Existem dores que pioram durante a noite. Dores ortopédicas, nas articulações ou associadas a doenças reumatológicas são alguns exemplos. Em alguns casos, a dor pode ser causada por uma sobrecarga física — por exemplo, uma dor na coluna ou no quadril que aparece no fim do dia depois que a pessoa passou o dia todo trabalhando em pé.
Mas existem outros fatores que podem favorecer o aumento da dor no período noturno.
“Nós, os seres humanos, somos regidos pelo ciclo do Sol e da Lua. Então, no período da manhã, nós produzimos alguns hormônios e no período da noite, a gente produz outros hormônios. O hormônio do cortisol é produzido pela manhã. E esse hormônio ajuda a diminuir a dor, porque o cortisol é como se fosse um anti-inflamatório”, afirma Mariana Palladini, médica anestesista responsável pelo Centro Paulista de Dor.
Por esse motivo, no período da manhã, as dores geralmente melhoram e no período da noite, quando o corpo começa a produzir a melatonina, elas pioram — pois há uma queda no cortisol.
Outro ponto importante, segundo a especialista, é a distração. Se uma pessoa tem um estímulo doloroso, mas está distraída por outros motivos, sua percepção de dor é menor. Sem distrações (o que é mais comum na hora de dormir), essa percepção naturalmente aumenta e a dor fica mais evidente.
As temperaturas baixas também exercem um papel importante nesse contexto. Não é crendice popular que muitas dores pioram com o frio. Por exemplo, as dores neuropáticas (que se originam nos nervos) pioram no frio e melhoram no calor. Ou seja, à noite, quando as temperaturas caem, a tendência é que o incômodo aumente.
“A nossa máxima é dizer que uma dor aguda tem que ser tratada com gelo, com frio, e uma dor crônica tem que ser tratada com calor, até porque na dor crônica a gente tem muitas vezes comprometimento miofascial, que é o comprometimento da musculatura. E com o calor local, essa musculatura relaxa. Então, na dor crônica, a gente acaba tendo uma melhora da dor com o calor local”, esclarece a médica.
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O que fazer para melhorar?
Para aliviar a dor do período noturno, a especialista diz que é importante se acomodar de forma adequada na cama. Algumas orientações são: deitar de lado; usar um travesseiro com altura adequada (preenchendo a distância entre a orelha e o ombro) para que a coluna cervical fique estável; colocar um travesseiro entre as pernas; e abraçar um travesseiro, evitando que o ombro que está para cima fique solto, o que ajuda no controle da dor.
Além disso, outras medidas como calor local, meditação, sons relaxantes e práticas de higiene do sono também são úteis, pois ajudam a relaxar a musculatura.
Dormir bem muitas vezes é um desafio para quem tem dor crônica. Algumas dores, como, por exemplo, a fibromialgia (que afeta todo o corpo) pode prejudicar significativamente o sono. “É muito importante uma qualidade de sono adequada para o paciente, para que ele tenha o sono reparador e acorde melhor”, ressalta a dra. Mariana.
Para quem convive com dores frequentes, é recomendado buscar avaliação médica para investigação e tratamento adequado do problema, e evitar a automedicação. “É possível viver sem dor”, conclui a médica.




