Pulmões, cérebro e coração são alguns dos órgãos onde a endometriose pode se desenvolver em casos mais raros. Saiba mais.
A endometriose acontece quando o tecido que reveste o útero cresce fora dele. Na maioria das vezes, ele aparece na região pélvica, ovários, tubas uterinas ou intestino. Mas também pode acometer órgãos mais distantes, como o pulmão, o cérebro e até o coração.
O que é a endometriose e como ela surge?
O endométrio, tecido que reveste a cavidade uterina, é responsável pela implantação do embrião quando há uma gravidez. Se não existir fecundação, ele descama e dá origem ao sangue da menstruação. Quando há a presença de um tecido semelhante ao endométrio em localização extra-uterina, acontece a endometriose — doença benigna que causa dor e irregularidade menstrual. Porém, as causas ainda são desconhecidas.
“Existem diversas teorias. Há uma teoria chamada de menstruação retrógrada, em que o sangue da menstruação, além de sair pela vagina, também cairia dentro da barriga do paciente através das tubas uterinas”, explica o ginecologista e obstetra Patrick Bellelis.
No entanto, a menstruação retrógrada ocorre em torno de 85% das mulheres em vida reprodutiva, enquanto a endometriose acomete apenas de 10 a 15% das mulheres. Portanto, segundo o ginecologista, a explicação pode ter a ver com uma combinação de fatores que incluem questões genéticas, ambientais e até problemas no sistema imunológico.
Veja também: Dor exagerada pode ser endometriose
Quais órgãos podem ser afetados pela endometriose?
É mais comum que a endometriose apareça nos órgãos da pelve, vagina, ovário, bexiga, ureteres e intestino grosso. A explicação talvez esteja no fluido peritoneal, um líquido que banha toda a cavidade abdominal e permite a movimentação dos órgãos na região:
“Como a gente não sabe a causa propriamente, a gente também não sabe como acontece de ter endometriose em um local ou em outro. A menstruação retrógrada é uma explicação, mas o sangue cai na pelve e não em localização extra uterina. Por outro lado, o fluido peritoneal tem um movimento semelhante ao do relógio. E aí a gente teria, por exemplo, a possibilidade de acúmulo desse sangue, explicando também o acometimento da endometriose nessas regiões”, segundo o dr. Patrick.
Mas a doença também afeta locais mais distantes, como pulmão, diafragma, coração e cérebro. Outra teoria que poderia explicar o fenômeno é a metaplasia celômica. Isto é, a mulher já nasceria com implantes do tecido em outros locais, possibilitando o desenvolvimento da endometriose ao longo da vida.
Quais são as complicações da endometriose em cada órgão e como tratar?
De acordo com o especialista, o crescimento da endometriose pode comprometer a função do órgão atingido total ou parcialmente.
“Se eu tiver uma obstrução do ureter, eu posso ter um comprometimento da função urinária, inclusive uma falência renal. Se tiver uma obstrução do trato digestório, é a mesma coisa. A mulher pode ter hemoptise catamenial, que são tosses com sangramento na época da menstruação. Ela pode ter derrame pleural, ou seja, o acúmulo de sangue entre a pleura e o pulmão. Varia de caso a caso”, elenca o médico.
O tratamento depende dos sintomas e da localização das lesões. Em pacientes assintomáticas sem comprometimento da função do órgão, é possível tratar com métodos hormonais que visam impedir o crescimento das lesões. Já em outros casos, pode ser necessário tratamento cirúrgico para remoção do tecido, contando com a ajuda de uma equipe multidisciplinar — cirurgião do aparelho digestivo, cirurgião torácico, cirurgião cardíaco, urologista, entre outros.
Veja também: Endometriose: por que o diagnóstico é difícil e demorado?