Qual a diferença entre PrEP e PEP? Elas protegem contra outras doenças, além da infecção pelo HIV? Quais outros métodos podem ser utilizados? Entenda esses e outros pontos sobre esses medicamentos.
“PrEP e PEP são duas estratégias medicamentosas de prevenção da infecção pelo HIV que atuam em momentos diferentes da cadeia de transmissão: antes ou após a exposição ao vírus”, explica André Bon, infectologista do Hospital Brasília, Head de Infectologia da Rede Dasa de Hospitais e membro do Comitê Técnico Assessor para Terapia Antirretroviral em Adultos do Ministério da Saúde.
A PrEP é utilizada de maneira preventiva por pessoas em risco contínuo de exposição ao HIV, enquanto a PEP é indicada após uma possível exposição ao vírus, sendo uma opção de emergência que deve ser iniciada em até 72 horas após a prática sexual. Ambos são medicamentos antirretrovirais, ou seja, remédios usados para tratar infecções por retrovírus, que suprimem a replicação do vírus no organismo e ajudam a controlar a progressão da infecção.
O dr. Bon esclarece que “a PrEP é uma estratégia medicamentosa em que o indivíduo com alto risco de infecção pelo HIV usa o remédio de forma contínua ou episódica para evitar a transmissão do vírus em caso de exposição de risco”. Ele destaca que, embora no Brasil a PrEP seja oferecida apenas em comprimidos, “já existem outras estratégias com medicações injetáveis implementadas em outros países ou em fase de estudos clínicos”.
A PEP, por sua vez, atua de forma diferente: “[A medicação] precisa ser iniciada o quanto antes, no máximo em até 72 horas, sendo mais eficaz quanto mais precocemente for iniciada”, explica o dr. Bon. Ela deve ser tomada de forma ininterrupta por 28 dias.
No entanto, é importante ressaltar que nem a PrEP nem a PEP oferecem proteção contra outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como sífilis, gonorreia e clamídia.
Prevenção combinada
O conceito de prevenção combinada se baseia na integração de diferentes medidas de proteção, adaptáveis a cada situação de risco e a diferentes populações. Essa abordagem é representada graficamente pela mandala da prevenção, que reúne diversas ferramentas, como explica Alexandre Schwarzbold, médico infectologista, professor de medicina da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). “A mandala reúne profilaxia pós-exposição, profilaxia pré-exposição, vacinas para HPV e hepatite B, diagnóstico de outras ISTs, uso de preservativos, tratamento das pessoas que vivem com o vírus, incentivo à autotestagem e prevenção da transmissão de mãe para bebê. Tudo isso compõe a prevenção combinada.”
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Máquinas de PrEP e PEP no metrô de São Paulo
Em uma ação pioneira, a cidade de São Paulo instalou máquinas automáticas de distribuição de PrEP e PEP em algumas estações do metrô, como parte de uma iniciativa da Secretaria Municipal da Saúde. A primeira dessas máquinas foi inaugurada na estação Vila Sônia, na Linha 4-Amarela, com planos de expansão para outras estações estratégicas, baseadas em dados epidemiológicos.
O projeto visa facilitar o acesso a esses medicamentos para populações vulneráveis, como a comunidade LGBTQIA+, de forma rápida e discreta. O processo de retirada é simples: o interessado passa por uma teleconsulta via o aplicativo e-saúdeSP, obtém a prescrição médica e, com o QR code gerado, retira a PrEP ou PEP diretamente na máquina, juntamente com um kit de autoteste de HIV.
O dr. Schwarzbold vê com bons olhos essa inovação: “Sou favorável a essa ideia de facilitar o acesso [à PrEp e PEP], com o controle adequado via consulta online e registro”, afirma. Ele destaca, no entanto, a importância do acompanhamento médico para garantir o uso adequado dos medicamentos e como essa iniciativa pode ajudar a “controlar a transmissão e a epidemia”.
Conscientização
Apesar dos avanços na prevenção do HIV, é crucial lembrar que o uso de preservativos ainda é uma das principais formas de evitar a transmissão de outras ISTs. “Não existe um só método de prevenção de todas as ISTs”, enfatiza o dr. Bon.
A adesão à PrEP também requer conscientização sobre os limites dessa ferramenta. “É fundamental que a pessoa entenda o que significa essa estratégia e como gerenciar seu próprio risco”, ressalta o dr. Schwarzbold. “Uma questão importante é avaliar o entendimento e a motivação das pessoas para o uso da PrEP. Ou seja, quem é candidato ao uso de PrEP deve compreender o que significa essa estratégia e como ela impactará sua vida, para que possa gerenciar seu risco de infecção. Além disso, é necessário motivar o indivíduo para o uso. Essa análise de elegibilidade deve ser feita com um forte vínculo de confiança entre o paciente e o profissional de saúde”, conclui.
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