idosa com comprimidos de vitaminas na mão. Multivitaminas não aumenta a longevidade
Publicado em 22/10/2024
Revisado em 22/10/2024

Estudo mostra que o uso de multivitaminas não traz benefício para a longevidade. Leia no artigo do dr. Drauzio.

 

A fé nas vitaminas vem de longe. A crença se dissemina especialmente entre aqueles com maior poder aquisitivo e mais anos de escolaridade, mas não poupa os que se sacrificam para comprá-las.

O problema é mundial: europeus, americanos e asiáticos criaram um mercado mundial estimado em 50 bilhões de dólares anuais.  Nos Estados Unidos, um em cada três adultos faz uso regular de multivitaminas. Nas cidades norte-americanas, há lojas especializadas que expõem vitaminas e suplementos nutricionais para todos os gostos, algumas do tamanho de supermercados.

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A motivação por trás do consumo é a de manter ou melhorar a saúde e a de prevenir o aparecimento de doenças crônicas: hipertensão arterial, diabetes, infecções, câncer e o que mais sugerir a imaginação humana. A prevalência do consumo é mais alta nos mais velhos, nas mulheres, nos brancos e naqueles com nível universitário. A pandemia fez as vendas aumentarem significativamente.

Publicações anteriores sobre os possíveis benefícios do uso apresentaram resultados conflitantes que contribuíram para a falta de racionalidade nesse campo. Os estudos não conseguiram demonstrar evidências conclusivas, por incluir números pequenos de participantes acompanhados durante períodos curtos e pessoas com doenças pré-existentes e não discriminar se aqueles que tomam vitaminas são os mesmos que adotam dietas mais saudáveis e praticam atividade física.

A revista “Jama” acaba de publicar uma pesquisa que procurou evitar esses vieses estatísticos. Foram reunidos 390.124 mulheres e homens adultos, saudáveis, que vêm sendo seguidos em 3 grandes coortes americanas.

A média de idade dos participantes era de 61,5 anos. Não foram aceitas pessoas com condições crônicas, como diabetes, hipertensão e outras. O período médio de acompanhamento foi longo: 27 anos.

O objetivo era o de avaliar se os usuários de multivitaminas apresentavam redução da mortalidade geral. Em outras palavras: se tomar vitaminas aumenta a longevidade.

De acordo com o National Death Index, no decorrer dos 27 anos ocorreram 164.762 óbitos, assim distribuídos: 50 mil por câncer, 35 mil por doenças cardiovasculares e 9 mil por acidentes vasculares cerebrais, os demais tiveram outras causas.

Os resultados revelaram que, na comparação com os que não tomavam vitaminas, aqueles que o faziam todos os dias tiveram mortalidade 4% mais alta. Quando foram separados os participantes com 55 anos ou mais, nos que faziam uso diário de multivitaminas, esse número foi 15% mais alto.

Os resultados não se alteraram em função da raça, etnicidade, nível educacional e o tipo de dieta do participante.

O United States Preventive Services Task Force (USPSTF), painel independente formado por especialistas em prevenção e medicina baseada em evidências, depois de analisar esse e outros ensaios clínicos, manteve a mesma conclusão que fora publicada em 2014: “A evidência atual é insuficiente para avaliar os riscos e os benefícios do uso de multivitaminas na prevenção de doenças cardiovasculares e câncer”.

A pesquisa não avaliou possíveis benefícios específicos, deteve-se apenas na mortalidade. No entanto, há evidências de que suplementação com betacaroteno, vitaminas C, E e zinco podem retardar a degeneração da mácula, patologia que pode levar os mais velhos à cegueira. Multivitaminas podem corrigir as deficiências causadas pelas cirurgias bariátricas. A administração de ácido fólico (do complexo B) durante a gravidez protege contra defeitos na formação do tubo neural do feto.

Por outro lado, os dados não permitiram avaliar os malefícios das multivitaminas. Dois estudos bem conduzidos demostraram que o risco de câncer de pulmão aumenta quando o fumante faz uso de betacaroteno. Multivitaminas que contém vitamina K reduzem a eficácia das anticoagulantes. Preparações com concentrações elevadas de ferro aumentam o risco de doenças cardiovasculares, diabetes e demência.

A conclusão é que, descontadas as indicações citadas, tomar vitaminas para preservar a saúde, prevenir gripes, resfriados, doenças crônicas, aumentar a longevidade e melhorar a qualidade de vida não passa de pensamento mágico.

O destino final das vitaminas importadas pelas quais você paga uma fortuna, é o vaso sanitário do seu banheiro.

 

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