Como a ciência funciona | Coronavírus #54

O novo coronavírus trouxe o debate sobre a ciência para as redes sociais. Afinal, os cientistas erraram as previsões sobre a pandemia? 

Drauzio Varella é médico cancerologista e escritor. Foi um dos pioneiros no tratamento da aids no Brasil. Entre seus livros de maior sucesso estão Estação Carandiru, Por um Fio e O Médico Doente.

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O novo coronavírus trouxe o debate sobre a ciência para as redes sociais. Afinal, os cientistas erraram as previsões sobre a pandemia?

 

 

Olá, meus amigos. Essa pandemia traz um monte de oportunidades de aprendizado. Pra ciência nem se fala, mas também pra política e pra nós mesmos, como indivíduos. Eu vejo muitas pessoas comentando que “uma hora tem estudo que mostra que cloroquina funciona, depois não”, “uma hora falam que máscara de tecido não serve pra nada, agora tem que usar em todos os lugares”, e coisas desse tipo.

Esse pensamento mostra o quanto a ciência NÃO faz parte da vida das pessoas. Esses exemplos que eu citei, são exemplos de como a ciência não sabe o que está fazendo? Não. São exemplos justamente de como a ciência funciona. Você vai lá, observa um fenômeno — no caso atual, o novo coronavírus –, vê o que ele faz, como age, analisa casos diferentes, testa um tratamento que por um conhecimento prévio tem boa segurança e chance de dar certo, vê o que acontece, testa outro tratamento e por aí vai.

Nesse caminho todo, a ciência encontra alternativas que não dão certo. Ou alternativas que parecem dar certo no início, mas que analisando mais detalhamente, na verdade não ajudam e podem até ser prejudiciais. Tudo isso é normal. Faz parte.

No começo da pandemia, a gente via doença, analisava o vírus, comparava com outros semelhantes, com doenças parecidas, e podia criar uma ideia da sua gravidade. Conforme a pandemia avançava, nós fomos recebendo mais informações. Como a doença age em crianças? E em idosos? E em quem já tem outras doenças? E nas grávidas? É uma doença que pega mais fácil que outras? Quem pega começa a ter sintomas quando? Antes de ter sintomas já transmite? Tudo isso foi acontecendo e em um determinado ponto a gente pôde fazer uma análise melhor: aquela nossa primeira ideia da potencial gravidade da covid-19 estava subestimada.

O que precisa ficar claro é que isso não é nenhuma vergonha. É justamente assim que a ciência funciona. Fazendo deduções embasadas no conhecimento científico prévio, testando hipóteses, descobrindo que deduções anteriores estavam equivocadas, identificando onde está o equívoco e corrigindo. Isso é ciência.

Esse é o aprendizado que a gente precisa ter. Caso contrário, sem a ciência como guia, a gente vai ficar só andando em círculos, como foi no passado, enquanto milhares morrem à nossa volta.

Veja também: O prejuízo dos boatos para a ciência | Esper Kallás

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