Como lidar com expectativas e frustrações | Entrementes

A expectativa de uma vacina que previna o novo coronavírus e a frustração com o endurecimento da quarentena podem afetar a saúde mental. Assista ao vídeo.

Drauzio Varella é médico cancerologista e escritor. Foi um dos pioneiros no tratamento da aids no Brasil. Entre seus livros de maior sucesso estão Estação Carandiru, Por um Fio e O Médico Doente.

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A expectativa de uma vacina que previna o novo coronavírus e a frustração com o endurecimento da quarentena podem afetar a saúde mental. Assista ao vídeo a seguir.

 

 

Olá, pessoal! Bem-vindos a mais um vídeo do Entrementes. Muito legal tá aqui com vocês de novo pra falar de um tema muito importante: Como lidar com as expectativas que a gente tem pra esse final de ano, pro começo do ano que vem, em função da pandemia da covid-19 e da perspectiva de uma vacina que está chegando.

Pessoal, o que a gente tem percebido? Eu costumo dividir a pandemia em três fases: a fase inicial, em que a gente teve que se adaptar rapidamente a uma mudança brusca das nossas vidas; depois uma fase de adaptação, uma fase de acomodação em que a gente se acostumou com a vida que a gente podia ter no momento; e aí uma terceira fase, que eu acho que essa é a fase em que a gente está hoje, que é essa fase em que a gente começou a trabalhar um processo de desconfinamento, de flexibilização das medidas de restrição de contato social. Porque as pessoas, enfim, estavam cansadas, estavam estressadas, estavam ansiosas por mudanças e aí elas começaram a sair de casa, a pandemia parecia estar num momento um pouco mais tranquilo.

Só que essa saída, esse desconfinamento aconteceu de uma maneira inadequada, e a gente assistiu e tem assistido um aumento importante do número de casos e novamente do número de mortes por causa do novo coronavírus.

Então, é uma situação complicada nesse momento, que a gente tem curvas ascendentes. Ao mesmo tempo, há um cansaço, há uma estafa das pessoas em relação a esse momento que a gente tá vivendo, esses meses todos que a gente tá vivendo. Já são mais de nove meses de pandemia no mundo e aqui no Brasil, também.

E aí, a gente começa a ver notícias de países que iniciaram seus processos de vacinação: Reino Unido, Canadá, Estados Unidos nessas últimas semanas. A China e a Rússia já vinham vacinando parte da sua população também aí nos últimos meses.

E aí, no Brasil, a gente se dá conta que a vacina ainda não chegou, talvez chegue em janeiro, há uma série de discussões ainda políticas, ideológicas e pseudocientíficas sobre a questão das vacinas. Então, a gente vê a população ainda bastante dividida, alguns resistentes à possibilidade do uso da vacina e outros ansiosos, angustiados – entre os quais eu me incluo – pra que a gente possa receber essa vacina o mais rápido possível, pra que a gente tenha uma proteção muito importante em relação a esse vírus que transformou profundamente a nossa forma de viver.

Veja também: Como lidar com a flexibilização na pandemia | Entrementes

E aí, pessoal, como lidar com as expectativas de um ano novo que tá começando? O calendário vira, mas a situação continua muito parecida com o que a gente tem visto nas últimas semanas. Se as pessoas não respeitam as medidas de isolamento social, se as pessoas não usam máscaras, se as pessoas não evitam aglomerações, se as pessoas não ficam em casa o máximo que elas puderem, a gente pode assistir essa manutenção dessa curva ascendente, o que é muito ruim.

Então, de um lado eu acho que a gente tem que lidar com esse cansaço e buscar força, buscar uma resiliência ainda maior na gente pra lidar com essas próximas semanas e esses próximos meses, porque é muito importante lembrar o seguinte, pessoal: Mesmo que a vacina chegue no Brasil em janeiro e que a gente comece a vacinar as pessoas em janeiro, é um longo período de tempo até que a gente consiga vacinar uma parcela significativa da população de modo a frear a transmissão do novo coronavírus.

Então, vão ser alguns bons meses – alguns falam meio do ano que vem, outros falam até final do ano que vem – até que a gente consiga ter essa imunidade presente na maior parte das pessoas. São duas doses, com intervalo de um mês.

Então, o que a gente recomenda é o seguinte: busque todas as forças, energias, resiliência que você tiver pra você poder chegar bem até o momento da vacina. Se você não se infectou ainda, evite se infectar, não acredite nessa história que todo mundo tem que se infectar. Não é bem assim. A gente não sabe o que vai acontecer durante uma infecção, então é importante que as pessoas evitem se infectar, que elas se protejam, protejam as pessoas que elas gostam, protejam a sociedade como um todo, esperem mais um pouco pelo seu momento adequado de vacinação.

É difícil lidar com a pandemia nesse momento depois de nove meses? É. É mais difícil do que lá no começo? É. Mas a gente tem que persistir, a gente tem que resistir, a gente tem que fortalecer aquelas pessoas que estão em volta da gente pra que elas também adotem medidas de segurança, de proteção em relação a elas mesmas, em relação ao grupo que as cercam. Tá bom, pessoal? Isso é muito importante.

A gente conta com você, conta com o seu comportamento. A gente sabe que a evolução da pandemia depende do comportamento de todos nós.

Então, olha, aproveitando aqui pra desejar um ótimo ano pra vocês e ainda com um pouquinho mais de paciência e de resiliência pelos meses que vêm pela frente. Tá bom? É isso aí. Muito obrigado!

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