?
- Você tem dificuldade para levantar-se da cadeira ou da cama?
- Quanta dificuldade você tem para subir 10 degraus?
- Quantas vezes você caiu no ano passado?
Essas perguntas podem responder como está sua eficiência muscular. O termo médico para a situação em que há perda de função muscular é sarcopenia (“falta de músculo”, em tradução livre). Importante notar que, apesar do nome, o que interessa não é a quantidade de músculo, mas sim sua eficiência. Existem testes clínicos simples que podem estimar a função muscular em alguém que apresenta dificuldades nas atividades acima. Esse problema é tão relevante que, desde 2016, a sarcopenia recebeu um código específico na classificação de doenças (M62.84).
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A musculatura esquelética é ligada aos ossos e conseguimos comandá-la, por exemplo, para caminhar ou carregar pesos. Quanto mais a utilizarmos, menor o risco de que seu declínio se dê rapidamente. Durante a vida, temos um pico de massa muscular eficiente entre os 20 e 35 anos. Após essa idade, dependendo de fatores genéticos, nutricionais e dos nossos hábitos, o declínio pode variar. A vida atual nas cidades, com pouca atividade física e alimentação de baixa qualidade, contribui para a piora da qualidade dos nossos músculos. Estima-se que, a depender da definição de sarcopenia, cerca de 3% das pessoas entre 40 e 79 anos tenham perda significativa de função muscular.
Apesar de intuitivamente acharmos que músculos fortes dão uma aparência saudável a quem os exibe, não fazemos a mesma associação entre pouco músculo e pouca saúde. Mas a relação existe. A perda de função muscular não provoca somente dificuldades no cotidiano, como as mencionadas no questionário, mas pode ter também uma relação importante com a mortalidade, por aumentar a vulnerabilidade a fraturas e outros traumas. Um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) estima que o risco de morte em homens com pouca massa magra e mais de 65 anos aumente 11,4 vezes. Nas mulheres da mesma faixa etária, a estimativa é que o risco aumente quase 63 vezes.
As causas mais comuns de sarcopenia estão associadas a fatores nutricionais (baixa ingestão de proteína, por exemplo), falta de atividade física (por estilo de vida ou imobilidade) e doenças variadas (ósseas, metabólicas, cardíacas etc.).
Ao separamos as pessoas que têm enfermidades e necessitam de atenção específica, o melhor tratamento para a sarcopenia é manter o movimento. Há estudos mostrando que, independentemente da idade, os treinos físicos melhoram a massa muscular, a força e o equilíbrio. E ainda: mais que tratar, usar os músculos regularmente pode prevenir a sarcopenia.
Referências
Cruz-Jentoft AJ, Sayer AA. Sarcopenia. Lancet 2019; 393:2636-46
Malmstrom TK, Morley JE. SARC-F: a simple questionnaire to rapidly diagnose sarcopenia. J Am Med Dir Assoc 2013; 14:531-532
Felipe M de Santana, Diogo S Domiciano, Michel A Gonçalves, Luana G Machado, Camille P Figueiredo, Jaqueline B Lopes ,Valéria F Caparbo, Lilliam Takayama, Paulo R Menezes, Rosa MR Pereira. Association of Appendicular Lean Mass, and Subcutaneous and Visceral Adipose Tissue With Mortality in Older Brazilians: The São Paulo Ageing & Health Study. Journal of Bone and Mineral Research 2019