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Neurologia

Botox pode ser utilizado no tratamento de doenças neurológicas

Publicado em 10/09/2024
Revisado em 17/09/2024

Do alívio de espasmos à melhora na mobilidade, o botox se destaca como aliado no tratamento de doenças neurológicas.

 

A toxina botulínica, popularmente conhecida como botox, tem uma aplicação ampla no campo da medicina, que vai além do uso estético. Ela já é usada em condições como a paralisia facial, enxaqueca e bruxismo, mas seu papel no tratamento de condições neurológicas, como distonias, espasticidade (contração excessiva dos músculos ou reflexos excessivos involuntários dos tendões musculares) e complicações resultantes de paralisia cerebral, acidente vascular cerebral (AVC), traumatismo craniano e medular, oferece uma alternativa terapêutica eficaz e segura.

No entanto, o seu uso exige uma abordagem criteriosa por parte dos profissionais, uma vez que cada caso possui suas particularidades e desafios específicos.

Veja também: Uso de botox vai além da estética

A ação da toxina no tratamento de condições neurológicas ocorre na junção neuromuscular, promovendo o relaxamento dos músculos rígidos, responsáveis por causar dor e limitações aos pacientes. De acordo com Marcos Leonardo Condé, neurologista especialista no uso de botox para tratamento neurológico, a substância melhora a mobilidade dos pacientes, reduz o risco de lesões articulares e facilita o cuidado por parte dos profissionais de saúde e cuidadores.

Esses benefícios são particularmente visíveis em pacientes com espasticidade (uma condição de rigidez muscular frequente após AVCs, lesões medulares ou traumatismos crânio-encefálicos) e distonias, caracterizadas por contrações musculares involuntárias.

A espasticidade é especialmente prevalente em pacientes com sequelas de AVC, paralisia cerebral ou lesões traumáticas. A toxina oferece um alívio significativo ao reduzir a rigidez muscular, promovendo uma melhor qualidade de vida.

 

Paralisia cerebral

A paralisia cerebral, uma condição decorrente de lesões cerebrais em fases precoces da vida, também é um dos campos em que o uso do botox tem mostrado grande eficiência. “No caso da paralisia cerebral, em que a espasticidade é uma complicação comum, a toxina botulínica facilita a mobilidade, reduz as lesões articulares e potencializa os resultados de intervenções fisioterapêuticas”, destaca o dr. Condé.

Nesses casos, a toxina atua diretamente nos músculos afetados, proporcionando relaxamento e facilitando a reabilitação. Além disso, ao reduzir a rigidez, ela auxilia em ações consideradas básicas no nosso dia a dia, como na higiene e na troca de roupas, um fator importante para os cuidadores e para os indivíduos com essa condição.

Contudo, o uso dessa substância não é isento de risco, sendo fundamental que o neurologista responsável tenha ampla experiência no manuseio e conhecimento sobre reabilitação. “Quando a indicação é criteriosa, o risco de efeitos colaterais é pequeno”, complementa.

 

Acidente Vascular Cerebral (AVC)

Pacientes que sofreram AVC também se beneficiam amplamente do uso de botox, especialmente aqueles que desenvolveram espasticidade. “Estima-se que um em cada três pacientes pós-AVC desenvolve essa condição, e o uso precoce da toxina pode fazer uma grande diferença na reabilitação.”

O dr. Condé ainda acrescenta que ao relaxar a musculatura rígida desses pacientes, o botox não apenas melhora a mobilidade, mas também alivia a dor e reduz a tensão sobre as articulações, minimizando o risco de lesões adicionais. Ele ainda ressalta que a toxina botulínica deve ser utilizada em conjunto com outras abordagens terapêuticas, como a fisioterapia e a terapia ocupacional, para otimizar os resultados.

 

Traumatismo craniano e medular

No caso de traumatismos crânio-encefálicos (TCE), o botox também tem papel relevante, especialmente quando o paciente desenvolve espasticidade como consequência das lesões motoras. “A espasticidade é o principal sintoma tratado com botox nesses pacientes, e quanto mais cedo o tratamento for iniciado após o surgimento da condição, melhores serão os resultados”, destaca Condé.

Da mesma forma, em pacientes com lesão medular, a toxina botulínica tem se mostrado eficaz no alívio de espasmos musculares, facilitando intervenções terapêuticas e o manejo do dia a dia. “O relaxamento muscular promovido facilita, por exemplo, a transferência de pacientes da cadeira de rodas para o leito, além de melhorar o desempenho em sessões de fisioterapia”.

Assim como nas outras condições, o neurologista explica que essa abordagem também deve envolver fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais para formar a equipe multidisciplinar durante a reabilitação.

 

O futuro do botox na rede pública e particular

Ainda que a toxina botulínica tenha demonstrado benefícios consideráveis no tratamento dessas condições neurológicas, alguns desafios permanecem. O principal deles, segundo o especialista, é a limitação de acesso ao tratamento. “Ainda somos carentes em profissionais capacitados para aplicar toxina botulínica em doenças neurológicas, e o custo do medicamento continua sendo um fator limitante, apesar de o Sistema Único de Saúde (SUS) fornecer o tratamento para as indicações citadas”, comenta o dr. Condé.

Além disso, os planos de saúde também são obrigados a cobrir o tratamento, o que amplia o acesso, mas não elimina completamente as barreiras.

O futuro do uso de botox em doenças neurológicas é promissor. Com uma vasta literatura científica corroborando seus benefícios e uma demanda crescente, é esperado que essa opção de intervenção ganhe ainda mais espaço. “O potencial de crescimento é enorme, uma vez que há uma grande população de pacientes que poderiam se beneficiar, mas que ainda não têm acesso ao tratamento”.

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