Como funciona a terapia hormonal para pessoas trans | Jonas Maria

Saiba como foi o processo de terapia hormonal para Jonas Maria, escritor, eduador e produtor de conteúdo sobre transexualidade.

Beatriz Zolin é jornalista e atua na Redação do Portal Drauzio Varella. Colabora principalmente com assuntos relacionados à saúde e sociedade, sexualidade e psicologia.

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A terapia hormonal serve para alterar a aparência física de pessoas trans durante a transição. Saiba como isso se deu na vida de Jonas Maria.

 

Jonas Maria é escritor e criador de conteúdo sobre gêneros e transexualidade. Quando ouviu falar na terapia hormonal, método que promove ou inibe mudanças físicas durante a transição de pessoas trans, ele teve dificuldade de encontrar um endocrinologista que topasse realizá-la. No interior de Minas Gerais, onde morava, a maior parte dos médicos não sabia fazer e indicava que ele buscasse ajuda na capital.

Sem dinheiro, ele tomou a decisão arriscada de começar a hormonização por conta própria. Mais tarde, encontrou um endocrinologista pelo SUS (Sistema Único de Saúde) que realizava o procedimento. Neste vídeo, ele conta como foi sua trajetória e os obstáculos que enfrentou na tentativa de alcançar as tão sonhadas mudanças no corpo.

Olá, pessoal, o meu nome é Jonas Maria, eu sou escritor e sou criador de conteúdo. Eu tenho um canal aqui no YouTube, onde eu falo sobre gênero, transexualidade e estudos.

A terapia hormonal, ela pode ou não fazer parte do processo de transição de uma pessoa trans. No caso, ela é quando a gente utiliza hormônios ou bloqueadores hormonais pra promover ou inibir mudanças físicas, né. Eu descobri as informações sobre a hormonização através da internet. Isso foi mais ou menos em 2013, 14, e, aí, eu fui pesquisar, comecei a investigar sobre e me deparei com a transexualidade, e esse também foi o meu primeiro contato com a hormonização, né. Posteriormente, eu me informei mais, através de sites, de alguns médicos também, mas, basicamente, meu primeiro contato, e muitas pessoas trans também têm esse primeiro contato através de outra pessoa trans falando sobre.

Quando eu decidi “ah, então, é isso que eu quero”, tive um momento de reflexão, de estudo, de entender que realmente eu queria testar isso, queria me hormonizar, eu morava no interior de Minas Gerais, era uma cidade muito pequena e eu liguei em absolutamente todos os endócrinos da minha cidade e nenhum deles queria me atender. Alguns falavam que não sabiam, outros diziam que não eram especializados naquilo e a maioria falava pra eu ir na capital e procurar lá um médico pra me atender.

Eu era estudante, eu não tinha condições financeiras de ir pra capital, né, pagar essa viagem de ida e volta e ainda pagar a médica no particular pra fazer isso, né. Cidade do interior é muito comum a gente ter médicos que não querem nos atender, que não entendem, que nunca atenderam uma pessoa trans. Então, existe também um despreparo médico muito grande.

Eu me hormonizei por conta própria. Eu comecei com uma dosagem mais baixa, já considerando que era uma coisa muito delicada e é um processo muito perigoso, né, de certo modo. Então, eu fiz essa hormonização por conta, com uma dose mais baixa, e, posteriormente, aí, sim, no SUS da minha cidade, quando eu fui a primeira vez não tinha, eles não tinham um endócrino pra me atender, mas, depois, um outro médico, que não era também, que nunca tinha atendido pessoas trans, começou a atender e ele foi que me deu esse suporte, né. E, infelizmente, isso é muito corriqueiro, né, dentro da comunidade.

Pra você começar a terapia hormonal, você precisa procurar um endocrinologista, né, esse é o médico por excelência que vai te atender. Alguns endócrinos, eles exigem um laudo psicológico. Até pouco tempo, todos os endócrinos, era exigido que você apresentasse o laudo e, de certo modo, ainda é, mas a gente tem visto uma mudança, dentro da medicina mesmo, com todos os debates que têm sido feitos, pra facilitar, tirar toda essa burocracia do processo de transição.

Ter uma rede de apoio nesse momento, eu acho que é fundamental. Eu acho que é muito importante quando a gente tem o apoio familiar, de amigos, de pessoas, né, que a gente gosta e quer bem, porque você se sente mais seguro, você se sente mais amado e sente que você realmente tem o suporte nesse momento, que é muito divertido, é muito gostoso, mas também traz muitos medos, né, a gente fica receoso.

Eu tinha uma visão muito limitada sobre mim, eu não interagia bem com o meu corpo, eu era muito alienado de mim mesmo e, quando meu corpo começou a mudar, comecei a ficar muito mais confiante, comecei a gostar mais de mim e de perceber que, de fato, aquilo era o que eu queria e era uma experiência que eu precisava passar. Então, pra mim, foi um grande marco na minha vida, né, de antes e depois da hormonização.

É claro que aqui eu tô falando por mim, mais uma vez, nem toda pessoa trans tem a hormonização como o centro ou como o início da sua transição. Muitas pessoas trans, elas não vão tomar, seja por uma questão de saúde, nem todas podem, seja por uma questão de dinheiro, uma questão financeira, nem todo mundo tem acesso, afinal, é uma coisa que você precisa manter e algumas pessoas simplesmente não querem.

Pra quem tem interesse em se hormonizar, existem dois aspectos da hormonização, né: a gente tem o aspecto biológico, né, que são as mudanças físicas, e também a gente tem o aspecto social. Quando a gente começa a se hormonizar e a nossa aparência começa a mudar, a forma como as pessoas nos percebem e nos leem muda também. É muito diferente pra mim ser lido como homem por pessoas que não conhecem minha história. É a mudança desejável, que a gente quer que as pessoas nos percebam como a gente é, mas ao mesmo tempo existe esse estranhamento, e a gente é colocado em um outro lugar, né, socialmente falando. Então, a gente vai ser percebido e tratado de modo diferente do que a gente tá acostumado e do que a gente é.

Então, eu acho que é importante ter essas duas reflexões, né, e ter ciência dessas mudanças antes de começar com a hormonização. E, uma vez que você tá ciente e tipo “ah, é isso mesmo que eu quero”, então, não tem erro.

Veja também: Como funciona a hormonioterapia para mulheres trans

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