Metabolismo, massa muscular, capacidade de se adaptar a mudanças de temperaturas… entenda os fatores que levam os idosos a sentirem mais frio.
À medida que os anos passam, o processo inevitável de envelhecimento transforma não apenas nossa aparência, mas também as complexidades internas do corpo. Essas transformações alteram nossa sensibilidade e isso se torna perceptível nos idosos, que ficam mais vulneráveis ao frio.
Mas como funcionam os mecanismos que causam essas mudanças? O que exatamente muda em nosso corpo para explicar essa reação tão intensa a baixas temperaturas?
Variedade de fatores
Ao abordar o envelhecimento, o dr. Leonardo Brando de Oliva, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia do Estado de São Paulo, destaca a heterogeneidade do público idoso, que varia entre os 60 e os 100 anos ou mais. Portanto, cada indivíduo pode sentir o processo de envelhecimento de um jeito diferente.
De uma maneira geral, uma das mudanças fundamentais que ocorrem no corpo ao longo do envelhecimento é a diminuição da capacidade de homeostasia. Segundo o dr. Leonardo, a homeostasia é a capacidade de manter o equilíbrio do corpo, que impacta diretamente a troca de calor, contribuindo para a sensação aumentada de frio. Ainda de acordo com ele, há uma diferença no funcionamento do metabolismo basal. “O nosso corpo tem um funcionamento próprio, e esse funcionamento gera energia, gera calor. Quando temos uma redução no metabolismo, há uma tendência a gerar menos calor e o indivíduo acaba sentindo mais frio”, explica.
“Uma coisa interessante é que a variação térmica é muito ruim para o idoso. Como a gente não consegue controlar bem esses mecanismos de manter a temperatura corporal conforme a idade avança, os dias em que está muito calor de dia e que ao final da tarde a temperatura cai muito, acabam prejudicando a saúde do idoso. O idoso adoece mais quando existe uma diferença de amplitude térmica grande”, alerta o especialista.
Segundo ele, um ponto que explica a alteração na sensação de frio e calor é referente ao mecanismo de dilatação e contração dos vasos sanguíneos na periferia do corpo. Em seu funcionamento normal, os vasos se contraem no frio, para manter o calor, e se dilatam no tempo quente, para dissipar o calor. “Essa troca [de calor] se dá pela vasodilatação dos vasos e esse mecanismo pode também estar alterado à medida que envelhecemos, então não conseguimos mais trocar calor. Assim, o corpo não consegue se resfriar em um ambiente quente e nem se aquecer em um ambiente frio”, diz.
A dra. Luciana Farias, geriatra da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, aponta como o envelhecimento da pele é um fator para essa sensação aumentada.
“Quando a pele envelhece, costumamos ver os sinais visíveis, ela enruga. Isso acontece porque ela perdeu a camada elástica e a camada de colágeno [da pele]. Mas embaixo da pele também há alterações no tecido subcutâneo. Ele diminui. E essa diminuição da quantidade de gordura faz com que fique mais difícil de conservar o calor que produzimos. Então perdemos mais facilmente o calor para o meio ambiente”, explica.
Outro fator mencionado pela dra. Luciana é o da perda de massa muscular. “Isso é natural do envelhecimento. Depois dos 40 anos, a cada década, apresentamos uma perda considerável da massa muscular. E a musculatura é um grande gerador de calor. Quando contraímos a musculatura, geramos calor. Sendo assim, essas alterações favorecem uma sensibilidade maior do idoso ao frio.” E por que perdemos massa muscular ao envelhecer?
“O envelhecimento naturalmente faz com que haja perda de massa muscular. As células morrem e não ocorre a renovação celular nesse ponto”, explica. “Não podemos deixar de mencionar ainda outros aspectos que podem contribuir para essa mudança na massa muscular. Há idosos que perdem mais massa muscular que outros por terem condições diferentes de saúde, por ter doenças, por utilizar medicamentos e também por se exercitarem menos.”
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Como os idosos podem lidar com o frio?
Para manter o corpo aquecido e aliviar a sensação de frio, algumas atividades são recomendadas. A prática de exercícios ajuda a quebrar um ciclo que não é benéfico. “É comum que os idosos sintam mais frio no inverno. A musculatura se contrai e é possível sentir dor, o que faz com que o idoso fique mais tempo parado, produzindo menos calor. E assim por diante”, comenta a dra. Luciana. Ela reforça o quão importante é a prática de atividade física pelos idosos no frio, em condições adequadas, sem exposição ao vento, de modo a liberar a contração muscular e aliviar as dores que aparecem ou se acentuam nas baixas temperaturas.
O consumo de água é outro ponto importante, pois segundo a médica, os idosos sentem menos sede por uma modificação no estímulo cerebral que chega com a idade. “Temos que encarar a água como um remédio. Encará-la como um cuidado da saúde. É preciso ter atenção, pois é comum que idosos acabem não bebendo a quantidade suficiente de água para manter-se hidratado.”
Veja outras recomendações dos doutores Luciana e Leonardo:
- Buscar ambientes aquecidos, sempre que possível;
- Utilizar roupas que proporcionem conforto térmico, como agasalhos e peças mais quentes;
- Alimentar-se regularmente;
- Consumir bebidas e alimentos quentes, como chás e sopas;
- Optar por alimentos termogênicos, como a canela, por exemplo, que ajudam a gerar mais calor;
- Tomar banhos mornos.