Lavar frutas e verduras do jeito certo pode reduzir os riscos dos agrotóxicos que não vemos, mas estão lá; saiba como.
O Brasil ocupa o primeiro lugar em ranking preocupante: é o país que mais usa agrotóxicos no mundo. Foram 801 mil toneladas em 2022, quase o dobro das 468 mil toneladas utilizadas pelos Estados Unidos no mesmo ano, segundo os últimos dados divulgados pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). E esses pesticidas podem ficar nos alimentos que chegam à mesa do consumidor, representando um risco à saúde.
Diversos estudos apontam que resíduos de agrotóxicos em alimentos estão associados a sérios danos à saúde humana, como distúrbios neurológicos, déficits cognitivos e maior risco de doenças como Parkinson e Alzheimer. Eles também foram relacionados ao aumento de casos de câncer e a problemas reprodutivos decorrentes de desequilíbrios hormonais, como infertilidade e má-formação fetal. Crianças são ainda mais vulneráveis, pois consomem mais alimentos por quilo de peso corporal e seu sistema fisiológico é menos eficiente na eliminação dessas substâncias.
Por isso, segundo os especialistas consultados pela reportagem, lavar bem os alimentos é essencial, já que não é possível enxergar esses pesticidas simplesmente olhando para o que comemos. “Os agrotóxicos não são visíveis nos alimentos, não alteram cor, cheiro ou sabor, e por isso não é possível identificá-los a olho nu. A presença só pode ser detectada por meio de análises laboratoriais específicas”, afirma Keliani Bordin, engenheira de alimentos, doutora em engenharia de alimentos e professora do curso de engenharia química da Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
De acordo com o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), iniciativa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que avalia a presença dessas substâncias em produtos consumidos no Brasil, os alimentos com maior risco são laranja e abacaxi. Mas também foi possível identificar a presença dos produtos em outras frutas e verduras, como alface, alho, arroz, batata-doce, beterraba, cenoura, chuchu, goiaba, laranja, manga, pimentão, tomate e uva. Os agrotóxicos mais comuns encontrados incluem: dimetoato, ciflutrina, piraclostrobina, procimidona, profenofós, imidacloprido, clotianidina, cipronil, carbendazim, tiametoxam, cipermetrina, acefato e clorpirifós.
A última edição do PARA analisou 3.294 amostras de alimentos em 76 municípios brasileiros. Destas, 37% não continham nenhum resíduo detectável. Por outro lado, 36,9% apresentaram resíduos dentro do limite máximo de resíduos (LMR) — a quantidade máxima permitida por lei — e 26,1% apresentaram algum tipo de não conformidade.
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Como lavar os alimentos?
Existem várias formas de higienizar os alimentos, começando pela água corrente, que ajuda a remover parte dos resíduos superficiais de agrotóxicos, além de poeira e sujeiras. No entanto, apenas a água não é suficiente para eliminar todos os contaminantes. Veja abaixo os principais métodos recomendados.
Bicarbonato de sódio
Uma das formas, segundo a professora Eline de Almeida Soriano, médica nutróloga e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), é o uso de bicarbonato de sódio. “Estudos mostram que o bicarbonato de sódio pode ajudar a remover resíduos superficiais de certos agrotóxicos. A recomendação é dissolver uma colher de sopa em 1 litro de água e deixar os alimentos de molho por 15 a 20 minutos. Depois, enxaguar bem em água corrente”, orienta.
Água sanitária
A água sanitária também é eficaz na desinfecção microbiológica e pode auxiliar na redução de certos resíduos superficiais de agrotóxicos, segundo a médica. “O indicado é usar uma colher de sopa para cada litro de água e deixar os alimentos de molho por 15 minutos, depois enxaguar bem.”
Vinagre serve?
O vinagre tem efeito limitado na remoção de agrotóxicos, conforme explica a dra. Eline. Ele pode até ajudar na eliminação de algumas bactérias, mas não é eficaz contra compostos químicos. “Mesmo assim, se for usado, recomenda-se uma parte de vinagre para três de água, deixando os alimentos de molho por 15 minutos, seguido de enxágue.”
Medidas recomendadas além da lavagem
Outras práticas podem aumentar a eficácia na remoção dos agrotóxicos, segundo as especialistas, como:
- Escovação com água corrente: é indicada para raízes e frutas de casca mais grossa;
- Alternar a imersão com lavagem mecânica: usar solução de bicarbonato na imersão e depois lavar com água corrente;
- Descascar e cozinhar: descascar reduz significativamente os resíduos superficiais e cozinhar ajuda a degradar parte dos resíduos que são instáveis a calor;
- Priorizar alimentos da estação e orgânicos: sempre que possível, optar por alimentos da estação e de produtores locais, que costumam usar menos defensivos, é recomendado. Além disso, vale também optar por produtos orgânicos, que são cultivados sem o uso de agrotóxicos sintéticos, seguindo normas de certificação.
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O que não fazer de jeito nenhum?
O uso de sabão e detergente para higienização dos alimentos não é recomendado. “Usar sabão, detergente ou qualquer produto não alimentício para lavar frutas e verduras é perigoso. Esses produtos não são feitos para consumo e podem deixar resíduos tóxicos nos alimentos. Além disso, não são eficazes na remoção de agrotóxicos”, alerta a dra. Eline.
