Brasileiros enfrentam dificuldades para ter acesso a cirurgia oncológica

Desigualdade na distribuição de recursos e serviços, além da escassez de cirurgiões oncológicos são um dos principais motivos.

Três médicos operando em uma sala de cirurgia, local mais sujeito a ocorrências de sepse.

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Publicado em: 11 de abril de 2024

Revisado em: 11 de abril de 2024

Desigualdade na distribuição de recursos e serviços, além da escassez de cirurgiões oncológicos são um dos principais motivos.

 

Atualmente, apenas 25% dos pacientes conseguem receber um tratamento cirúrgico adequado antes do câncer evoluir. Além disso, cerca de 25% das mortes nos últimos anos poderiam ter sido evitadas pela melhoria do acesso à cirurgia. 

Os dados apresentados são do estudo Global Cancer Surgery: pragmatic solutions to improve cancer surgery outcomes worldwide, um levantamento multicêntrico, publicado em dezembro de 2023, realizado pelo programa de Comissões da Lancet Oncology, resultado do trabalho conjunto por três anos de mais de 50 líderes globais em cirurgia oncológica – entre eles, cirurgiões oncológicos da SBCO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica).

Neste trabalho, a Comissão sobre Cirurgia Global recomendou para o ano de 2030 uma taxa-alvo de 5 mil procedimentos por 100 mil habitantes para alcançar os resultados desejados na saúde da população. No entanto, conforme o novo relatório publicado, a expectativa é que mais de 70% das pessoas ainda viverão em áreas com capacidade cirúrgica insuficiente em 2035.

 

Veja também: Câncer pode se tornar uma doença crônica?

 

Causas

 

O médico Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da SBCO, titular do Hospital de Base de Brasília e um dos autores do estudo, explicou sobre os principais gargalos que levam à dificuldade de acesso a cirurgias oncológicas no país. 

No SUS, um dos maiores desafios é a desigualdade na distribuição de recursos e serviços, concentrados majoritariamente em grandes centros urbanos. Isso significa que pacientes em áreas remotas ou menos desenvolvidas enfrentam dificuldades adicionais, como a necessidade de longas viagens para centros de tratamento, aumentando ainda mais as barreiras de tratamento”, diz ele. 

Enquanto que no Sudeste do país há as chamadas ilhas de excelência, que concentram hospitais públicos e privados de ponta, além de uma maior concentração de cirurgiões oncológicos, resultando num acesso mais rápido, pacientes que estão em outras partes do país chegam a passar meses para ter acesso a cirurgia ou precisam ser transferidos para outras unidades. 

No setor privado, embora o acesso a serviços seja geralmente mais rápido, existem desafios relacionados ao alto custo dos tratamentos e à cobertura limitada de planos de saúde que podem excluir procedimentos específicos ou impor restrições. 

 

Impacto

 

A cirurgia tem um papel crucial no tratamento oncológico e mais de 80% das pessoas diagnosticadas com a doença terão de ser submetidas a algum procedimento cirúrgico, seja de diagnóstico, prevenção ou reconstrução. Em alguns casos, representa a principal ou única chance de cura para o paciente, além de ajudar no alívio da dor, como em casos de remoção de metástases (quando o câncer inicial já se espalhou para outras regiões do organismo).

“A espera prolongada pela cirurgia pode permitir que o câncer avance para estágios mais difíceis de tratar, reduzindo as chances de sucesso do tratamento. Além dos impactos diretos na progressão da doença, a espera por tratamento pode causar ansiedade e estresse significativos aos pacientes e suas famílias, afetando negativamente sua qualidade de vida e bem-estar psicológico”, complementa Nascimento. 

Na opinião do médico, é fundamental desenvolver estratégias que minimizem essas barreiras, promovendo a equidade no acesso ao tratamento cirúrgico oncológico e melhorando os resultados para os pacientes em todo o país.



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