Dr. Jairo Bouer fala sobre como a pandemia tem afetado a saúde mental da população e como temos nos adaptado a cada fase. Assista ao vídeo.
Olá, pessoal. E nesse mês o Entrementes fala de um tema um pouco mais amplo. A gente quer focar na situação emocional, na saúde mental das pessoas 7 meses depois do início do isolamento social. A gente tem vivido 7, quase 8 meses de pandemia, e como será que anda a vida das pessoas do ponto de vista emocional?
Pois é, pessoal. Eu queria contar pra vocês que a gente consegue, grosso modo, fazer aí uma divisão em três grandes períodos dessa pandemia. A primeira parte, o primeiro período, foi o período inicial em que a gente teve que mudar a nossa rotina de ponta-cabeça. Tudo mudou de uma hora pra outra, e a gente precisou ficar muito mais tempo dentro de casa, muito mais isolado, sem saber direito o que ia acontecer. Então essa fase inicial, essa fase de adaptação trouxe uma série de impactos, inseguranças, medos, incertezas, transtornos de ansiedade, transtornos depressivos pra vida de muita gente, principalmente quem já tinha um histórico de uma dificuldade com a saúde mental.
Depois a gente passa por um segundo período em que há uma certa estabilização, as pessoas se acostumam com o novo jeito de viver. Elas criam uma rotina dentro da nova rotina, elas se adaptam um pouco mais a ficar em casa, elas começam a entender e perceber as dificuldades de ficar em casa junto com os filhos, junto com os parceiros, quem mora sozinho sentiu as dificuldades de lidar com esse isolamento ainda maior dos amigos e familiares. Enfim, né, foi um período de adaptação. Receios, medos, inseguranças, dificuldades continuaram acontecer, mas havia aí um certo equilíbrio, havia uma certa normalidade dentro dessa nova rotina.
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Então, a gente passa pro terceiro período, que eu acho que é o período que a gente tá vivendo, a maior parte de vocês deve tá vivendo, que é essa negociação com essa nova flexibilização que a gente tá tendo. As pessoas começam a sair um pouco mais de casa, as pessoas começam a flexibilizar um pouco mais esse isolamento, esse distanciamento social. De um lado existe uma força, uma pressão que as pessoas não aguentam mais ficar em casa. De outro lado, existe o receio, existe o medo de se infectar, de trazer o coronavírus pra dentro de casa, de infectar outras pessoas. Então existe uma certa ambiguidade nesse desejo de sair mas com medo, com receio, apesar dos cuidados. Então existe uma certa ambiguidade emocional nesse momento.
E aí a gente voltou a ver mais transtornos emocionais. As pessoas voltaram a ficar ansiosas, as pessoas voltaram a descompensar mais, por conta dessas dificuldades, por contas dessas inseguranças, e por não saber exatamente como lidar com essa nova fase. Essa fase vai exigir o que a gente chama de uma gestão de risco. A pessoa vai ter que aprender a modular os riscos a que ela se expõe, entender esses riscos, e muitas vezes, dentro da sua própria casa, ou dentro da sua rotina, tem que se isolar um pouco em função de eventuais exposições. Então acho que é um período novo, é um período de transição novamente, como foi o primeiro período, e muitos profissionais de saúde mental têm visto situações um pouco mais complexas, um pouco mais complicadas, um pouco mais intensas nesse momento. De novo, imagino que a gente vai passar por um novo momento de estabilização dentro dessa fase, até que a gente consiga entender melhor o que tá acontecendo.
Lembrando, pessoal: O coronavírus é uma coisa muito nova, a gente tá aprendendo no caminho, e a gente possivelmente, da mesma forma que a gente aprende, acumula evidências científicas, a gente também vai percebendo tendências mais claras de comportamento ao longo do caminho, tá bom? É sobre isso que a gente fala esse mês, então não perca a oportunidade de entender um pouquinho melhor o que que pode estar acontecendo com a sua saúde mental e com a saúde mental das outras pessoas, também. É isso aí.
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