Sinais de risco de suicídio | Entrementes

Drauzio Varella

Drauzio Varella é médico cancerologista e escritor. Foi um dos pioneiros no tratamento da aids no Brasil. Entre seus livros de maior sucesso estão Estação Carandiru, Por um Fio e O Médico Doente.

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Na maioria dos casos, pessoas com tendências suicidas sinalizam a intenção. É importante identificá-los para que seja possível intervir. Dr. Jair Bouer fala sobre alguns desses sinais no vídeo abaixo.

 

Olá, pessoal! Eu sou o Jairo Bouer, colaborando para o Entrementes, do Portal do Dr. Drauzio Varella, neste mês de setembro – o Setembro Amarelo – em que a gente discute a importância da prevenção ao suicídio e de falar, discutir questões de saúde mental

Pessoal, os vídeos do canal nesse mês focaram muito na importância de a gente falar sobre o tema suicídio. Silenciar não ajuda, não faz bem pra ninguém. E falar, discutir, quebrar estigmas, tabus, preconceitos que cercam esse tema, podem ajudar muito a gente a prevenir casos de suicídio. No vídeo de hoje, a gente fala nos sinais que uma pessoa que tá em risco de suicídio pode apresentar. 

A primeira pergunta é: uma pessoa que está em risco de suicídio sempre dá algum tipo de sinal? Na maior parte das vezes, existem alguns sinais, sim, e se a gente parar pra prestar atenção, a gente consegue captar ou perceber esses sinais. Mas essa não é uma verdade absoluta, isso não funciona sempre.

Em alguns casos, a tentativa de suicídio é um gesto impulsivo, não pensado, não planejado, uma reação a uma situação específica ou a um momento específico. Então, exceções podem acontecer, como essas que a gente tá contando e a pessoa age impulsivamente. Então, muitas vezes não dá pra gente perceber, não dá pra gente prever.

Lembrar também, pessoal, que já que na maior parte das vezes existem alguns sinais que podem ser captados, lembrar que não existe uma causa única pro suicídio. O suicídio, normalmente, tem aspectos multifatoriais, ou seja, múltiplas causas podem estar envolvidas num desfecho como esse de uma tentativa de suicídio, ou mesmo do suicídio.

Como que a gente pode perceber, como que a gente pode captar alguns sinais que a pessoa que tá em risco de suicídio pode transmitir ou pode manifestar? Em geral, a pessoa traz frases do tipo “eu sou um fardo”, “eu sou um perdedor”, “minha vida não faz mais sentido”, “eu sou um peso extra pra vida das pessoas”, “o mundo vai ficar melhor se eu não estiver aqui”.

Então, quando a pessoa começa repetidamente a trazer esse tipo de conteúdo, a gente tem que prestar mais atenção. Ela pode realmente estar manifestando um desejo, uma vontade de morrer, de partir. Então, acho que esse é um primeiro ponto.

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Um segundo ponto a se considerar além das frases que a gente citou há pouco são sintomas que indicam uma desesperança, um desalento, uma tristeza em relação à vida. Então, falta de cuidado com si mesmo, ausência de prazer em qualquer tipo de atividade, isolamento social, ficar dentro de casa, ficar dentro do quarto, não querer sair, não querer falar com ninguém, tá sempre triste, pra baixo. Esses sintomas também chamam muita atenção e indicam pra gente um sofrimento emocional, um sofrimento psicológico grande.

A principal causa do suicídio é a depressão, seguida do transtorno bipolar e depois do abuso de substâncias. Então, essas são as principais causas. Se a gente tá trazendo que essas são as principais causas, de alguma forma esses sintomas depressivos, esses sintomas de desânimo, de tristeza, são muito comuns em quem tá pensando ou em quem vai tentar o suicídio. Então, acho que esse é um outro ponto a se considerar.

Com os mais novos, pessoal, e a gente já comentou em alguns outros vídeos que os transtornos mentais e os riscos de suicídio têm aumentado na população mais jovem, muitas vezes esses sintomas não são tão claros, já que muitas vezes o jovem fica mesmo no quarto dele o dia inteiro, fica interagindo com os colegas nas redes sociais, fala muito pouco, verbaliza muito pouco aquilo que ele tá sentindo. Nesse caso, principalmente dos mais jovens, a gente tem que prestar muita atenção nas postagens nas redes sociais. Então, frases, imagens. Isso tudo faz a gente começar a pensar na possibilidade desse adolescente ou desse jovem estar em risco.

Então, não são só as frases e só o comportamento, mas a produção de texto, a produção de imagem, como a pessoa compartilha esses textos e essas imagens nas suas redes sociais.

Outro sinal muito importante, pessoal, são os casos de automutilação ou autoagressão. A gente considera hoje que essa forma de provocar ou produzir um sofrimento no próprio corpo pode sinalizar o risco de um transtorno emocional, o risco de um sofrimento emocional e isso ter relação, ter conexão com o suicídio.

Pessoal, lembrar também que alguns fatores podem tornar algumas pessoas mais vulneráveis ao risco de suicídio. Quer dizer, além dos sinais, a situação de vida que essa pessoa tá. Então, se você sabe de alguém que perdeu o emprego e tá sofrendo muito com isso, está enfrentando uma crise econômica séria, a sua empresa foi vítima de falência, ou ele terminou um relacionamento e tá sofrendo muito com o término do relacionamento, ele perdeu um ente querido e não consegue superar essa perda, não tá conseguindo elaborar esse luto. Tudo isso, pessoal, vai criando uma situação de vulnerabilidade maior.

A gente sabe também que as pessoas com mais idade e que estão solitárias, isoladas, são grupos mais vulneráveis. A população LGBTQI+ também é uma população que é mais vulnerável ao risco de suicídio. Pessoas que são vítimas de agressão, violência, abuso sexual. Tudo isso cria vulnerabilidades, afeta a saúde emocional, a saúde mental dessas pessoas e as torna mais vulneráveis.

Então, se a gente juntar sinais mais essa situação de vida das pessoas que a gente conhece, que a gente gosta, que a gente convive, a gente pode talvez perceber um risco maior de suicídio.

Mas de novo, pessoal: é importante lembrar que em alguns casos a gente não tem todos esses sintomas, ou a combinação de todos esses sinais, e mesmo assim a pessoa pode agir de uma maneira mais impulsiva. 

Portanto, prestar mais atenção aos sinais que a pessoa emite, valorizar esses sinais, não menosprezar esses sinais, entender esses sinais no contexto de vida da pessoa pode ajudar você a perceber que alguém está em risco e que você, nesse momento, pode servir como uma ponte pra que essa pessoa busque algum tipo de apoio voluntário ou profissional. É isso aí.

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