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Sexualidade

Mortes por aids: elas ainda acontecem?

Mesmo que o tratamento para o HIV tenha diminuído o risco de morte por aids, alguns grupos ainda estão vulneráveis.
Publicado em 10/03/2023
Revisado em 14/03/2023

Mesmo que o tratamento para o HIV tenha diminuído o risco de morte por aids, alguns grupos ainda estão vulneráveis.

 

Hoje, a infecção pelo HIV já não é mais uma sentença de morte. Se, nos anos 1980, era comum que várias celebridades se tornassem vítimas da epidemia da aids, hoje é muito mais raro ouvir falar de alguém que faleceu por causa da doença. Mas o que isso significa? Será que as pessoas realmente não morrem mais de aids?

 

Diferença entre a infecção pelo HIV e a aids

A primeira coisa a esclarecer sobre o assunto é que a infecção pelo HIV é diferente da aids, a síndrome da imunodeficiência adquirida. 

“A infecção por HIV significa que existe a presença do vírus no organismo. Já a aids acontece conforme esse vírus vai se multiplicando na circulação sanguínea e destruindo as células de defesa, principalmente os linfócitos CD4. Quando a contagem desses linfócitos está abaixo de 350 células, o paciente fica vulnerável a apresentar infecções oportunistas. Logo, tem aids”, explica a dra. Marianna Bezerra, infectologista no Centro de Testagem e Aconselhamento de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

 

Mais infecções, menos mortes

Tendo em mente essa diferença, é preciso saber que, de acordo com o último Boletim Epidemiológico de HIV/AIDS, entre 2011 e 2021, o número de infecções por HIV aumentou 198%, passando de 13,7 mil para 40,9 mil. 

Por outro lado, os casos de aids diminuíram 18,5%, caindo de 43,2 mil para 35,2 mil no mesmo período. Como consequência, os óbitos também reduziram em 7,5%, indo de 12,1 mil para 11,2 mil.

O que explica essa aparente contradição é o avanço no tratamento. Enquanto na década de 1980 os pacientes que viviam com HIV precisavam tomar um coquetel de medicamentos que, muitas vezes, não conseguiam combater o avanço da doença, hoje são necessários apenas dois comprimidos para o tratamento, bem mais eficiente e acessível.

“Inicialmente, as medicações que a gente tinha eram pouco eficazes e apresentavam vários efeitos colaterais associados. Por isso, a gente só indicava para pacientes nos estágios mais avançados da aids. Com a chegada de novos medicamentos, temos introduzido o tratamento precocemente. Hoje, o paciente faz o diagnóstico e a gente já prescreve a medicação”, conta a dra. Marianna.

Dessa forma, em pouco tempo, o vírus é controlado. Ou seja, o risco de evoluir para casos de aids e até óbito diminui consideravelmente, mesmo que a disseminação do vírus tenha aumentado.

Veja também: Pessoas soropositivas são obrigadas a contar que vivem com HIV?

 

Homens jovens na mira

No entanto, entre os grupos analisados pelo Boletim Epidemiológico, o único que apresentou um aumento nas notificações da aids foram homens de 14 a 29 anos. Enquanto a média brasileira foi de queda, esse perfil em específico apresentou um aumento de 20%. Em 2011, eram 6,6 mil casos; e, em 2021, 7,9 mil.

“A gente tem um grande desafio que é a conscientização dos jovens. Talvez pelo fato deles não terem vivido a epidemia do HIV ou até pela facilidade de acesso ao tratamento, eles acham que, se tiverem a infecção, vão conseguir se tratar com tranquilidade. Isso os coloca em uma situação de vulnerabilidade”, opina a infectologista.

A partir de 2010, a diferença entre gêneros também chamou a atenção. A relação de 15 casos de aids entre homens a cada 10 casos entre mulheres cresceu, chegando a 36 no sexo masculino a cada 10 no sexo feminino. Segundo a dra. Marianna, isso tem a ver com o aumento da detecção precoce da infecção durante o pré-natal das gestantes, prevenindo casos de aids nas mulheres e também por transmissão vertical (da mãe para o feto).

“Uma outra coisa importante é que a gente teve um predomínio de infecções em homens heterossexuais, principalmente acima dos 40 anos. O que também pode ser justificado por aquela velha ideia equivocada de que o HIV é uma condição que afeta apenas homens que fazem sexo com outros homens”, lembra a médica.

Por fim, não podemos deixar de falar da população negra. Enquanto na população branca os casos de mortes por aids caíram 20,8%, entre pretos e pardos, os índices cresceram em 10,3%. Esse aumento está relacionado à dificuldade de acesso aos serviços de saúde pelo grupo, que enfrenta barreiras na prevenção, diagnóstico e tratamento.

 

Metas globais para o futuro

Na tentativa de melhorar esse cenário, em 2021, diversos países assinaram a Declaração de Paris, proposta pela Unaids, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids. O documento propõe três metas globais que ficaram conhecidas como 95-95-95. Até 2030, o objetivo é:

  • Que 95% das pessoas soropositivas saibam do seu diagnóstico;
  • Que 95% das pessoas soropositivas que saibam do seu diagnóstico estejam em tratamento regular;
  • E que 95% das pessoas soropositivas que saibam do seu diagnóstico e estejam em tratamento regular alcancem a carga viral indetectável/intransmissível.

“Eu acredito que o nosso grande desafio seja em relação às pessoas que vivem com o HIV, mas não aceitam o diagnóstico. Porque, uma vez que elas aceitam e fazem o tratamento de forma adequada, elas vivem super bem. O HIV é uma infecção que ainda não tem cura, mas tem um bom controle”, ressalta a dra. Marianna.

Veja também: Em que pé estamos no combate à aids?

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