Depressão no climatério

A queda de hormônios que antecede a menopausa aumenta o risco de desenvolver sintomas depressivos, mas fatores físicos e ambientais também influenciam. Entenda na matéria.

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Publicado em: 13 de junho de 2022

Revisado em: 6 de janeiro de 2023

A queda de hormônios que antecede a menopausa aumenta o risco de desenvolver sintomas depressivos, mas fatores físicos e ambientais também influenciam. Entenda na matéria.

 

A menopausa é conhecida como um período de muitas transformações físicas, psíquicas e emocionais. Mas a verdade é que essas mudanças se iniciam antes da menopausa em si, no chamado climatério

O climatério é o período de transição entre a fase reprodutiva e a fase não reprodutiva. Nesse período, começam a se manifestar sintomas como as famosas ondas de calor (fogachos), sudorese, palpitações, ciclos menstruais irregulares, secura vaginal e também alterações no sistema nervoso. 

São essas alterações no sistema nervoso que aumentam o risco de desenvolvimento de sintomas e/ou episódios depressivos. 

Mas por que isso acontece?

Esse tema foi abordado pelo dr. Joel Rennó, diretor do Programa de Saúde Mental da Mulher do Instituto de Psiquiatria da USP e coordenador da Comissão de Saúde Mental da Mulher da ABP, no VII Simpósio Internacional de Neurociências da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

        Veja também: Quase metade das mulheres sofre de insônia após a menopausa

De acordo com os dados demonstrados pelo profissional, estudos de coorte mostram 45% a 68% de risco aumentado para desenvolvimento de sintomas depressivos no climatério (como humor deprimido, insônia, perda de prazer nas atividades, etc) quando comparado ao risco anterior ao período. Nesse caso, se fala em “sintomas depressivos” quando a pessoa apresenta um ou mais sintomas de depressão, mas não preenche critérios suficientes para o diagnóstico do quadro depressivo em si.

Já para mulheres que tiveram um episódio depressivo em algum momento da vida, o risco de desenvolver um episódio depressivo durante o climatério é de 2x a 4x vezes do que aquelas que nunca passaram por um quadro depressivo. 

 

Fatores de risco 

Mas embora a flutuação hormonal tenha um impacto grande na saúde mental da mulher, ela não é o único fator a definir o desenvolvimento da depressão ou não. O médico psiquiatra destaca que os fatores de risco são divididos em três categorias:

  • Biológicos: hormônios reprodutivos, genética, a relação entre genes X ambiente;
  • Psicossociais: traços de personalidade, eventos estressantes recentes, nível de suporte social, histórico de exposição a eventos traumáticos;
  • Saúde em geral: qualidade dos hábitos de vida, condições físicas, tabagismo, obesidade, transtornos psiquiátricos já existentes.

Além disso, a própria condição socioeconômica tem sua influência: mulheres em situação de desemprego e/ou baixa renda, baixa escolaridade e que fazem parte de alguma minoria social (ex: mulheres negras, LGBT+, PCD) tem essa vulnerabilidade aumentada. 

        Veja também: Entrevista sobre aspectos psicológicos da menopausa

 

Qual é o papel dos hormônios no sistema nervoso central?

Os estrógenos agem sobre a liberação de neurotransmissores essenciais para o funcionamento harmonioso do sistema nervoso central, como a serotonina. 

Além disso, a alopregnanolona – um neuroesteroide ligado à progesterona – age em determinadas estruturas do cérebro provocando um efeito ansiolítico e antidepressivo

Quando o nível da produção desses hormônios cai, o sistema nervoso central se desequilibra, o que provoca sintomas como irritabilidade, ansiedade, depressão e outras alterações de humor. 

Um ponto importante na investigação desses sintomas é, inclusive, a diferenciação entre os sintomas depressivos e do climatério em si, uma vez que são muito semelhantes, mas nem sempre respondem ao mesmo tratamento. 

        Veja também: Pré-menopausa: Por que ninguém fala disso?

 

Tratamento

Ainda não há um protocolo universal para o tratamento da depressão no climatério. Há estudos sendo desenvolvidos com a alopregnanolona, mas até o momento, o caminho é definido pela avaliação do médico. 

Há três opções mais tradicionais: o tratamento com antidepressivos que atuam sobre a serotonina (ISRS/IRSN), tratamento hormonal ou o tratamento que combina o uso de antidepressivos e hormônios. O dr. Rennó destaca que a terapia hormonal não deve ser indicada exclusivamente para o tratamento dos sintomas depressivos, uma vez que envolve uma série de possíveis efeitos colaterais que devem ser pesados pelo profissional em conjunto com a paciente. 

Se você se identificou com os sintomas, procure um profissional para avaliação.

        Veja também: Menopausa: quando a reposição hormonal é indicada?

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